Sebastião Almeida Oliveira nasceu na cidade de Monte Azul, Estado de São
Paulo, no dia 8 de março de 1904, vindo a ser batizado na Paróquia da mesma
cidade em 8 de maio do referido ano. Filho de José Almeida Oliveira e Augusta
Antônia de Jesus, agricultores, de nacionalidade portuguesa. Deste matrimônio
nasceram Basílio, Sebastião, Alice, João, Adélio, Samartinho e Júlio.
Cursou o primário na
escola “Modelo”, tendo como seu primeiro professor o Sr. José Cione. Em 1912,
com oito anos de idade, mudou-se com sua família para a zona rural, uma fazenda
chamada “Lusitânia”, agreste de Ribeirão Claro, atual Guapiaçu, na região de
São José do Rio Preto. Quando lá chegou, em carro de bois, ficou desolado
diante da mata rústica que era realidade difícil de encarar.
Os anos começaram a
desfilar paulatinamente, e, Sebastião Almeida Oliveira dedicou seu tempo ao
trabalho rude da lavoura e ao estudo à noite, pois, à míngua de instrução, fez
um curso de agrimensor por correspondência, pelas Escolas Internacionais de Buenos
Aires, com aulas em espanhol e, semanais, complementados por dois outros
cursos, também por correspondência, de inglês e português por escolas
nacionais.
Mas, nada obstante às
agruras do trabalho e sua satisfação de autodidata, alimentou ideias de alforria
do meio em que vivia. Solicitou a um amigo que encontrasse um negócio para a
troca de um cartório por uma hipoteca de imóvel rural com um advogado da cidade
de São José do Rio Preto. Após alguns dias, eis que surge, em sua casa, o seu
colega, e foi até à roça onde trabalhava para propor um negócio viável por uma
escrivaninha cartorial na cidade de Tanabi. Imediatamente, Sebastião Almeida
aceitou e, momentos decorridos, foi de auto até a cidade citada (Tanabi) onde
entrou em entendimento com o interessado e ainda o Cel. Militão Alves Monteiro
(chefe político), e demais membros do diretório político da cidade. Bem jovem
ainda, provindo do meio rural provinciano, onde até então vivia, sem contato
com a cidade, assumiu, ex abrupto o cargo de oficial do Registro Civil de
Tanabi, com funções de tabelião. Assumiu interinamente em 01 de setembro de
1927; em 10 de janeiro de 1928, tornou-se tabelião efetivo do Cartório de
Registro Civil de Tanabi por ato assinado pelo então Presidente de Estado, Dr.
Júlio Prestes de Albuquerque e pelo Secretário de Justiça, A.C. de Paula
Junior.
Na data de 30 de
setembro de 1930, contraiu núpcias com a Sra. Carmen Vargas (natural de
Taquaritinga, filha de João Vargas Manzano e Jacoba Manzano Ruiz) em regime de
comunhão universal, no Cartório local, perante o juiz de paz José Serafim da
Silva; termo 112, folha 133, livro B-7. O casal teve um filho e faleceu logo
após o nascimento; vindo posteriormente a adotar as filhas Luzia Pereira Coin,
casada com Santo Coin, e Sónia Maria Ramos, casada com Luiz Antônio Alves
Feijó.
O jovem moço, sempre à
procura de conhecimento, resolve estudar a língua esperantista; em 26 de agosto
de 1934, indaga sobre o esperanto ao Sr. Ismael Gomes Braga, escritor
esperantista de renomado nome na cidade do Rio de Janeiro. Na esperança de um
retorno, em 30 de agosto de 1934, recebeu a sua primeira carta e, juntamente, o
curso de esperanto, além de explicações e anotações a respeito. Entre idas e
vindas de correspondências, Sebastião Almeida em 01 de janeiro de 1935, começa,
realmente, a se aprofundar na língua esperantista da qual se tornou fervoroso
apologista e, nessa qualidade, exerceu posteriormente o cargo de delegado local
de várias entidades esperantistas. Ainda jovem, despertou curiosidades a
respeito de vários temas, sendo apaixonado pelo folclore, dedicando-se ao
estudo da geografia, história, ciências, dentre as quais se destaca a arte de
desenhar e fazer caricaturas.
Obras literárias
Neste trabalho, em 25 de fevereiro do ano de 1937, o autor aborda a origem; nomadismo; característica comum; a mulher; o casamento; tipos de habitação; gêneros de trabalho, o fogo e a roça; mezinhas; crendices; modo de cumprimentar; armas e armadilhas; o pilão; influência do mascate na vivência sertaneja.
Em dezembro do ano de 1938, o autor aborda aspectos geográficos e hidrográficos bem como as divisas do município de Tanabi.
Neste trabalho, em 25 de fevereiro do ano de 1937, o autor aborda a origem; nomadismo; característica comum; a mulher; o casamento; tipos de habitação; gêneros de trabalho, o fogo e a roça; mezinhas; crendices; modo de cumprimentar; armas e armadilhas; o pilão; influência do mascate na vivência sertaneja.
Em dezembro do ano de 1938, o autor aborda aspectos geográficos e hidrográficos bem como as divisas do município de Tanabi.
Publicou, em 1940, o livro “Expressões do Populário Sertanejo”, 219 páginas, edição da livraria Civilização Brasileira, que foi recebido com louvores pela crítica nacional. Nesse livro, o autor pesquisou tradições populares, superstições, parlendas, modismos, frases feitas e a gíria local e regional, uma fonte inesgotável de consulta.
Em 1942, lança a obra “Garcia Redondo” (admirado polígrafo da França moderna, engenheiro e romancista já olvidado), mediante o qual obteve ingresso na Academia de Ciências e Letras do Estado de São Paulo; esta publicação foi a tese de recipiendário. Garcia Redondo é o patrono da cadeira, na Academia, que Sebastião Almeida ocupou.
Em 1947, lança o “Cancioneiro Tanabiense”, publicação feita pela revista do Arquivo Municipal de São Paulo; nesta obra, o autor traduz expressões de cunho romântico e amoroso, ao passo que, na segunda parte, registra cantigas de escárnio e burla, eivadas de sadio humorismo e pandas de malícia; canções a um tempo jogralescas e sensatas resultam desabafos de quem sofreu ingratidões ou desenganos e, através de comparações e cotejos, que vão até ao insulto, entremostram estados de alma diversos por meio de imagens raras e perfeitas.
No ano de 1948, publica outra obra intitulada “Folclore e outros Temas”, pela editora Gazeta de Limeira S.A. Editora; na presente obra, o autor estudou ensaios temáticos sobre a nossa demopsicologia.
Por fim, em 1977, lança “Subsídios para a história de Tanabi”, edição da editora Grafik – assessoria e consultoria editorial – São Paulo. Neste tema, o autor descreve o fator histórico do município de Tanabi; suas origens, povoação, fundação etc.
Incansável na escrita, deixou no prelo outras obras literárias; mas não foi possível sua publicação, devido a falta de recursos financeiros para a concretização e efetivação junto ao domínio público. Ficaram para serem lançadas as seguintes obras: “Poranduba Folclórica”, “Notas de Leitura”, “Expressões do Populário Brasileiro”, “Estudos sobre Paremiologia” e “Conceito e Definição de Folclore”.
Em julho do ano de 2009, foi lançado o livro "Folclore, Memórias e História do Rio das Borboletas", através da Editora ASJ de Tanabi-SP, contendo 270 páginas, o livro aborda toda a vida de Sebastião Almeida Oliveira, aonde também é publicado obras inéditas com referência a cidade de Tanabi. Autor: Terso Marcel Mazza. Apoio - Prefeitura do município de Tanabi.
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Foi membro do Instituto
Histórico e Geográfico de São Paulo, Minas Gerais e Uruguaiana, na fronteira
sulina; fundador do jornal “O Município” de Tanabi; Membro da Sociedade de
Geografia do Rio de Janeiro, Buenos Aires e Washintgon; sócio da “União
Brasileira de Escritores”, Membro da Academia Brasileira de História; foi
escolhido titular da Academia Riopretense de Letras (na época, em fase de
organização, vindo posteriormente a não ser instalada); membro do Centro de
Estudos da Sociedade Brasileira de Estatística; sócio da Confraternidad
Universal Balzaciana, Montevidéo – Uruguai; membro da Sociedade de Etmografia e
Folclore de São Paulo; membro do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás;
membro do Centro de Ciências, Letras e Arte, de Campos; membro da Sociedade de
Geografia, Pen Clube do Brasil, membro da Sociedade dos Amigos de “Alberto
Torres”, do Rio de Janeiro; membro da National Geographic Society, de
Washington; membro do Institute of American Ideals, de Sundand Califórnia, USA;
membro da Associação Cultural, de Guiratinga, Mato Grosso; membro da Sociedade
Brasileira de Folk-Lore do Brasil, estado do Rio Grande do Norte; membro da
Associação Paulista de Imprensa e Associação
dos Profissionais de
Imprensa de São
Paulo;
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Jornais em que
Sebastião Almeida Oliveira escrevia: “O Pensamento”, da Capital Paulista; “O
Astro” semanário espiritualista, São Paulo, Capital; “O Foguete”, da cidade de
Mirassol; “O Município”, da cidade de Tanabi; “Correio de Mirassol”, da cidade
de Mirassol; “Cidade de Tanaby”; “A Garra” – Uberaba, Minas; “O Porvir”;
“Bálsamo”, da cidade de Bálsamo; “O Imparcial”, da cidade de São José do Rio
Preto; “Jornal do Estado”; “Jornal do Aluno”, São Paulo, Capital; “A
Vanguarda”, Cássia, Minas Gerais; “Vida Doméstica”, Rio de Janeiro; “A nota”,
Rio de Janeiro; “Jornal do Comércio”, Rio de Janeiro; “O Correio Paulistano”;
“Língua Auxiliar”, do Rio de Janeiro; “O Brasil Esperantista”, do Rio de
Janeiro; “A notícia”, de São José do Rio Preto; “A Folha”, de São José do Rio
Preto; “Cidade de Tabapuan”; “A República”, de Natal – Rio Grande do Norte; “A
Notícia”, de Campos – Estado do Rio de Janeiro; “Gazeta de Limeira”; “A
Cidade”, de São Carlos; “O Estado de São Paulo”, “O Eco de Estremoz”, Estremoz
– Portugal; “Cidade de Bragança”, da Bragança Paulista; “Comércio do Oeste”, de
Guiratinga- Mato Grosso; “Novo Mundo”, do Mato Grosso; “O Brasil Esperantista”,
“O Castanheirense” , de Castanheira de Pêra – Portugal; “Inter American
Contemporaries” – EUA; “Correio do Sul”, de Sorocaba; “O Arauto”, de Tanabi;
“Lavoura e Comércio”, de Uberaba; “A Tarde”, de São Carlos; “Correio Popular”,
de Campinas; “Jornal do Povo”, de São José do Rio Preto; “O Município”, de
Monte Azul; “Boletim Literário”, de Natal; “Letras da Província”, de Limeira;
“Diário da Região”, de São José do Rio Preto; “Correio Paulistano”, de São
Paulo; “Correio da Araraquarense”, de São José do Rio Preto; Jornal católico
“Folha Popular”, de Sorocaba; “A Gazeta de Votuporanga”, de Votuporanga; “A
Vanguarda” de Votuporanga; “Diário de Fernandópolis”, de Fernandópolis e “O
Ascensor”, de Jaboticabal.
Revistas: “O Templo”,
de São Paulo; “Revista Nova”; “Revista do Arquivo Municipal de São Paulo”;
“Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo”; “Língua Auxiliar”,
do Rio de Janeiro; “Universal”, de São Paulo; “Rio Pretana”, de São José do Rio
Preto; “Aura”, de Niterói, Rio de Janeiro; “Vamos Ler”; “Vida Social”, de
Bragança Paulista; “Casa de Cultura”, de São José do Rio Preto; “Rio
Esperantista”, do Rio de Janeiro; “Ilustração Brasileira”; do Rio de Janeiro;
“Centenário”, de São
José do Rio
Preto.
Escreveu nótulas
literárias para os livros “Os Reinos Naturais na Superstição Brasileira” e
“Superstições em Geral”, de Edmundo Krug; “Vocabulário Analógico”, de Firmino
Costa; escreveu “Subsídios para a História de Cosmorama”; “Subsídios para a
História de Votuporanga”; e colaborou com a história de Ibirá e Mirassol;
escreveu artigos para vários livros do escritor, José Lins do Rego; escreveu
vários artigos para os Boletins das Associações dos Serventuários de Justiça do
Estado de São Paulo e Estado de Minas; organizou vários estudos de Heráldica;
traduziu e resumiu os oitos volumes do livro “A Lei do Triunfo”, do filósofo
americano Napoleon Hill; traduziu o livro “How To Turn Failure Into Succes”, de
Harold Sherman; Elaborou centenas de monografias sobre variados temas
(Einstein, Dom Casmurro, Machado de Assis, Maçonaria etc.); proferiu várias
palestras em Tanabi, região e na capital paulista, abordando vários temas
(Educação Sexual, Judiciário, Literatura Nacional e Estrangeira etc.),
participou de vários congressos de escritores brasileiros; Sebastião Almeida
Oliveira foi um dos fundadores das cidades de Votuporanga e de Cosmorama,
estado de São Paulo. Autor do brasão de Votuporanga e autor do hino da cidade de
Cosmorama.
______ * ______
Leva o seu nome uma
escola na cidade de Votuporanga, situada na Rua Valdecir de Oliveira Guerra,
2960, bairro – Jardim Alvorada, por indicação do Prof. José Carlos Rossato;
recebeu o título de cidadão Votuporanguense; recebeu o título de cidadão
Tanabiense, leva o seu nome a Biblioteca Municipal de Tanabi, através do
decreto 514/84 ; recebeu a medalha cultural comemorativa “Mário Dedini” do
Centro de Folclore de Piracicaba; proferiu várias palestras e conferências na
Rádio de Tanabi, Canal 8, Rádio Tupy de São Paulo; foi chefe de gabinete, por
vários anos, da municipalidade de Tanabi; discursou em várias solenidades; foi
homenageado pela 23a. Exposição Agropecuária de Fernandópolis; foi soldado
constitucionalista; foi homenageado pela C.E.E.S.P S/A por ser o cliente número
1; homenageado pelo município de Tanabi por várias vezes e em várias
administrações municipais; homenageado pelo Lions Clube de Votuporanga; foi
agraciado com o título de sócio benemérito pelos relevantes serviços prestados
ao Clube dos Tangarás (foi fundador e secretário por vários anos); foi
homenageado pela “Confraternidad Universal Balzaciana” e pelo International
Institute of American Ideals; tem o seu
nome citado em enciclopédias nacionais e internacionais; seus livros são
estudados por Universidades Federais e Estaduais, estrangeiras e nacionais; tem
o seu nome inserido no Dicionário Biobibliográfico Regional do Brasil, de
autoria de Mário Ribeiro Martins; seu nome está
inserido na rede mundial de internet como um dos maiores folcloristas
nacional e estrangeiro; como apologista ao esperanto, teve seus artigos
publicados em vários países, Holanda, França, Hungria, Áustria, Polônia,
Germânia, Espanha, Japão, Rússia, Chechoslováquia, Portugal, Uruguai, Argentina;
recebeu Honra ao Mérito do Hospital “São Vicente de Paulo de Tanabi pela sua
participação no programa Cidade X Cidade, de Sílvio Santos, Televisão Tupy, no
qual Tanabi venceu a cidade de Campo Belo, MG; recebeu o Diploma da Prefeitura
Municipal de Tanabi – Secretaria de Educação e Cultura, pela participação na
1a. Mostra Filatélica Educativa de Tanabi; prefaciou vários livros dispersos
por aí; foi chefe de gabinete nas administrações de Pedro Ovídio, Venizelos
Papacosta, Milton Cury Miziara e Alberto Víctolo, vindo a pedir demissão do
cargo em 1 de fevereiro de 1983; teve sua biografia inserta no “Inter American
Contemporaries”, página 743, de 1945; exerceu a profissão de jornalista;
recebeu o Diploma de Membro Honorário da Academia de Letras de Uruguaiana;
Diploma de Membro Honorário da Sociedad Geográfica Americana; foi declarado
visitante ilustre do Município de Olímpia durante o 23º Festival do Folclore,
nos termos do decreto nº 1396, de 1º de agosto de 1987; possuidor da cadeira
cativa nº 69 no Estádio Municipal “Alberto
Víctolo”; membro da Loja Maçônica, “Fé e Amor”, nº 42 de Tanabi e
trabalhou incansavelmente para o
progresso de Tanabi.
Sebastião Almeida
Oliveira conviveu diuturnamente com a população do interior sertanejo e
acompanhou pari passu, a formação de seu melting-pot, um caldeirão de raças em
ebulição. Diante de muitos papéis timbrados simetricamente por azulíneas
pautas, o seu lápis e a sua pena, dormiram sensíveis, refestelando-se
indolentes nas almofadas carnosas e polpudas de seus dedos; André Carrazone
disse: -“Escreva sempre, se quiser ocupar um lugar ao sol”; Sebastião Almeida o
fez, e fez com perfeição. Pensou e voou muito alto na escrita; seu pensamento
tornou nobre e operou maravilhas além e aquém. De certa forma, pensar tornou-se
um vício, um vício incurável. Devorou todo e qualquer impresso que caiu em suas
mãos; o lema de sua vida resumiu-se num simples monossílabo, sintético, de
sentido claro, inequívoco e simbólico, “ler”. Esse verbo, que se pronuncia num
só alento de voz, ele conjugou em todos os tempos e modos, em todas as fases de
sua humilde existência que, diga-se de passagem, foi brilhante; leu com
devoção, fez da leitura a sua crítica literária. Separou cautelosamente o joio
do trigo e jamais se enganou na eleição de bons autores e obras de valia;
cultivou a literatura, sempre à procura de emoções, estéticas e puras. Suas
escritas literárias despertaram louvores de grandes escritores e editores de
jornais de renomado nome; Álvaro Augusto Lopes (de “A Tribuna” de Santos);
Hermes Vieira (do “Jornal da Manhã”, SP); Lellis Vieira (“Correio Paulistano”,
SP); Flávio de Campos (Sup. De “O Estado”, SP); João Dornas Filho (“Folha de
Minas”, Belo Horizonte); Nelson Werneck Sodré (“Correio Paulistano”); Ismael
Gomes Braga; A. de Taunay; Raimundo Maranhão Ayres; Afonso Costa; Tito Lívio
Ferreira; “Dom Casmurro”; Bernardino José de Sousa; João Ribeiro; Tavares
Pinhão; Bueno de Azevedo Filho; Mário Carvalho da Silva; José A. Gonsalves;
Antônio Loureiro; Mário de Andrade, Carlos Drumond de Andrade; João Cândido de
Melo e Souza; Antônio Constantino; Cãndido Brasil Estrela; Pierre Mombeig;
Francisco Pablo Labombarda (diretor de Cultura da Argentina); J.M. Coimbra;
Maria Bichon (do Museu Histórico e Nacional de Santiago Del Chile); R.S. Boggs
(da The University of North Carolina, da U.S.A); Manuel Viotti (autor do
“Dicionário da Gíria Brasileira”, Rio de Janeiro); Levindo Lambert (diretor do
Conservatório Mineiro de Música), Francisco Fernandes (autor do “Dicionário de
Sinônimos e Antônimos da Língua Portuguesa”, Porto Alegre, Rio Grande do Sul);
Felix Coluccio (da Universidade de Buenos Aires e autor do “Dicionário
Folklorico Argentino” e “Folklore de las Américas”; Luis Corrêa de Melo ( autor
do “Dicionário de Autores Paulistas); Basílio de Magalhães (historiador
brasileiro); Gastão de Bettencourt, diretor do Instituto de Coimbra e autor de
“Os Três Santos de Junho no Folclore”.
Sebastião Almeida
Oliveira deixou de existir no dia nove de abril de mil novecentos e noventa e
três, às 19h20, em Tanabi, contando com 89 anos de idade, de afanosa existência
toda ela consagrada à sua família, que estremecia, e à cidade de Tanabi, que
idolatrava, sendo causa de sua morte hemorragia cerebral. Jaz sepultado em
jazigo da família, no Cemitério Municipal Central, em Tanabi, Av. da Saudade,
s/n; está sepultado sob o nº 6022,
perpétua. Dele, se poderia dizer o que expressam os lindos versos do excelso
poeta Raul de Leoni: “Simples como a
água lírica das
fontes, e puro
como o espírito
das rosas!”
Terso
Marcel Mazza
Artigos que falam sobre Tanabi
Artigos que falam sobre Tanabi
Tanaby
Na
esplanada de uma elevação, que a confluência de doris ribeirões formára, se
localiza o núcleo civilizado cujo nome, tirado do lindo vocabulário guarani,
tem a sonância aprimorada de Tanaby.
Recebe
do sól as carícias matinais de ardentes raios a se desfazerem em jactos de luz,
da natura um clima saudabilíssimo e ameno; por lindes: dois lagos azulíneos e
uma vegetação com pinceladas verde-amarelas. É o último ponto do mapa de São
Paulo. Duas centenas de edificações onde estilos variam e as cores brigam.
Deslizam
pneus macios por ruas apedregulhadas onde o histórico carro-de-bois foi
impedido de transitar. Á noite, eletrizadas luzes ferem a escuridão, aureolando
com círculos os postes de madeira que, alinhados, sustentam esses pequeninos
glóbos de claridade.
Porém,
urge que se desenvolva; que abandone, de vez, o marasmo amortecedor das
vibrações do Progresso. Mas, para a consecução desse ideal preciso é que se
conjuguem todos os esforços isolados, que se unifiquem todas as iniciativas
dispares, e, sejam postos à margem picuinhas de campanário, e que o derrotismo
seja mera ficção nestas alturas.
Fatores
existem, que não merecem desprezados, para elevação de Tanaby à plana que bem
merece.
A
divisão, em lotes acessíveis, dos grandes latifúndios existentes no município,
circunscrevendo milhares de alqueires, é necessidade premente dado que é no
regime das pequenas propriedades que a população se adensa; cumpre ter em vista
que o loteamento proporciona pingues lucros o que não se daria si vendidos em
conjunto e com sua aplicação teríamos a valorização dos ubérrimos terrenos
marginais da cidade e a conseqüente infiltração de trabalhadores advindos de
zonas cansadas e menos férteis que a nossa.
Outro
ponto que tolhe passo na escalada do progresso é a deficiência clamorosa de
meios de transporte estagnado a energia inconteste do laborioso tanabyense. A
justificar-se o avanço de qualquer linha de penetração em todo o Estado, isso
deveria ser atribuído im primo loco à Araraquarense, a qual, há mais de
três lustros vem se enquistando em Rio Preto cidade da qual distamos cerca de
cincoenta quilômetros. Quantas e quantas sacas da preciosa rubiácea não logram
atingir preços compensadores tão somente devido à distância que nos separa
dessa estrada, sendo que, em determinadas fazendas do município, o cereal
colhido não oferece margem a venda por ser o transporte mais oneroso que o
valor da mercadoria. Outras razões justificam a inadiável necessidade do
prolongamento dessa ferrovia, razões de ordem estratégica – evidentes e
irretorquíveis – e razões de fundo econômico dado que essa estrada servirá de
escoadouro para a segunda riqueza nacional trazendo dos extensos campos
mato-grossenses as longas manadas de gado bovino que oram se esfalfam fazendo, a
casco, o percurso de centenas de léguas antes de atingir o primeiro
entreposto distribuidor – Barretos.
Precisamos
de amplas rodovias internas para dar vazão à imensa produção cerealífera e
cafeeira do “hinterland”: de estradas que entrelacem num amplexo amigo a
sede do município com as cidades vizinhas. Nova Granada, breve ouvirá os silvos
estridentes de possantes locomotivas a repercutir nas caladas de seus espigões
enastrados de vigorosos cafeeiros e Monte-Aprazível, em dias que se aproximam,
empunhará o ceptro da Justiça com a instalação de sua comarca à qual iremos
pertencer. Pois bem: necessitamos de artérias que nos unam a essas futurosas
cidades, afim de, podermos acompanhar pari-passu o palpitar de progresso
que se aproxima.
Assim
sendo, confiemos no patriotismo sadio de Júlio Prestes que, em linguagem
oficial, portanto merecedora de crédito, prometeu galardoar nossa terra de
melhoramentos que façam jus ao seu pujante crescimento para maior realce do
Estado que seguramente preside.
Tanaby, 25 de
março de 1928.
Publicado em “Cidade
de Tanaby, nº 20, na data supra.
Diretor – Gerente do Jornal: Benedicto F. Sampaio.
Tanabi
Tanabi, belo termo que fascina
E nos empolga pela voz sonante.
Simboliza a cidade triunfante
Onde o Progresso estúa e
predomina!
É do sertão paulista a
Adamantina
Jóia que esplende, rara, fascinante!
E ascende e galga, impávida,
pujante
Os cimos que antevê e
descortina!
Numa colina, em meio a dois
regatos
Onde dois lagos, deles se
formaram,
O casario branco se divisa...
A natureza em volta mil ornatos
Criou; e desses dons se
originaram
As belezas do amor que a
civiliza!
Tanabi, 21 de março de 1929.
Tanabi
Este colosso
geográfico, que se estende das decantadas barrancas do majestoso Paraná, até ás
proximidades da vila de Bálsamo, num raio longitudina1 de quase duzentos
quilômetros, tendo por lindes extremas as águas barrentas do Turvo e do São
José dos Dourados, rios eminentemente paulistas, vem de ser retalhado em largos
trechos de seu território para compor municípios limítrofes, quer adensando-lhe
os seus contornos, quer servindo de geratriz á sua existência autônoma, nos
termos do recente decreto que trata da nova divisão administrativa e judiciária
do Estado.
Assim é que na foz do ribeirão
Jataí, o qual, em suas nascentes, banha a cidade, outrora batizada com esse
mesmo melífluo topônimo, nessa foz, uma pequena faixa de terras foi incorporada
ao vizinho município de Mirassol, passando as raias atuais pelo pequeno córrego
da Divisa até galgar o divisor das águas principal.
Esse, no entanto, é o menor quinhão
de sacrifícios entre os impostos á célula tanabiense.
Continuam mantidas as demais 1inhas
divisórias com aquele município e o de Monte Aprazível até o ponto em que,
descendo o veio d’agua dos córregos Grama e Fortaleza é este atravessado pela
estrada do Taboado; aqui, nesta passagem, não mais segue o referido córrego e
depois pelo São José dos Dourados até o Paraná; pelo decreto em questão,
perlonga o eixo da abandonada e quase intransitável Boiadeira até a ponte do
Soledade, ou Cana do Reino e, descendo por este, retoma, em sua confluência,o
curso do
São José até
encontrar a correnteza do Maribondo; no trecho precitado Fortaleza - Soledade
perdeu Tanabi um dos melhores tractos de seu hinterland, zona pastoril por
excelência., de aceso fácil á cidade pela via natural do Taboado, distando da
séde uma dezena de quilômetros, ao passo que, dobrada é a distância que a
separa da séde comarcal, para onde não convergem caminhos vicinais e a ausência
de pontes se faz sentir.
Confirmando nossa assertiva, ai está
a ata do Diretório Municipal de Geografia de Monte Aprazível opinando pela não
modificação dos limites entre os dois municípios, certo de que aquela porção de
terreno por jus não lhe assiste.
Porque não manter-se o statuquo
anterior ?
Subindo o Maribondo e seu afluente o
córrego do Rancho, este, de existência ignorada por velhos moradores do sertão,
atinge o espigão mestre Grande-Dourados, espigão que acompanha até o córrego
Lagoa Seca pelo qual desce até o rio Grande na fronteira de Minas, ficando,
assim extremado o territorium cedido pelo nosso município para o de Pereira
Barreto, sediado na urbs nipônica ex-Novo Oriente; nesse sector, perdeu Tanabi
os imensos latifúndios da Ponte Pensa e Araras, onde as propriedades se
individuam por milhares de alqueires, de população rarefeita e quiçá inexistente; perdeu ainda Porto Taboado, por
onde são comboiadas as manadas bovinas derivadas de Mato Grosso e Goiás e
escolhido ponto terminal da Araraquarense que, segundo promessa governamental,
dentro em breve penetrará o sertão municipal.
Rio Grande acima, tendo Minas do
lado oposto, segue até a embocadura do Turvo, pouco abaixo da povoação de Vila
Cardoso que a autonomasia popular castiga com o desanimador epíteto “Caba-já”,
como á profetizar-lhe vida efêmera, muito embora a localidade se desenvolva,
tal como as demais congêneres deste torrão.
A seguir, pelo rio Turvo, águas
contrárias, confronta-se com Severinía, antiga Patos, centro de grandes
fazendas de gado; depois, pelo seu tributário o rio Preto até o córrego da Cruz
avizinha-se com o novel município de Palestina, de recente data desmembrado de
Nova Granada;
do córrego da Cruz até a confluência do Jataí com este último, agora elevado a
comarca por força do mencionado decreto.
Pelo ligeiro, retrospecto
verifica-se que Tanabi, sem obter compensações outras sofreu profundas
retalhações, uma das quais, a da margem esquerda da Boiadeira é bem uma injustiça
a reparar, atendendo-se que esse seccionamento infringe tradições respeitáveis,
prejudica os interesses recíprocos do fisco e dos contribuintes, afora outros
de menor monta.
Mesmo assim, com todos esses cortes
profundos continua Tanabi a ser um dos mais vastos, si não o maior dos duzentos
e setenta municípios componentes do Estado Bandeirante.
Agora, com referência ás divisas
internas, aquelas que delimitam os distritos entre si, objectamos que precisam
melhor definidas e, por assim dizer, retificadas em sua quase totalidade, uma
vez que, assim como estão descritas tornam-se confusas e inaplicáveis balburdia
estabelecida, pelas inovações introduzidas na nomenclatura dos cursos de água e
outros cochilos existentes.
Assim
é que, o distrito da séde (Tanabi) depois de subir a correnteza do Soledade e
alcançar o espigão - Preto-São José dos Dourados, caminham por este até as
cabeceiras do córrego Coelho (denominação não registrada pela tradição local) -
e por este abaixo até sua
juncção no
Piedade, descendo por este até o rio Preto; ora, a seguir-se divisas tais,
necessariamente desapareciam absorvidos os distritos de Cosmorama, inclusive a
Povoação, e o
de Américo de Campos, tendo em vista que o Piedade passa á montante desta
última localidade.
Ao traçar as fronteiras deste último
distrito, o embaraço cresce de vulto, porquanto, as mesmas passam pelo córrego
Coelho, chegam até o divisor das águas Piedade, Córrego do Meio (sic) ,sem se
atentar que este fica entre Cosmorama e Tanabi e é separado daquele pela caudal
do Retiro; prosseguem, fazendo algumas acrobacias pelo córrego do Retiro e
concorrentes seus, sobem as águas do Tangará (que ninguém sabe onde fica) e vão
até a sua foz no córrego Prata, este já na bacia oposta, isto é, vertente do
São José dos Dourados!
Sobem pelo Prata até sua cabeceira
mais ocidental e após, pelo divisor que deixa,
á direita, as águas do rio Preto, e, á esquerda, ás do rio São José dos
Dourados, em frente á cabeceira mais ocidental do córrego Prata; seguem pelo
espigão da margem esquerda do ribeirão Tangará, (que dança!) até alcançar a
cabeceira do córrego Betari (topónimo de existência duvidosa) e por este abaixo
até o rio Turvo; em nosso entender são esses limites arbitrários e até mesmo
incongruantes, porquanto incorporariam eles a Américo de Campos as vilas de
Cosmorama e Monteiro, com apreciável porção de seus respectivos distritos, além
da disparidade de certas designações; não é preciso muita ginástica cerebral
para ver
isso
claramente.
A descrição da área distrital de
Cosmorama é também sobremodo incerta; situa ela, na confinação de Vila
Monteiro, como seu início as cabeceiras do Ranchão, seguindo então o divortium
aquarium Grande São José até as cabeceiras do córrego Prata; a seguir, faceando
o distrito de Américo de Campos as divisas seguem o inverso das que foram
aqui
transcritas anteriormente, o que nos leva concluir talvez impensadamente, que a
florescente Cosmorama não possui jurisdição apreciável, porquanto já havia sido
tragado in totum na caracterização dos distritos de Tanabi e Américo de
Campos...
Em
se referindo, às divisas de Vila Monteiro; abstraindo das denominações
incoerentes dos córregos Tangará e Betarí, que não se sabe por onde correm,
são, noutros pontos, mais precisas, porque definem o perímetro com perfeição
recomendável.
Concluindo
estas apreciações, julgamos conveniente
aconselhar aos poderes competentes a manutenção das linhas divisórias com Monte
Aprazível e dos distritos entre si, até que estas sejam melhor aclaradas,
concordando-se com a desanexacão dos terrenos formadores do novel município de
Pereira Barreto.
Fiquem,
pois, consignados o nosso reparo afim de que sejam feitas oportunas corrigendas
das nossas raias divisoras para que estas mais tarde não se tornem objecto de
litígio entre as circunscrições judiciárias e administrativas relacionados com
a existência deste colosso geográfico, como é de ver, a grandes cometimentos
futuros.
Tanabi,
dezembro de 1938.
*
Publicado na revista do Instituto Histórico eGeográfico
de São Paulo, Volume 36 em 1939.
Joaquim Chico
História
de Tanabi
Tanabi, 13 de abril de 1949.
Consignamos, aqui, no
primeiro centenário da cidade, que a mesma foi administrada, em seus 58 anos de
edilidade, por 31 prefeitos municipais, inclusive interventores, partindo da
gestão do Cel. Militão Alves Monteiro até o momento atual, por Alberto Víctolo,
que deverá continuar no cargo até 31 de janeiro de 1983.
Tanabi, 09 de junho de 1982
A velha cadeia do
lendário Jataí é hoje quase um mito. Pertence mais à tradição mas tem, no
entanto, singular destino: dantes servia para resguardar a sociedade nascente
do convívio pernicioso de tarados e viciosos, transviados pelas sendas do
crime, ao passo que hoje abriga em seus escombros uma família de sandeus,
imbecis e cretinos a vegetar sordidamente naquele velho presídio.
Tanabi, 30 de março de 1929
Publicado no "Cidade de Tanabi", na data supra.
* Este trabalho foi destinado ao 10º Congresso
Brasileiro de Geografia, em Belém do Pará.
Joaquim Chico
A primeira notícia que dele tivemos
refere que viveu a princípio nas cercanias da fazenda Viradouro, ou seja, o
primeiro ponto habitado no imenso trato de terras compreendidas entre as
vertentes dos rios: Preto e Dourados, na bacia do Paraná, a mesopotâmia
tanabiense de outrora, onde hoje vicejam numerosas cidades – vilas e povoados,
cada qual mais pujante de vitalidade, êmulas entre si na mesma vontade de
progredir que a todas impulsiona.
Foi
nesse lugar que José Alves Ferreira e João Ramos da Costa, primeiros povoadores
da região, fizeram alto em sua longa derrota, isto é, “viraram” carros e
alimárias que conduziram suas mudanças trazidas desde as longínquas paragens
mineiras.
Anos
mais tarde, Joaquim Chico, o caiapó, já habituado aos contatos humanos com os
nossos sertanejos, deixa esse primeiro núcleo habitado, o Viradouro, e vem, com
sua família e seus trastes, habitar as margens pacatas do Jataí, em ponto
adrede escolhido onde se fixa. Segundo reza a tradição, próximo ao local onde
se instalou Joaquim Chico, já aí habitavam outros moradores. Confabulando entre
si, uns e outros, surgiu desses encontros, a idéia da fundação de um arraial,
idéia concretizada com a ereção de um cruzeiro de madeira, marco simbólico de
uma cidade, a cidade de Tanabi, que hoje nos orgulhamos de habitar.
Baseados
nessa tradição oral, de antepassados e coévos, concluímos que esse fato
relevante teve lugar na manhã radiosa de 04 de julho de 1882, com a presença de
padres missionários, que aí celebravam missa e o concurso do bugre manso
Joaquim Chico, o nosso herói, além de um punhado de “homens bons”, entre eles,
Hilário de Souza Rozendo, Agostinho Pereira, Manoel Francisco da Silva, Joaquim
Euzébio, além de Bento Perez de Souza, o carpinteiro que lavrou e esculpiu a
cruz simbólica. Nesse mesmo dia, e ainda presentes os mesmos missionários, foi
também erguido o cruzeiro Divino à margem esquerda do Jataí em local onde até
hoje se encontra chantado, isto é, um pouco abaixo da atual Vila Tomaz.
Aliás,
o patrimônio de Jataí, bem maior que o atual, era limitado por um “valo” cujos
vestígios ainda podem ser encontrados e teve sua área reduzida; dele tirando-se
várias porções para pagamento de divisão judicial terminada em 1913.
A
esse tempo, fundado o Jataí Joaquim Chico tinha sua vendinha instalada na mesma
palhoça singela onde morava desde 1860 aí comerciava produtos da terra,
cereais, toucinho, fumo, pinga e rapadura, gêneros que trazia em cargueiros,
por ínvias picadas que ele mesmo, auxiliado por vizinhos, abriu para os lados
de São José do Rio Preto, picadas que serviam de fulcro à construção da Estrada
Boiadeira, em 1900, fator econômico de marcante influência nos destinos do
povoado recém fundado.
Após
esses eventos, oralmente comprovados, nenhum outro traço encontramos na vida do
ousado pioneiro nativo. Mas, analisando o papel saliente por ele desempenhado
na formação desta civitas, veremos que sua individualidade projetou-se
nitidamente em todos os movimentos iniciais do burgo vilarengo, quer como seu
primeiro habitante em 1860, quer edificando o primeiro casebre que aqui se
ergueu e ainda auxiliando o levantamento da cruz de que resultou a fundação do
arraial em 1882, ou, ainda, abrindo a primeira via de acesso para outras
localidades e, conseqüentemente, o transporte das primeiras mercadorias aqui
vendidas e ainda a instalação do primeiro estabelecimento comercial do povoado.
Além de tudo isso, vemo-lo, alma emergente das selvas, primitiva e rude, ainda
influenciada por totens e tabus tribais, a contribuir, no entanto, com todo o
seu esforço e tenacidade para a edificação de uma futura cidade e para a
implantação de uma religião nestas paragens, fatos que bem demonstram a rápida
evolução de seu espírito marchando célere para a civilização e para o
progresso.
E
ao encerrarmos estas considerações recordemos que, ao morrer, anos decorridos,
seu corpo foi inhumado no primitivo cemitério aldeão que recolheu as cinzas
venerandas de nossos ancestrais. E seu espírito, onde quer que esteja,
acompanhará, estamos certos, entre deslumbrado e atônito, o ritmo ascensional
de Tanabi, que teve por berço e crisálida o Jataí de outrora, cidade que soube
vencer as agruras da adversidade e que se projeta, ovante e vitoriosa, para os
horizontes do futuro!
Tanabi,
21 de junho de 1956.
Pela interlândia Tanabiense.
Convite
amável para esplêndida excursão, levou-nos a dar, em companhia de amigos, num domingo
de sol radiante, profundo mergulho na selva interior do município que
habitamos, há três longos lustros, agora transformado num dos mais vigorosos
alicerces da economia agrária paulista.
Precisamente
uma hora após nossa partida, atingíamos a localidade de Cosmorama edificada
numa ondulação de terreno entre os córregos Retiro e Cavalinho; sede de
distrito de paz desde 1937, possui Cosmorama, agradável aspecto nela
prosperando bons estabelecimentos comerciais e modelar casa de saúde;
brevemente será ligada ao sistema ferroviário nacional pelos rails da
Araraquarense cuja estação distará cerca de três quilômetros do centro urbano e
onde se ergue, já funcionado, importante usina algodoeira. Logo adiante do
povoado deixamos, à esquerda, a rodovia que se dirige a Votuporanga e
prosseguimos varando a paisagem pelos vales do Sumidouro e do Piedade grávidos
de águas barrentas derivadas das fenomenais chuvas desabadas neste janeiro
estival; atravessando lavouras onde vicejam cafezais vergados de frutos ópimos
e trechos de matas frontejantes, emoldurando o caminho numa arcaica de verdura
intérmina, ganhamos os socalcos do espigão mestre onde o panorama é encantador
e onde o viajante emudece reflexionado o que vê. Ao marcar o velocímetro 54
quilômetros percorridos surge-nos à vista o povoado de Monteiro distrito de paz
desde 1926 e que vem progredindo lenta, mas seguramente.
O antigo
“São João do Marinheiro”, como era conhecido, oferece hoje ao visitante
animadoras perspectivas dada sua posição geográfica de centro abastecedor da
região que se distante até as barrancas do rio Grande. Sem maiores detenças,
porque o tempo urge, deixamos a promissora vila e nos embrenhamos, por estrada
regularmente transitável, nada obstante as grandes precipitações chuvosas haverem
prejudicado suas obras de reparo, transpondo os ribeirões do Bonito, do Engano,
do Gatão e demais afluentes do Marinheiro, que igualmente cruzamos, sendo esta
a maior e mais dilatada bacia hidrográfica do município daí resultando a
formação de grande imóvel rústico com cerca de setenta mil alqueires de terras.
Como num caleidoscópio, ante nossos olhos atônitos desfilam milhares de
alqueires de mata recentemente abatida pelo homem e aí crescem, viçosos e
exuberantes, robustos milharais, algodoeiros de vários portes e, numa visão
chinesa, o oceano de arrozais se distante pelas grimpas marginais, domina os
tabuleiros e vertentes, infiltra-se pela mata broqueada a foice e a machado,
derrama-se pelos sapecados, reveste os baixadões suculentos de húmus e vai aí afora
numa sucessão infinda levando-nos a calcular sua produção com números
astronômicos. Toda essa policultura, nascida de lavouras improvisadas por levas
contínuas de pioneiros instalados de um biênio a esta parte da região sertaneja
de Tanabi, promete, por si mesma, transforma-la num dos mais fornidos celeiros
da terra brasileira, concorrendo, de modo digno na extrema batalha de produção
que todos nós estamos empenhados. De um lado e outro da rodovia que nós leva ao
centro desse hinterlândia agreste, vê-se, a cada passo, a habitação rural
cercada das instalações que lhe são peculiares, diferentes modos de fixação do
homem à terra: toscos e primitivos ranchos de taipa cercados de varas e
revestidos de coqueiros, cavacos ou sapé; casas de pau-a-pique, cobertas de
telha vã, estágio mediano da civilização caipira e, por derradeiro, algumas
raras vivendas mais confortáveis de tijolos, pintadas e caiadas, arremedo
revivescente da lendária “Casa Grande” do regime patriarcal de antanho, nelas
habitando o sitiante e o proprietário de grandes tratos de terras.
Em
diferentes trechos da jornada, divisam-se, aqui e ali, rudes taboletas
indicadoras de pontos, que servem caminhos vicinais e particulares, onde param
jardineiras para recolher o aflito viajor, jardineiras que vêm sacolejadas e
morosas, pejadas de viageiros adaptados a impérvias marchas, oriundas de
localidade remotas que repontam sertão à dentro. Numa curva do caminho
avistamos, e logo passávamos além, a pequenina Parizi ainda ontem simples
casinhola de beira de estrada e já agora aglomerado semi-urbano que promete
crescer. Continuando nosso roteiro, a devorar distâncias, avistamos,
finalmente, Brasilândia, meta de nossos desígnios e que, nesse dia, toda ela se
engalanava para receber a visita de autoridades civis e administrativas para a
instalação solene de sua sede distrital a que recentemente foi elevada.
Composta, a vila, de imensa praça contornada por vários prédios comerciais e
particulares no centro da qual se ergue modesta capelinha; diversas ruas pontilhadas
de habitações cruzam-se formando o tabuleiro da futurosa localidade fadada a
grandes destinos; circunscreve-a vasto anel constritor de opulentas culturas
que lhe propiciarão fartas colheitas e melhoria de vida para seus habitantes.
Pouco mais além, separada por estreita faixa de mata virgem, emerge, promissora
e ridente, a povoação de Pereira constituída de quatrocentas casas espalhadas
em vasta área como a denunciar os lineamentos de grandiosa urbe. Ao vive gente
empreendedora e audaz, confiante nos destinos da localidade, aspirando, para
esta, sua alforria distrital agora prejudicada pela proximidade de sua rival
Brasilândia que lhe arrebatou a palma. Praza aos céus seja, um dia, realizado,
um ao outro, esses distintos núcleos de civilização, formando, por meio de
ampla avenida, e com nome comum, uma das mais florescentes cidades do Oeste
Paulista.
Foi,
pensando assim que, ao entardecer desse domingo de sol, retomamos nosso lugar
no auto que aí nos conduziu, despedimo-nos daquele povo acolhedor e amigo para
iniciar, daí a instantes, nosso regresso a Tanabi, cabeça comunitária de imenso
prestígio entre os duzentos e setenta municípios de São Paulo.
Tanabi,
20 de janeiro de 1943.
Tanabi e seu bloco de
intelectuais.
O
topônimo Tanabi teve, outrora, na acepção de Urbino Viana, o significado de
“madeira adstringente, que aperta – tanino”. Mais tarde, com o desenvolvimento
dos estudos tupinólogos, Plínio Ayrosa, incontestavelmente grande autoridade no
assunto chegou à conclusão que esse vocábulo deriva de Pa – nambi que
pode ser traduzido, mais ou menos, por “rio das borboletas”.
Nos
tempos do velho Jataí, seu primitivo nome, e mesmo até 1930, foi esta cidade e
região teatro de crimes nefandos, a serviço da sórdida politicagem, que tanto a
infelicitou refreiando-lhe os assomos de evolução. Resultado de tudo isso foi a
fama deprimente que repercutia lá fora com muito desdouro os que aqui
labutavam.
Daí para
cá tudo evoluiu. A cidade adquiriu aquele ar de civilização característico dos
grandes centros e sua fama tomou sentido e se orientou para outras latitudes.
Agora somente se fala em Tanabi como uma cidade simpática, atraente e
acolhedora. Não mais a cidade caipira dos tempos de sua meninice.
Reflexo
dessa nossa assertiva é o que vimos de colher nos jornais da culta São José do
Rio Preto, cidade-mater não só de Tanabi, como, ainda das que, nascidas em sua
órbita, muito lhe devem.
Em menos
de uma semana trouxe a “Folha de Rio Preto” dois artigos asinados enaltecendo o
que aqui temos de mais importante no campo material e espiritual.
No
primeiro, José Alexandre de Morais, um velho educador bragantino, relata-nos,
em prosa fluente, a excursão que fez, abalando-se da vetusta cidade
tricentenária às margens do Atibaia para vir conhecer um região pioneira. E seu
artigo é todo ele repassado de expressões laudatórias à nossa terra e a alguns
de seus homens representativos, vaticinando para Tanabi um grande e merecido
futuro.
Neste
outro, o redator da página social do apreciado diário riopretano, que se
esconde sob o pseudônimo literário Del Rios, teceu também loas e ditirambos à
cidadezinha bonita e limpa e termina sua apreciação pondo em relevo algumas
figuras de projeção a compor um verdadeiro bloco de intelectuais devotados à
causa pública.
Como um
dos citados nessa homenagem prestada aos tanabienses, cabe-nos agradecer
àqueles nossos colegas de imprensa, e ao jornal que veiculou seus escritos,
para dizer-lhes que suas amáveis expressões, principalmente as que se referem
de modo lisonjeiro a Tanabi, calaram fundo em nossa sensibilidade e
repercutiram de maneira toda especial no seio da população citadina.
É essa
uma política de boa vizinhança que cumpre fomentar.
Realmente,
tem nossa urbes destacada propensão para o culto da inteligência bastando dizer
que seu único clube recreativo tem o nome simbólico de “Grêmio Literário” o
qual já teve a honra de acolher em seus salões, além de virtuoses da música e
das belas artes, um corte de intelectuais dos mais reputados em todo o país,
alinhando-se entre eles, Jamil Almansur Hadad, David Serra, Salomão Jorge,
José Lins do Rego e Agripino Griecco que aqui produziram apreciatas
conferências ouvidas por muita gente. E, para provar que não estamos
distanciados de centros mais evoluídos basta recordar que nem todos os parleurs
foram aqui aplaudidos.
Abstração
feita a nosso modesto nome, conta á cidade um púgilo de beletristas de escol
entre os quais se alinham João Batista Fruquim Lambert, jornalista e
orador; Dr. Valentim Alves da Silva, diretor de “O Município” em
cujas colunas vem derramando seu talento polimorfo sendo, também, eloqüente
tribuno e, por último, João de Mello Macedo, que reúne em sua pessoa
todos os predicados exigidos as perfeito literário: orador primoroso cuja
palavra a todos agrada; jornalista de pulso, a firmar trabalhos em prosa e
verso suficientemente cada um de per si a realçar lhe o mérito que realmente
possui, dando-no “Arribada” e uma coleção de escritos e poemas, inéditos uns,
publicados outros, todos eles de real valor.
Há,
ainda, luzida equipe de médicos, bancários, farmacêuticos, advogados e
comerciários que, embora atarefados em sua faina profissional, e sem aparecer
em letra de forma, amam, contudo, cultivar as flores da literatura em leituras
memoradas, sabendo, por isso mesmo, apreciar e acompanhar a marcha do
pensamento e as manifestações do espírito, notando-se em quase todas as
residências e escritórios boas bibliotecas particulares capazes de servir a
qualquer artista da pena, verdadeiras rivais da Biblioteca Municipal, instalada
em prédio próprio, e veterana das agremiações congêneres na região.
Quem aqui aporta, como visitante ou disposto a
marrar o barco de sua existência, junto aos velhos tanabienses, encontra logo
receptividade franca por parte de todos os habitantes e isso nada mais é que
resultado de seu refinamento cultural.
Para
nós, essa é a glória que fica, honra e consola.
Tanabi,
30 de agosto de 1945.
Tanabi – cidade caipira.
Tavares
de Almeida, um nome que se destaca entre os estudiosos da região riopretana,
visitando-nos em companhia de Jamil Almansur Haddad, disse, com a displicência
que lhe é característica que, Tanabi, por seu aspecto típico e singular, era
bem uma cidade-caipira, notável por sua diferença de aspecto com os vizinhos
aglomerados urbanos.
Longe de
nos enfadarmos com a opinião do apreciado sociólogo, onde muitos poderiam, por
falso bairrismo, entrever sentido deprimente, achamo-la, pelo contrario,
apropriada, vindo, a talho de foice, servir como definição a esta localidade
sertaneja.
Chovem
argumentos comprovantes de que o autor de “Oeste Paulista” não laborou em erro,
nem alimentou idéias menos nobres, ao exteriorizar seu pensamento relativo à
cidade que muito prezamos e de quem sabemo-lo admirador apaixonado.
No
entanto, indagar-se-á, e com razão, porque atribuir a Tanabi o epíteto
incriminado de cidade caipira?
J.C.
Fairbancks disse, certa ocasião, haver uma civilização caipira no interior
brasileiro. Com apoio em afirmativas desse tomo podemos muito bem conceber uma
cidade progressista, como é o caso de Tanabi, sem, contudo, cortar as amarras
do passado e esconder, completamente, origens atávicas refletindo o meio onde
se formou.
Vamos,
pois, desenvolver nossa proposição ao esposarmos aquela asserção emitida pelo
ilustre causídio patrício.
Sem
desdouro ao que é nosso, sem intenção preconcebida de ofender a quem quer que
seja, e muito menos ao dinâmico administrador da sede comunal, Tanabi é uma
cidade caipira pelos curiosos aspectos que oferece ao visitante, alguns dos
quais passamos a enumerar.
Quem,
pela primeira vez aqui aporta, fica impressionado ao ver o centro citadino
composto de casas com beirais antigos de telha vã de acanhadas e rústicas
fachadas; muros esborcinados onde prolifera uma algaravia de caracteres mal
desenhados propaganda espúria de credos políticos em detestável simbiose; por
outro lado, ausência completa de letreiros luminosos, que é hoje distintivo de
modernismo; reduzido número de vitrines na frontaria das casa comerciais. Quem
se postar na esquina principal do centro quase só vislumbra diante de si bares
e chalets de bicho como se passássemos o tempo a ingerir bebidas
e a fazer uma fezinha nos intervalos...
Idéia
nítida de cidade-caipira poderá ter o forasteiro que, em dias úteis, lançar uma
visada pela rua principal, quando é mais intenso o movimento comercial: autos,
ônibus e caminhões entrecruzando-se ao som de apitos estridentes; cavalos e
outras alimárias amarrados junto aos passeios; colonos a conduzir pacatamente
suas montarias vergadas sob o peso extraordinário de produtos do solo que
trocam por artigos manufaturados; carroças com espantadiças parelhas de muares
ao lado de carros puxados por copiosas juntas de bois em sonolenta marcha e, de
mistura a tudo isso, a algazarra da multidão heterogênea, onde campeiam raças
dispares predominando a ibérica, fornecendo ao observador quadros de confusão
babélica, os olhos preocupados com a indumentária variegada dos freqüentadores
da cidade “boca-de-sertão”.
A visão
exterior da Matriz, com suas paredes sem reboco, sugere-nos o pensamento de um
arraial em formação; circunda-a inculto gramado e na praça fronteiriça rodeada
de prédios distanciados há sempre um circo de cavalinho para dar relevo ao
quadro...
As
entradas e saídas de Tanabi nenhum atrativo oferecem além da paisagem revolta
de grotões e pirambeiras como aquela da estrada do Taboado, que hoje perdeu sua
função de grande pista de gado para transformar-se em mero e acidentado
“caminho de cabras”; outros pontos de acesso à urbes guardam similares de
rusticidade e assim mal deixamos o centro citadino mergulharmos ex-abrupto em
campos forrados de invernadas e quiçaças pois é notória a carência de chácaras
como também a pequena densidade de população no círculo de alguns quilômetros
de em torno. O casario, disperso e assimétrico, esparrama-se em desordem numa
área de setenta alqueires aproximadamente, formando curioso mosaico de
edificações.
Alguém
que recentemente esteve no Brasil, afirmou não haver país algum no mundo mais
cheio de lirismo do que o nosso e eu quero atrair para este recanto paulista a
definição acertada daquela ilustre personagem. Sim, todos esses “defeitos” que
recapitulamos convertem-se em poesia e lirismo aos olhos dum esteta.
Reflexo
do meio rural, base de sua economia, Tanabi é bem um consórcio feliz da
tradição e do progresso com todos os atributos inerentes de uma cidade
pioneira.
Tanabi, 23 de março de 1946.
Visões de Tanabi
Quem,
como nós, conheceu Tanabi vinte anos volvidos, conserva, na retentiva, visões e
imagens fieis da cidade embrionária. Reproduzi-las, em alguns de seus aspectos,
e com maior ou menor fidelidade, é tarefa que vamos tentar neste ligeiro
retrospecto.
Descendo
ao longo da estrada boiadeira, ao transpor o “Mangue” ou “Bacurí”, deparava-se
à esquerda, magnífica represa natural, o “Tanque”, balneário natural onde o
tanabiense, anos a fio, encontrava refrigério às inclemências do calor estival
e hoje, infelizmente, desaparecido.
Subindo
a encosta íngreme, que o Forte de bigodes vingava a custo, tinha, o visitante,
à sua frente, um pequeno burgo composto de casebres espalhados, circundado por
algumas chácaras agrestes, e pela quiçaça derredor. Súbito, a praça da Matriz,
que, de 1930 a esta parte, passou a chamar-se “24 de outubro”. Aqui, uma
igrejola com ligeiros ressaibos de estilo colonial, com seu frontispício
sacrificado pelo estoiro de fortíssima bomba e onde trazia gravada a data
histórica de sua fundação: 1891. Ao fundo, velho cruzeiro de madeira lavrada,
que o carpinteiro Bento Perez de Souza esculpiu, ereto, segundo reza a
tradição, em julho de 1882 pelos fundadores do arraial: o Alferes, o
Amaralzinho, o Bataglia e o Joaquim Chico.
A um dos
cantos da praça a casa de Dante Celeri, ostentando, em seu frontal, as armas da
coroa italiana; logo adiante, um renque de coqueiros plantados por Ugolino
Ugolini que, como membro da Comissão Hummel, dirigiu, aqui, os trabalhos de
construção da Estrada do Taboado. Na esquina, a casa onde mais tarde viveu,
displicentemente, o saudoso Xavier de Almeida misto de filósofo e boêmio; a
casa paroquial, duas ou três vivendas e, no ângulo oposto, a residência do Dr.
Paulo de Abreu, no mesmo local onde um dia remoto habitara o índio manso
Joaquim Chico, com sua vendinha de pinga e rapadura, bugigangas que trazia, em
lombo de animal, por extensa picada, que ele mesmo abriu ligando estas paragens
a Rio Preto, na época incipiente povoado em gestação. Nos fundos, logo abaixo
da feira, onde está hoje a Usina Coimbra, as ruínas do velho presídio,
construído de pedra “tapiocana” e sustido por fortes esteios de aroeira, no
pavimento superior funcionando, desde 1902, o distrito policial; na outra face,
em frente à atual quadra de tênis, casinholas acachapadas onde viveu outrora o
Amaralzinho e, logo acima, a habitação do Bomfim, seresteiro de prol e famoso
organizador de cavalhadas, então em grande voga; numa travessa, o cochicholo
onde fora linchado, sob as vistas
complacentes da polícia o fascinora “Cacheado”.
Subindo
a rua principal, na ocasião denominada Antonio Prado, lá estava, na esquina, o
Hotel Central que anunciava a hora das refeições por meio de estridente
campainha; cercas de arame onde hoje está á Farmácia União, casas comerciais de
relativa importância, dado que aqui estava sediado o último entreposto
sertanejo. Lá no extremo da rua, a Empresa de Luz com seu vapor a lenha,
batendo pancadas isócronas como um grande coração a pulsar. O cine “Rio
Branco”, no mesmo local onde hoje se encontra, exibia filmes silenciosos, ao
som de afinada orquestra, regida pelo Prof. Viola, saudoso diretor das Escolas
Reunidas que funcionavam em prédio fronteiro à casa de diversões.
Tanabi,
distrito de paz desde 1907 e município em 1925, possuía dos anos após menos de
duas centenas de edificações a maior parte feita de pau-a-pique. Cumpre
recordar que a atual Praça da Bandeira, e adjacências, nada mais era do que
extenso matagal; nas imediações do Hospital “São Vicente de Paulo” estava
localizada a roça do velho Maurício e bem perto demorava o cemitério cercado de
achas de madeira partida. Á esse tempo procedeu-se o lançamento da pedra
fundamental da nova Matriz sendo necessário mondar a capoeira existente. Havia
um campo de futebol onde se ergue hoje o magnífico edifício do Grupo
Escolar.
Não nos
é dado olvidar, neste bosquejo, figuras e fatos que entreteceram os anais
citadinos; vem-nos logo à mente o nome do Cel. Militão, morubixada da clan
Tanabiense que, não obstante seu tradicional mandonismo, foi desbravador da
gleba sertaneja e incentivador de seu progresso. Barbosa Lima, com seu
dinamismo irriquieto, sacudia a cidadela da política trazendo, “num cortado”,
os vereadores bisonhos e os delegados leigos até que Durval de Góis Monteiro,
irmão do famoso cabo de guerra brasileiro, aqui viesse ocupar a delegacia de
carreira. José Augusto de Souza, capitão da guarda Nacional, entretinha seus
ócios “inventando” o motu-contínuo. Firmino Justino da Silva, por antonomásia
“o Sabiá”, repartia sua atenção entre o Juizado de Paz e a “Pensão do Sol”.
Jerônimo Fortunato, eterno namorado da política, não perdia vaza, com ou sem
pretexto, para deitar falação aos seus correligionários, no fundo, das mais
populares e benquistas figuras da cidade. Clovis de Lima Paiva, mestre-escola e
intransigente defensor do erário público. José Vieira Alves, figura magna
pars em todas as eleições com e sem bico de pena, com seu aplomb de
capitalista, Gabriel José de Oliveira granjeou fama e destemor arrebatando, num
lance quixotesco, a “chapa” democrática. Nada se fazia, então, dentro e fora do
P.R.P, sem á palavra autorizada do, Capitão Daniel, sempre hábil e atilado em
dirimir questiúnculas, apaziguar demandas ou solver complicações políticas. Em
campo oposto ao situacionismo destaca-se luzida equipe chefiada por Francisco
Vargas e João Gualberto Portugal; Laudelino de Brito, Jerônimo Martins de
Araújo, Ernesto Tabachi, Antonio de Faria, José de Arimathéa Corrêa e tantos
outros que seria fastidioso enumerar.
Havia na ocasião, o semanário “Comarca de Tanabi” que,
através de seu pomposo título, andava a apregoar iminente emancipação
judiciária somente conseguida vinte anos depois...
Quem não
se recordará, com saudades, da cidadezinha pacata de então, movimentada por um
grupo de guapos rapazes; tendo à frente o boêmio incorrigível que sempre foi
Mário Camargo, pintor nas horas vagas? O Guimarães a retinir afinado violão, no
intervalo de ferinas chacotas; o Macedo, sempre jovial e bem quisto, já as
voltas com as musas, líder dos moços e por todos admirado; o Fausto com suas
piadas mordazes e ainda o Olavo, saturado de pessimismo por contínuas e mal
digestas leituras de Albino Forjaz de Sampaio, seu autor predileto. E outros, e
outros mais, formavam neste grupo, que vivia, por horas mortas, a roubar o
sonho de moçoilas casadoiras, a organizar pomposos bailes e a animar festas
religiosas e profanas.
Há muita
coisa digna de recordação nesse capítulo de episódios vividos, e de figuras que
aos poucos vão sendo olvidadas, a exemplo do que Mello Macedo através de seu
rodapé dominical que, infelizmente, interrompeu. Recordar fastos da cidade, os
eventos de datas mergulhadas no pretérito, não é tarefa despicienda de escriba
em férias, mas, sim, inestimável contribuição para o historiador futuro a quem apraza
reconstituir, com precisão e carinho, o lento estratificar de uma urbes,
acompanhando-lhe, pari-passu, todas as vicissitudes desde o berço à
atualidade!
Tanabi,
21 de dezembro de 1946.
Durante o primeiro quartel do século
passado Tanabi, ou seja a extensa área territorial compreendida e banhada pelos
rios são José dos Dourados , de um lado, Preto e Turvo, de outro, tendo ao
fundo o caudaloso Paraná, verdadeira mesopotâmia com dez ou doze mil
quilômetros quadrados de superfície, era habitada somente por índios e feras.
Comprova-o, quanto aos primeiros, a existência de taba indígena próximo a
Cosmorama onde o autor destas notas encontrou fragmentos de cerâmica, igaçabas
(urnas funerárias) e até machados de pedra. Além disso, persistem lendas de que
aglomerações de amerabas povoaram as margens fecundas do rio Caiapós que
estendia seus domínios aquém das regiões adustas da Farinha Podre.
É fato histórico ter Joaquim
Francisco Lopes, irmão do famoso guia Lopes, explorado, em 1831, a margem
esquerda do rio Grande, quando, com sua gente, pervagou o Triângulo Mineiro e
Mato Grosso. Nessa ocasião deram-se as primeiras entradas: os mineiros João
Ramos da Costa e José Alves Ferreira, avoengos da família Costa, penetraram a
selva ignota descendo, com suas mudanças, pelos vales ribeirinhos do Fortaleza
e do São José e, onde se fazia mister, rasgavam picadas na floresta impérvia;
assim atingiram o lugar que ficou desde então conhecido por Viradouro, ou seja,
onde “viraram” seus carros, lugar este
que, por muitos anos, constituiu o primeiro e único ponto habitado a noroeste
de São José do Rio Preto localidade fundada em 1852 por João Bernardino de
Seixas. Posteriormente surgiram outros posseiros que se fixaram: Flávio Alves
da Costa, na barra do Turvo; Luis Januário de Barros, no rio Grande; José, João
e Adão da Costa Maldonado, no Marinheiro; João Tomás da Costa, na Santa Rita;
Camilo Militão de Oliveira, Jerônimo José Pereira e Antonio Fernandes Franco,
na Barrinha e Viradouro; Teodoro Mendes da Costa e Antonio Costa Lima, na
Grama; José Francisco Pereira, na Alegria; José Joaquim Rangel, na Água
Vermelha, ou Queiroz; João Botelho de Vasconcelos, em Águas Paradas; José
Antonio Barreto e Ana Esméria, na Fortaleza, Fuão Boamorte, na Prata e outros.
A partir de 1850, por força de um decreto, tiveram os posseiros suas terras
legalizadas e daí a origem de escrituras particulares. E vieram, então outros
pioneiros: Vicente Cardoso da Silva, que se estabeleceu na confluência do Turvo
com o Grande e cujo nome serviu de topônimo para designar o atual município de
Cardoso; Antonio Cassimiro da Silveira, cujos descendentes povoam hoje o bairro
da Fortaleza; Felício Bassoural, patriarca dos Macieis, na Cachoeira, (daí
Cachoeira dos Felícios) para onde também vieram os Paula ribeiro e,
ulteriormente, Daniel da Cunha Morais. Muitos outros para aqui vieram,
tangidos, a maioria, pelo mesmo impulso dos bandeirantes mas, quantas vezes as
matas seculares serviram de valhacouto aos perseguidos da justiça em outras
bandas! Reza a tradição que, por essa época, os transportes para os centros
povoados: são José do Rio Preto, Jaboticabal, São Carlos, Araraquara e Campinas
eram feitos por cargueiros e carros de boi e a viagem de ida e volta
prolongava-se meses seguidos; levavam produtos da terra e traziam, de retorno,
sal, tecidos grosseiros e artigos de primeira necessidade.
Em 1860, Joaquim Chico, um bugre
manso que habitava no Viradouro, transfere-se para o Jataí e, construindo uma
choça de capim, nela vendia rapadura, fumo e cachaça, além de outros artigos
que trazia de lugares distantes e por ínvios caminhos. Por esse motivo, e com
justiça, é considerado o primeiro habitante da cidade, muito embora, por esse
tempo, existissem, pelas cercanias, outros moradores com suas cabanas colmadas
de sapé.
Consta, todavia, que Januário Garcia
Leal, o lendário “Corta Orelhas”, esteve homiziado nos sertões tanabienses e
quando, em 1892, três cidadãos de Santana do Paranaíba, Carlos Ferreira de
Castro, José Maria e Pe. Ferraz resolveram abrir uma estrada que do porto do
Taboado alcançasse o bairo do Viradouro, subiram pela via líquida do São José
e, nessa derrota, encontraram restos de uma ponte rústica feita pelo dito
Januário e da casa onde ,orou um ferreiro perito no fabrico de ferros de marca.
Aliás, cita-se de oitiva que, ao
tempo da guerra do Paraguai, (1870), havia tendas de ferreiro nesta região,
onde se faziam concertos de canhões, veículos e mais petrechos de campanha.
E já que estamos evocando o passado
remoto, para amenizar a aridez destas citas, registremos também a passagem, por
estas bandas, do solitário Frei João Maria de Jesus, conhecido em todo sertão
brasileiro, o qual em sua peregrinação, pernoitava ao lado de um cruzeiro,
próximo à casa do velho Cassimiro, sendo certo que o bondoso cenobita, por
princípio, não aceitava hospedagem de ninguém e, tampouco, alimentos
caseiros.
Mas,
retomando nosso tema, com a vinda de Joaquim Chico não se pode considerar
fundada a povoação, o animus manendi, idéia que se concretizou, mai
tarde, com a ereção de um cruzeiro de madeira, gesto litúrgico que, em todo o
Brasil cristão, indica a instituição de uma localidade. Por isso, baseados no
testemunho de alguns habitantes daqui, já descrevemos e divulgamos ter sido
esse cruzeiro erguido nos idos de julho de 1887. Entretanto, pesquisando
cartórios, verificamos ter sido lavrada, no distrito de São José do Rio Preto,
aos 21 de maio de 1887, uma escritura de doação, transcrita no Registro de
Imóveis de 1º. Circunscrição daquela Comarca, aos 02 de agosto de 1906, na qual
os transmitentes Francisco de Souza Lopes e sua mulher Maria Francisca da
Conceição, Joaquim José de Souza e sua mulher Gertrudes de Souza Martins e
Maria Rosária da Conceição, doaram setenta e cinco alqueires de terras,
oriundas do espólio de seu pai e sogro Bento de Souza Lopes, ao patrimônio de
Nossa Senhora da Conceição de Jataí (nome primitivo do lugar), com a condição
de que esse terreno, incorporado a vinte e cinco alqueires de Manuel Correa de
Souza, condômino já falecido, “ser anexado a uma capela ai edificada e em
construção” (sic). O patrimônio em questão situava-se na fazenda pró-indiviso,
denominada “Jataí” atravessada em toda a extensão pelo ribeirão desse nome.
Logo, a fundação do arraial não poderia ter ocorrido nos meados de julho de
1887 e, sim, anteriormente, a menos que seja apócrifa essa escritura que
menciona a existência de uma capela em construção. Espicaçados pelas
discordâncias encontradas, prosseguimos, de indagação em indagação, concluindo
em pós por acatar depoimentos de velhos moradores a confirmar que o
levantamento do cruzeiro se deu precisamente a 4 de julho de 1882, (ou sejam,
cinco anos antes da data que tínhamos notícia), com a presença não só de
Joaquim Chico, o primeiro habitante, como, ainda, de Hilário de Souza Rozendo,
Agostinho Pereira, Manuel Francisco de Silva, Joaquim Euzébio e Bento Perez de
Souza, este ultimo carpinteiro que, desbastou o tosco madeiro dando-lhe forma
de cruz, a qual, com o ato solene de sua instituição, tornou-se, ipso-facto,
marco simbólico da fundação de Tanabi e que, para edificação dos pósteros,
cumpre resguardar e preservar.
Alhures
registramos ter sido o ato realizado com a presença de Polenice Celeri
(conhecido por “Alferes”), João Barboza do Amaral e Leonídio Bataglia,
referência, que aqui retificamos para declarar que estes denodados tanabienses
para aqui vieram mais tarde e foram eles, notadamente o primeiro, os
impulsionadores do vilarejo e construtores da igreja em rudimentar estilo
colonial, que veio substituir a primitiva capela onde, narra José Joaquim
Cardoso, foi ai batizado Eduardo Alves Ferreira, nascido em 1885, igreja essa
demolida em 1932 e em cujo frontespicio estava gravada a data de sua conclusão:
1891.
Antes,
porém, de prosseguirmos nestas considerações, há um outro ponto a dilucidar;
nos termos da escritura citada, a doação do patrimônio foi feita pelos
descendentes de Bento de Souza Lopes; entretanto, consta, à fls. 5, do Livro 1
de Notas, do Cartório de Paz desta cidade, ter sido (o patrimônio de 75
alqueires) doado por José Teodoro Ferreira Lemos e sua mulher, aos 08 de março
de 1907, confirmando escritura particular anterior; nesse documento há um
tópico onde se afirma serem os doadores legítimos possuidores, em comum com outros,
de terras na fazenda denominada Jataí, ora em divisão, e que doavam “trinta e
cinco mil e tantos reis de legítima a Nossa Senhora da Conceição para i fim de
se constituir um patrimônio nesta povoação de Tanaby, que se acha encravado na
referida fazenda”. Assim, ambas doações se coincidem mas cumpre atentar na
circunstância de que a folha de pagamento, expedida nos autos de divisão
judicial da citada fazenda Jataí, quinhão nº 12, gleba nº15, homologada em 19
de novembro de 1913, e que pós termino à pendência, ai se declara que o imóvel
tem por limites ao norte o Jataí, a Leste o Bacurí, ao sul e a Oeste Hilário de
Souza Lopes ou sucessores, sendo que este ultimo nome nos faz recordar um dos
participantes na elevação do cruzeiro e, possivelmente, parente próximo de
Bento de Souza Lopes.
Às
fls. Do Livro Tombo da paróquia de São José do Rio Preto, ano de 1914,
deparamos uma referência afirmando que, não muito distante da Capela de Jataí,
núcleo inicial da povoação, existe outro patrimônio indicado por um cruzeiro.
Investigando a respeito, apuramos que este patrimônio está sob a invocação do
Divino. Não prosperou e está até hoje reduzido ao mesmo primitivo cruzeiro que,
aliás, foi erguido no mesmo dia de seu congênere da sede; rodeado de ex-votos
lá está hierático à margem do caminho que, passando pela Vila Tomaz, se dirige
para os bairros do Cedro e do Guamirim, caminho por onde transitavam os
primeiros habitantes do povoado; e mais tarde substituído com a abertura da
Boiadeira.
Em
1889 foi nomeado primeiro inspetor de quarteirão de Jataí recaindo a escolha no
Cap. Delmiro Corrêia e iniciada a construção da primitiva cadeia, nos fundos da
atual Feira, construção essa feita de grossos esteios de aroeira, revestida de
pedra tapiocana e com dois pavimentos. Em 1902 foi criado o distrito policial
sendo nomeados sub delegado João Barboza do Amaral e suplentes João Baptista de
Lima e Antonio de Almeida Funchal.
Havia,
também, no incipiente povoado, um cemitério cercado de grossas pranchas de
aroeira onde se inhumavam os mortos da clã tanabiense sem a formalidades de
estilo. Funcionou até 1918, na esquina fronteiriça à atual Praça da Bandeira,
onde se acha agora moderna quadra de basquetebol.
Fundado
trinta anos após São José do Rio Preto (que na ocasião contava somente cinco
casas), por muitos anos o velho Jatai dormitava à beira da estrada acolhendo
tropas em comitivas que iam e vinham da Mato Grosso a Barretos. Só depois de
instalado o distrito de paz (1907) é que lhe adveio relativa prosperidade. Com
o distrito, recebeu nova denominação Tanabi, ou seja: “madeira adstringente,
que aperta” segundo Urbino Viana e ainda “rio das borboletas” na versão de
Plínio Ayrosa, designação essa sugerida pelo saudoso político riopretense Cel.
Adolfo Guimarães Corrêa. Numerosas famílias vindas de pontos distantes aqui se
fixaram, ou se embrenharam pelo interior remoto abrindo sítios e fazendas, por
sua vez fundando povoados como Marinheiro, Água Paradas, Piassava, Carvalho e
Santa Helena. Em 1913, juntamente com seu irmão João Alves Monteiro, para aqui
se transportou, vindo de Barretos, o Cel. Militão Alves Monteiro que exerceu,
com seu prestígio, marcada influência nos destinos da zona.
No
que tange ao seu território, propriamente dito, revela notar que até 13 de
março de 1925 pertenceu à jurisdição municipal de São José do Rio Preto; vinte
anos depois, em 1945, fragmentou-se, por cissiparidade, em três partes
distintas: os domínios latifundiários da Ponte Pensa, na bacia do Paraná,
passaram a integrar o município e comarca de Pereira Barreto, que teve por
núcleo inicial um quisto nipônico; extensa área de terras (cerca de oito mil
quilômetros quadrados) passou a compor os municípios de Fernandópolis e
Votuporanga, sendo esta elevada concomitantemente de distrito a comarca; em 1948,
dois novos municípios dele se desmembraram reduzindo-o à décima parte. Além de
três comarcas onze municípios e 21 distritos, com numerosas povoações
florescentes, pontilham a imensa gleba que já esteve e que, em parte, se
encontra sob sua jurisdição. Eis a nominata dos distritos de paz: Tanabi,
Cosmorama, Ibiporanga, Américo de Campos e Pontes Gestal, nessa comarca;
Votuporanga, Simonsen, Álvares Florence, Valentil Gentil, Meridiano, Parizi,
Cardozo, Pedranópolis, Macedônia, Indiaporã, Fernandópolis, Estrala do Oeste,
Jales, Dorcinópolis, Victória Brasil e Três Fronteiras, estes na comarca de
Votuporanga.
O
machado iconoclasta abate a floresta derredor; consideráveis forças telúricas
prendem o homem ao solo feracíssimo levando-o a olvidar o convite sedutor das
metrópoles onde a existência é mais suave. A paisagem aos poucos se humaniza
com a aparecimento de novas instalações agro-pecuárias e industriais. “Os
movimentos dos grupamentos humanos, escreve Nelson Werneck Sodré, in
“Oeste”, pág. 105, são motivados, sem dúvida, por impulsos de ordem econômica.
É a necessidade que compele tais infiltrações, expansões e deslocamentos. Eles
se fixam onde o trabalho permite tal fixação. Aí se enraízam, desdobram e são
assimilados”. Numerosos sítios, ainda há pouco desertos de ecúmeno, são agora
povoados de casebres e arroteados pelo homo viril; daí surgem lavouras
promissivas e emansipadoras. Em torno da ossatura do espigão mestre Turvo
Dourados, onde a Araraquarense cava seu leito em busca da caixa líquida do
Paraná, é que se processa a grande penetração humana dos últimos tempos. Aí
nasceram e nascem povoações que são a um tempo vilas e cidades tão rápida é sua
eclosão, tão vertiginoso seu desenvolvimento!
Tanabi
é uma dessas cidades que surgiram como pouso no caminho palmilhado por
indígenas e bandeirantes, caminho que se concretizou na Estrada do Taboado,
agora com meio século de existência, e que perdeu sua razão de ser preterida
que foi pela ferrovia. Nasceu, pois, do fator estrada, como toda boca de sertão
e foi mesmo antigo pouso de boiadeiros e de peões, onde imperava a civilização
do couro, mas, contrariamente ao que se presume, Tanabi não vive mais no
passado do que no presente e tem, sim, vida ativa que se caracteriza por
intenso movimento comercial e cultural exercendo peculiar influência em toda
região limítrofe. Pouco lhe resta de seu imenso e outrora inexplorado
território primitivo, mas, em compensação, sua população iniciada com um só
habitante, em 1860, com alguns fogos esparsos em 1882, data de sua fundação,
tem, atualmente (1949) cerca de seis mil habitantes na sede a mais de trinta
cinco mil em toda a comarca, esta, aliás, com uma superfície orçada em mil,
oitocentos e setenta quilômetros quadrados abrangendo três municípios: Américo
de Campos, Cosmorama e Tanabi propriamente dito.
Efemérides Tanabienses.
No
decorrer do ano santo de mil novecentos e cincoenta, comemora, Tanabi, um
punhado de gratas efemérides salientando-se, entre elas, seu jubileu municipal.
Há vinte e cinco anos, ou seja, precisamente, no dia 13 de março de 1925,
instalava-se, com grandes festas e intensa alegria, a jovem comuna de Tanabi
criada pela lei nº 2009, de 23 de dezembro de 1924, com território desmembrado
de Rio Preto. Com essa lei, que concedeu foros de cidade à incipiente sede
distrital, Tanabi passou a figurar na vanguarda de grandes cometimentos, como
sentinela avançada na conquista do sertão império, emancipando-se,
conjuntamente com Mirassol e Monte Aprazível, e a que mais tarde se juntaram
Ibirá, Nova Granada, José Bonifácio, Potirendaba, Uchoa, Cedral e outras
localidades situadas na periferia riopretana.
No
contexto da lei citada ressalta que as lindes extremas do novel município
apóiam-se em acidentes naturais, divisão ideal preconizada por Elisée Reclus e
seu roteiro é quase um decalque das primitivas divisas descritas na lei 992, de
01 de agosto de 1906, que criou o distrito de paz: “Começam no rio Paraná, na
barra do rio São José dos Dourados; sobem por este até a barra do córrego
Fortaleza, pelo qual sobem até a barra do córrego da Grama e por este até a sua
cabeceira principal; continuam pelo divisor que deixa, à direita, as águas do
rio São José dos Dourados e córrego do Balsamo e rio Preto e à esquerda, as do
rio Preto e córrego jataí até a barra deste córrego, no rio Preto; descem os
rios Preto e Grande até a barra do rio São José dos Dourados onde tiveram
começo”.
Pormenor
digno de apreço, releva notar que, embora elevada a distrito de paz, Tanabi,
outrora, só obteve categoria de vila nos termos da lei 1058, de 19 de dezembro
de 1906, a qual, em seu parágrafo 5º, art. 4º, CP. I, assim declara: “Terão a
categoria de cidade as sedes de municípios e de vila a dos distritos de paz que
constituírem povoações distintas da sede do município”
Mas,
o distrito de paz não lhe trouxe, como era de prever-se, o ambicionado
progresso e o povoado, composto de raros casebres, vegetava à margem da
Boiadeira e teve lento desenvolvimento no decurso do primeiro quartel deste
século, bastando recordar que, no ano de 1916, segundo se infere de publicação
oficial da Câmara Municipal de Rio Preto, o distrito de Tanabi concorria para
os cofres públicos com uma arrecadação orçada em Cr$ 2.675,00 ao passo que sua
despesa não ultrapassava Cr$1.840,00.
Por
essa ocasião, transferindo-se de Barretos para estas bandas o Cel. Militão
Alves Monteiro e seu irmão João Alves Monteiro, acolitados por outros denodados
sertanistas como o Cap. Daniel da Cunha Morais, Antonio de Faria, Jerônimo
Fortunato Alves Pereira, Manuel Pereira Leal, Veríssimo Ferreira Junior,
Antonio Soares Bomfim, Gabriel de Oliveira e mais companheiros conjugaram seus
esforços no sentido de conseguir a emancipação política do distrito.
Rasgaram-se as primeiras estradas em demanda do Porto Taboado, seguindo a rota
da Boiadeira, de Américo de Campos e Monteiro. Abriram-se em plena selva as
primeiras grandes fazendas agro pecuárias e um surto de progresso melhorou o aspecto
do povoado. Em 1922, quando se comemorava em todo o país o centenário de nossa
independência, Tanabi logrou a criação de sua paróquia, por decreto firmado em
São Carlos do Pinhal, pelo Arcebispo Dom. Marcondes Homem de Melo, e
conseqüente nomeação do primeiro vigário Pe. Agostinho dos Santos Pereira.
Com
a divisão do antigo e imenso município de Rio Preto, o perada em 1924, consegue
Tanabi sua autonomia administrativa aos 23 de dezembro desse ano, pela lei
2009. no ano seguinte, a 13 de março, grandes festejos assinalam a solene
instalação da Câmara Municipal, e, registrando a magna ocorrência, transladamos
ipsis literis o documento que trás o relato das solenidades: “Ata de
instalação do município de Tanabi. Às 12 horas do mez de março, no dia
13 do mesmo mez do ano de 1925. nesta cidade de Tanabi, no edifício destinado
às sessões da Câmara Municipal, à rua Coronel Joaquim da Cunha Junqueira,
reunidos ai os vereadores eleitos, diplomados e reconhecidos cidadãos: Cel.
Militão Alves Monteiro, Marcílio Cesário de Magalães, Veríssimo Ferreira Júlio,
Augusto Manoel Elias Abufares, Manoel Pereira Leão e José Flávio de Moraes
sobrinho, sob a presidência do Meretíssimo Juiz de Direito da comarca de Rio
Preto, Dr. João Elias da Cruz Martins, abriu-se a sessão solene da instalação
do Município de Tanabi, pertencente à referida comarca. O Dr. Presidente, em
breve, mas eloqüente alocução, congratulou-se com os habitantes desta cidade,
pela justa aspiração que é a criação do município, que ora se instala, e, com o
Governo do Estado, por esse auspicioso acontecimento. Dando o compromisso aos
vereadores eleitos, convidou para secretário da reunião, o vereador José Flávio
de Moraes Sobrinho, ordenando em seguida, ao escrivão do Jury e do Juízo da
comarca, que lavrasse os termos de compromisso dos vereadores, sendo por todos,
assinado. Declarando o Dr. Presidente que poderiam usar da palavra quem o
desejasse, levantou-se o vereador Augusto Manoel Abufares que agradecendo
congratulou-se com o povo desta terra pela realização do seu desejo, prometendo
que ele e seus companheiros cumpririam com zelo e patriotismo, seus deveres de
vereador. Em seguida usou da palavra o advogado Dionizio José dos Santos filho que dirigiu vibrante
saudação ao Cel. Militão Alves Monteiro, aos membros do Diretório, vereadores
eleitos, não somente em seu nome, como também em nome do Cel. Fabiano Barreto.
Falou em seguida o Reverendo Pe. Agostinho dos Santos Pereira que em
entusiásticas palavras dirigiu saudação ao referido chefe político, vereadores,
membros do diretório e ao povo desta terra. Fez em seguida vibrante oração, em
nome da classe operária, o Sr. Oscar Rufino. Depois foi proferido eloqüente
discurso de saudação ao chefe político desta localidade e vereadores eleitos,
pelo advogado Adauto do Amaral, em nome próprio e em nome do Capitão Augusto de
Almeida e do povo de Severinia. Falou em seguida o Dr. Abelardo de Oliveira
congratulando-se com o chefe político, vereadores, membros do Diretório e com o
povo desta terra pela instalação do município. Pelo Juiz de Direito foi
declarado que tendo compromissado os vereadores, estava instalado o município,
pelo que se regosijava e declarava encerrada a sessão de que vai lavrada a
presente ata por mim secretário escolhido que a assino, bem como o Dr. Juiz de
Direito, todos os vereadores e pessoas presentes à este ato. (a.a.) João elias
da Cruz Martins, Militão Alves Monteiro, Marcílio Cesário de Magalhães,
Veríssimo Ferreira Júlio, Augusto Manoel Elias Abufares, Manoel Pereira Leal,
José Flávio de Moraes Sobrinho, Joaquim Pinto da Costa, Antonio Fidelis, Oscar
Pires, Arlindo Faria, Rufino Rodrigues Barboza, Nestor Biazon, Aziz Maluf,
Francisco Laurito”.
Segundo
lemos em “O Direito”, primeiro jornal que aqui circulou, contava o município,
por ocasião de sua instalação, doze mil habitantes e possuía 3 farmácias, 3
hotéis, 2 jardineiras diárias, correio e telefone. Aos 4 de abril de 1925 foi
criada uma coletoria estadual de 4º classe, inaugurada a 9 de junho do mesmo
ano, sendo empossados nos cargos de escrivão e coletor, respectivamente, os
senhores João Gomes da silva e Francisco Laurito.
Numa
das primeiras sessões da novel edilidade foi, pelo vereador Augusto fManoel
Elias Abufares, apresentado o projeto nº 6 que tratava da desapropriação de
terrenos para a formação do Jardim Público, o qual teria a denominação de
“Praça 13 de março”, em homenagem à data da instalação do município, projeto
esse de flagrante atualidade, para o qual deviam atentar os nossos edis, no
tocante à nomenclatura de nossos logradouros públicos.
Com
a revolução de 1930, que grande impulso proporcionou à zona interiorana, dado o
desafogo político que a entorpecia, numerosas localidades brotaram pela
interlândia. Em 1932, prosseguindo a Araraquarense, em direção ao Taboado,
atinge Mirassol e, posteriormente Balsamo e Balduino em demanda de Votuporanga.
Como um toque de mágica, toda a jungle sertaneja desperta e novas
cidades surgem. Ao ritmo desse progresso avassalador, Tanabi vê sua imensa
gleba municipal fragmentar-se e aglutinar-se para a formação de numerosos
distritos, municípios e até comarcas.
Sede
comarcal desde 13 de junho de 1945, numa área de mil oitocentos e setenta
quilômetros quadrados, com jurisdição nos recém criados municípios de Cosmorama
e Américo de Campos, Tanabi é hoje município mediano, tendo sido o maior do
Estado. Comparado ao passado é agora pequenino, territorialmente falando, mas
assim mesmo, e talvez por isso mesmo, ostenta provas de vitalidade invejável n
círculo de seu vizidário.
Tanabi,
01 de julho de 1950.
História de Tanabi
Ao ensejo das comemorações do 75º
aniversário da cidade de Tanabi, cabe-nos a nós, um dos responsáveis pela
fixação de seus fatos históricos, traçar algumas linhas relativas à data de
fundação, além do que consta de nosso ensaio inédito subordinado ao título que
encima estas linhas.
Assim é que, como subsídio ao que
escrevemos, referente á fundação e primórdios de povoamento, ajuntamos nestas
nótulas, elementos novos colhidos alhures, quer em depoimentos fidedignos, quer
em leituras de atas, apontamentos, jornais e outras fontes dignas de crédito. A
história é um processo em perpétua revisão postularam Marincourt e Bertrant em
seus abalizados escritos.
A fundação da Capela do Jataí, isto
é, o ato simbólico da ereção da cruz, símbolo cristão com foros de marco
oficial, deu-se, precisamente, aos 4 de julho do ano da graça de mil oitocentos
e oitenta e dois. Até aqui nada a aduzir. Mas, e aqui é que bate o ponto, além
de Joaquim Chico, a quem nossa tradição conforme honras de fundador, cujo nome
completo é Joaquim Francisco de Andrade, tomaram parte na festa inaugural
Hilário de Souza Rozendo, Agostinho Pereira, Manoel Francisco da silva, Joaquim
Euzébio, Bento Perez de Souza (o carpinteiro que lavrou o cruzeiro) e ainda: Polenice
Celeri, cognominado “O Alferes”, e que exerceu, vida afora, acentuada
influência social em torno do povoado e ajudou a fundar; quase todas as
iniciativas locais, naqueles tempos, devem-se a ele; Leonildo Bataglia, seu
companheiro inseparável desde a Itália, e, ainda, João Barboza do Amaral, o
“Amaralzinho”, natural de Sergipe, também um dos primeiros comerciantes da
localidade. Na manhã desse dia memorável de 4 de julho, celebrou-se missa
campal, que foi assistida por todos os moradores das cercanias, homens,
mulheres e crianças sendo oficiantes padres missionários provindos de Campo
Belo, longínqua localidade das rechãs mineiras, que, periodicamente visitavam
os sertões destas bandas aquém Rio Grande, e aqui celebravam casamentos,
batizados e outros atos religiosos. Como nota pitoresca, rezam as crônicas,
tomavam notas em papel de embrulho.
No próprio dia da fundação foram
celebrados, entre outros, o casamento do Alferes com d. Ana Delmina de Paula,
casamento esse feito numa capelinha de sapé adrede construída pelos habitantes
do lugar. Logo após, vendo estes que a cabana era insuficiente projetaram a
construção de uma igrejola de madeira e fizeram, também, uma casa para o
carpinteiro que cuidava desses serviços. Mas o certo é que a igreja não foi avante
pois, antes de ser colocado o telhado, verificaram que os esteios estavam
tortos e o madeiramento empenado. A esse tempo já existiam aqui algumas vendas:
a do Joaquim Chico, por nós mencionadas noutros escritos, a do Alferes, que
também montou a primeira farmácia, a do Amaralzinho, um engenho de cana de
Antonio Severiano da Costa, além de outros melhoramentos. Em 1891 foi iniciada
a construção da igreja de alvenaria, em estilo colonial, demolida em 1932; os
tijolos e telhas vieram da olaria do Alferes, no Jataí de Cima; por não haverem
artífices na localidade trouxeram um pedreiro, o Ludovico, das bandas de
Taquaritinga, contando-se, entre os que auxiliaram a construção: Polenice
Celeri, Jerônimo Gomes Machado, Tobias de tal, Joaquim Pernambucano, Antonio
Severiano da Costa, provavelmente, Adolfo Honório. Vieram depois as primeira
imagens, a saber: a da padroeira escolhida, Nossa Senhora da Conceição; a de
São Sebastião, do Senhor do Bom Jesus e a do Divino sendo estas imagens
benzidas por Pe. Antonio e Pe. José Bento procedentes de Rio Preto.
Em 1901 Dante Celeri termina a
construção do primeiro prédio de tijolos do vilarejo, prédio esse que tinha no
frontispício não só a data de sua conclusão, como, ainda, desenhada em relevo,
as armas da coroa real Italiana, um luxo para a época, a entremostrar
reminiscências atávicas de seu proprietário. Já havia, nessa ocasião,
funcionando, escolas particulares onde lecionavam primeiras letras Eduardo
Ferreira Guedes e Antonio do Rego, professores leigos pois não os havia
diplomados na região. O primeiro cemitério do povoado foi feito em 1895 pelo
Bataglia em terrenos onde está hoje a quadra de Cestobol na esquina da praça da
Bandeira.
Para complemento destas anotações
que, manda a verdade, houvemos por bem inserir, para que não pairem dúvidas aos
futuros historiadores desta terra, que estremecemos, como homenagem á sua
figura magna pars, vamos, unindo a lenda à realidade, transcrever aqui o termo
de óbito de Joaquim Chico, o fundador, copiando, na íntegra, e com todo sabor
do original, documento lavrado à folhas 126 do Livro C-1 do Cartório de
Registro civil local:
86
– “Aos vinte e cinco dias do mez de Novembro do anno de mil, e nove centos e
dez nesta Villa de Tanaby, em meu cartório, compareceu Azarias Paulino de Andrade,
e declarou-me, em prezença das testemunhas abaixo assignadas, que hontem, as
dez horas da noite nesta Villa de Tanaby em caza delle declarante falleceu
Joaquim Francisco de Andrade, de cor parda com noventa e sete annos de idade
natural da cidade de Campanha Estado de Minas, de filhação eguinorada, sendo
cauza da morte, febre, dando-se o falecimento sem assistência médica, foi
constatado o óbito por duas pessoas edoneas. Do que para constar fiz este termo
que assigna o declarante e testemunhas. Eu, Francisco Zeferino do Carmo,
Official do Registro Civil, que o escrevi, Azarias Paulino de Andrade, Cassiano
Maciel da Silva, José da Silva Pereira”.
São estas, pois, as alterações que
houvemos por bem publicar no que tange à história local agora que comemoramos,
eufóricos e felizes, os três quartos de século de fundação desta mui nobre e
leal cidade de Tanabi.
Tanabi, 2 de julho de 1957.
Aspectos curiosos da história de Tanabi
O nome Tanabi foi
proposto pelo político riopretense Adolfo Guimarães Corrêa por ocasião da
elevação do povoado a distrito de paz.
O inspetor escolar
Cândido de Corte e Brito visitou a escola isolada do Jataí, fazendo
o percurs a
cavalo. A data : 1908.
Em 1922, as escolas
isoladas foram transformadas em escolas reunidas, sendo nomeado primeiro
diretor o professor Tertuliano Soares Albergaria.
Em 1879, o alferes Joaquim Inácio adquire o Varjão dos Dourados pela
quantia de mil e oitocentos cruzeiros, imóvel esse que foi vendido, em 1916, ao
Cel. Militão Alves Monteiro por três mil cruzeiros. Aliás, o imenso latifúndio
das Araras, com 72.000 alqueires, foi, em 1900, vendido por uma simples trela
de cães de caça.
A data da fundação de
Tanabi, 4 de julho de 1882, por nós fixada, baseados em depoimentos de antigos
moradores, foi oficialmente instituída por lei municipal, datada de 29 de junho
de 1949, assinada pelo então prefeito Ary Terra Sócio.
Desmembrado do município de Rio Preto pela lei estadual nº 2009, de 23
de dezembro de 1926, o município de Tanabi foi instalado em 13 de março de
1925. Fato
digno de registro, inédito em todo o Brasil, foi criado o cartório do registro
geral nesta cidade, sendo seu primeiro titular o Dr. Urbano Ganot
Chateaubriand.
Durval de Góis
Monteiro, irmão do General Góis Monteiro, foi o primeiro delegado de
polícia, de carreira,
em Tanabi.
O primeiro médico a
clinicar nesta cidade foi o Dr. Américo do Nascimento. Polenice Celeri, na
fundação da cidade, fundou a primeira farmácia aqui existente.
Em 1925, aqui circulou
o primeiro automóvel de propriedade do fazendeiro João Alves Monteiro; motivo
de intensa curiosidade, o veículo foi transportado até esta cidade,
via Boiadeira, com
grande dificuldade.
O Campo de Aviação
local foi construído pela população por ocasião da revolução constitucionalista de
1932.
Segundo relato de
Eduardo de Paula Brandão, habitavam, nas cercanias do Jataí, os seguintes
moradores: Dante Celeri, Antônio Soares Bonfim, João Barbosa do Amaral, Manoel
Antônio Pereira Lima, Laudelino de Brito, Francisco Zeferino do Carmo, Joaquim
Tito da Costa, e, na zona rural, Polenice Celeri, José Alves Ferreira, Daniel
da Cunha Morais, Marcilio Cesário de Magalhães, Gabriel José de
Oliveira e João
Alves Monteiro.
Polenice Celeri, que se
mudou de Ibirá para o Jataí em 1880, casou-se no religioso com Ana Delmira de
Jesus no dia 04 de julho de 1882.
Em 20 de dezembro de
1922, foi nomeado vigário da paróquia de Tanabi o Pe. Agostinho
dos Santos Pereira.
Em 1926, o famoso
fascínora João Cacheado é linchado na Cadeia Pública, sob as vistas
complacentes das autoridades locais, fato esse que motivou a criação da
comarca não em
Tanabi, mas sim
em Monte Aprazível.
Era de 3.000 almas a
população citadina em 1938.
Em 26 de outubro de
1930, logo após a vitória do movimento revolucionário getulista, com a chegada
das forças provindas de Porto Taboado, que ocuparam a cidade, registraram-se
motins dos quais resultou um morto e, vários feridos. Era delegado de Polícia o
Dr. Pedro de Albuquerque Cavalcanti.
Velho presídio de Tanabi
Desfilaram, na parada
do Tempo, um septenário de lustros, trinta e cinco longos anos
despenharam-se na garganta
absorvente do ocaso...
Remontando-nos a esse
período decorrido, tentamos recompor, auxiliados pelas versões, muitas vezes contraditórias,
dos contemporâneos, dos remanescentes dessa época afastada, o viver simples dos
habitantes do lendário Jataí de então.
Ressaltam, dessa
objetivação a que gostosamente nos entregamos, figuras marcantes como a do
Alferes, do Amaralzinho, do Bataglia e tantos outros quase todos já colhidos e
tragados na voragem impiedosa do tempo, individualidades que formavam a
ambientação rudimentar do incipiente “arraial” em seus lineamentos nascentes e
que, pelo muito que fizeram em prol desta terra, lugar de destaque
merecem nas páginas
de sua história.
Museu de recordações
vividas dos bons tempos de antanho é o nosso largo da Matriz; nele se resumia a
vida vilarenga daqueles dias: a capelinha tosca com arremedos de estilo
colonial, a casa onde residiu Dante Celeri, que tinhano frotespício uma coroa
real italiana e a data de sua edificação: “1902”; finalmente, a antiga cadeia e
mais casebres das vizinhanças como atestados vivos das primeiras construções
do povoado.
É do presídio, porém,
que vamos tratar neste rápido escorso, tentando fotografar à
pena as impressões
que sua visão
nos sugere.
Trata-se de uma
casamata assobradada de rudimentar estilo-e note-se: o único prédio de dois
pisos até hoje construído na cidade – plantada nos fundos da praça; circunda-a
uma vegetação carrasquenta, fruto espúrio de solo árido e pedregoso; logo
abaixo, em rápidos declives, opera-se a junção do Jataí e do Bacuri, confundido
suas águas que descem marulhosas, em
coleios curvilíneos, rumo ao nordeste.
Esteios de aroeira,
angulados pelo machado de exímio carpinteiro, sustentam – hieráticos e pasmos –
a envergadura pesada do grosso travamento; paredes grossas, bojudas e
disformes, construídas de pedras comprimidas e soldadas por leve camada de
argamassa onde a caliça vai, paulatinamente, se desprendendo, eretas se mantêm
por milagres de equilíbrio; o telhado, negro e caliginoso, onde a pátina do
tempo desenhou esquisitos lavores, é o ponto predileto de irrequietas
andorinhas que elegeram seus desbeiçados beirais para neles edificarem seus
ninhos prolíficos e pipilantes...
Mas a parede frontal do
rez-do-chão, de há muito arruinada lentamente, se desfaz em disforme amontoado
de pedras: no entanto, a porta gradeada, de madeira, que dá acesso ao interior
da infecta enxovia, lá ficou erécta e escancarada como a
gargalhar sinistramente uma
risada de escárneo...
O lado interno daquela
primitiva detenção é bem um quadro lúgubre de horror e pestilência. Evoca-nos
aquelas confrangedoras páginas de Dante quando lançamos nossas vistas em torno
dos míseros cubúculos soturnos e tétricos de que se compõem; nas paredes
esborcinadas a imaginação fantasista descobre contudo de espantosas linhas
compondo indecifráveis hieróglifos de estranhas formas.
Decadente e corroída
escada de madeira liga o pavimento térreo ao plano superior e aí, nesse
aposento de uma só peça, cinco amplas janelas deixam lobrigar o horizonte para
os quatro pontos cardeais; delas, algumas, cansadas de girar nos ferrugentos
gonzos que as sustentam, tombaram para o lados numa atitude displicente, desprezo
atroz, consciente esquecimento
de si próprias...
Eis, em pinceladas
vagabundas e despretensiosas, o quadro ruinoso desse atestado perene de um
passado remoto, relíquia a lembrar-nos – imagem da saudade – a odisséia ignota
e selvativa desses tempos volvidos, na pacatez do burgo nascedoiro.
Mais além, no topo da
praça quadrangular, a matriz solitária e triste também se ressente do ferrete
temporal que a estigmatiza; esta, porém, possui ainda o carinho confortante de
um povo que a não esquece, dantes a desvela prodigalizando-lhe cuidados
reparadores dos estragos das intempéries, aopasso que o velho
presídio definha num
patente ostracismo.
A cidade trepou a
esplanada da colina rumo ao ocidente – caminho da civilização – e por isso
olvidou a antiquada prisão; desapareceu o chiado monótono do tradicional
carro-de-bois cedendo lugar ao estrépido explosivo dos motores; Klaxonam
buzinas estrídulas na saleência das esquinas e usinas barulhentas
ferem o ar
com seus apitos
impiedosos.
Tanabi e seu presídio
Tanabi
queiram ou não, cassandras derrotistas, tem progredido a olhos vistos em todos
os setores. Assim é que, nada obstante ficar à margem da ferrovia, e de ter
perdido parte de sua importância comercial em benefício da região sertaneja, em
cujo território se processou o condensamento de vários núcleos urbanos, hoje
transformados em prósperos distritos de paz, municípios e até comarcas, graças
ao nomadismo de nossa gente que deu outrora o bandeirismo e produz agora
moderno pioneiro. Contrariando todos os fatores adversos, Tanabi jamais deixou
de se impor no conceito das localidades vizinhas e graças a essa emulação
conquista, paulatinamente, seguras posições no terreno do progresso material e
quiçá cultural.
E
principalmente neste terreno que nossa terra adquire foros de cidade
civilizada, mostrando, além disso, evidentes sinais de evolução e vitalidade
dado que conta atualmente com diversos melhoramentos que, à porfia, fazem-na
cada vez mais ombrear e mesmo superar em alguns pontos suas rivais lindeiras.
Nesta ordem alinham-se: o Aéro Clube, com sua escola de pilotagem; a Biblioteca
Municipal com ótima porcentagem de freqüência; o Grêmio Literário e recreativo;
o Ginásio “Fernando Costa” e o Grupo Escolar com suas majestosas edificações; o
Hospital “São Vicente de Paula” com âmbito, além-fronteiras; o Centro de
Puericultura, único da zona; o Fórum e todo o aparelhamento judiciário de sua
novel comarca; muitas outras realizações de vulto que seria ocioso aqui
relatar.
No
entanto, e talvez por isso mesmo, vamos aqui mencionar nódoa que vive a macular
sua tradicional fama, labéu e mazela que é preciso extinguir antes de serem
dados outros passos na senda do progresso. Referimo-nos à Cadeia Pública
instalada, como todos sabem, num prédio em ruínas tendo unicamente duas celas
sombrias onde, em triste promiscuidade, se acotovelam infelizes detentos,
tarados e psicopatas. O que se passa no interior desses cubículos talvez nem ao
próprio Dante ocorresse descrever, tamanha é a ignomínia do quadro que se nos
antolha, miserandos, infectos e nauseabundos! Visitar esse presídio é receber,
na certa, chocante impressão de desalento e tristeza e, porventura, de remorso,
dado que todos nós temos nosso quinhão de responsabilidade nas culpas
coletivas. Custa a crer mesmo que, após milênios de existência cristã, ainda
tenhamos coragem moral de trancafiar semelhantes nossos em tão abjetas
pocilgas, como se esses deserdados da sorte já não tivessem outros estigmas a
suportar!
Não
haverá por aí uma alma de Cristo que se rebele contra esse estado de coisas,
contra tão deprimente situação e leve ao conhecimento das autoridades
superiores o fato de que num dos mais florescentes municípios paulistas, numa
de suas mais jovens comarca, existe um presídio que aberra tudo o que imaginar
se possa em matéria de torpeza, hediondez e indigência?
Deve
haver, sim, e também possivelmente haverá um governo que não fará ouvidos de
mercador e apelos dessa natureza mas atenderá reclamos de justiça mandando
construir em Tanabi, não um palácio de grandes proporções, mas um prédio
decente e habitável que sirva de abrigo àqueles que, pelo imperativo das leis,
venham a sofrer reclusão segregados da vida social.
Tanabi, 24 de maio de 1947.
Os
Japoneses em Tanabi e o Registro Civil.
É modesto o intuito que nos anima ao
traçar estas linhas: lançar rápidos comentários acerca do primeiro registro
civil de descendente japonês feito em toda a circunscrição judiciária do
município tanabiense.
Tanabi, ainda que nem todos saibam,
é uma das maiores, si não a mais vasta célula municipal do Estado de São Paulo,
justamente uma dúzia de quilômetros quadrados, integram seu imenso território
em que há zonas de reduzida densidade demográfica, mormente os grandes
latifúndios das barrancas do Paraná.
Limita-se ao Norte, com o Estado de
Minas, a Oeste, com Mato Grosso, ao Sul, com o município de Monte Aprazível e a
Este, com os municípios de Mirassol e Nova Granada.
Em suas terras feracíssimas,
diferentes nacionalidades se mesclam num “melting pot” caldeador.
No vizinho município de Monte
Aprazível, há quase trinta léguas da sede, nas vertentes do Tietê, está
localizada a cidade amarela; Novo Oriente; possui Grupo Escolar, Hospital,
Fiação de Seda, Delegacia de polícia de 5º classe, Sub-Prefeitura e Cartório de
Paz.
Ai tudo lembra o Império do Sol
Nascente; excepto os funcionários das repartições civis poucos brasileiros aí
residem.
Nova Granada, por sua vez está
bastante penetrado por imigrantes dessa raça, principalmente Onda Verde, que é
o maior centro algodoeiro da região, quiçá do Estado.
Rio Preto, cidade de grande
movimento, possui bons estabelecimentos comerciais, de propriedade e direção de
japoneses e onde os seus patrícios se abastecem.
Não obstante essa infiltração, até
cerca de dois anos á esta parte, nenhum filho do DAÍ NIPON fixara residência
neste município.
O trabalhador japonês era aqui
desconhecido.
Para comprovar essa assertiva, nada
melhor que os livros de Registro Civil, a nosso cargo, cujo arquivo de trinta
anos, não acusa, até 1935, um só nome arrevesado dos nipônicos.
Além disso, sabemos de fonte limpa e
conhecimento de causa de que os súbditos do Mikado jamais se estabeleceram em
Tanabi, quer no comércio, quer nas lides afanosas da lavoura em que são
peritos, denodados, perseverantes.
Vagas referências induzem crer que,
nos cofins lindeiros, na “Ponte Pensa”, uma Cia. Japonesa possui alguns
milhares de alqueires, incultos e desabitados.
Há pouco mais de um biênio, dois
japoneses Jinshiro Tagashira e Sartore Okay, vindos de Catanduva, Catanduva é
um grande centro habitado por essa “gens”- adquiriram, por compromisso, do Cel.
João Alves monteiro, setecentos alqueires de terra; esses terrenos, reduzidos a
lotes, foram sendo vendidos aos seus conterrâneos que aí se fixaram com o
propósito de cultivar o ouro branco que é, aliás, a sua lavoura predileta.
Data daí a introdução das primeiras
famílias asiáticas na jurisdição municipal.
Actualmente sabemos residir aqui dez
famílias; a do Sr. Tagashira, na cidade, tendo uma sua filha concluído no Grupo
Escolar local o curso primário; oito famílias na fazenda “Nova”, de que atrás
falamos e a do Sr. Yosito Tashima, na
fazenda “Jataí de baixo”, onde é arrendatário de quarenta alqueires de terras,
agora cobertos de viçoso algodoal.
Bons trabalhadores; elemento
ordeiro; nada temos a objectar sobre seu modo de viver; em alguns pontos podem
até servir de padrão ao nosso sertanejo indolente e descoroçoado.
Entretanto, a vida civil desses
advenas continuava ignorada para nós funcionários do registro civil; nenhum
lançamento de pessoas naturais, dessa nacionalidade, fora até aqui feito em
cartório.
Até que em fim, a 03 do corrente
fomos agradavelmente surpreendidos com a vinda á repartição de um sorridente
amarelo que, mais por gestos que palavras, nos manifestou o desejo de senta
crianno livro...
Embora tratando-se de domingo,
consagrado ao descanso funcional, atendemos com muito prazer ao rude
trabalhador, tendo, até, certo orgulho de podermos, afinal, anotar os nomes,
prenomes, filiação, etc. De uma pequerrucha de olhos de amêndoa.
Vencendo as dificuldades naturais de
pronuncia e compreensão, conseguimos redigir o termo que a título de curiosidade
vai a seguir transcrito:
“Nº 5270 – (cinco mil duzentos e
setenta) – Aos três dias do mês de janeiro de mil novecentos e trinta e sete,
nesta cidade de Tanabi, comarca de Monte Aprazível, em cartório, compareceu
Kosaka Kaniti e declarou que ás dezenove horas do dia 1º (primeiro) de janeiro
deste ano, em seu domicílio na fazenda “Nova”, deste distrito, nasceu uma
criança de cor branca, do sexo feminino que recebeu o nome de YUHUMIKO KANITI,
filha legitima dele declarante e de sua mulher dona Yohsi Kaniti, lavradores,
naturais de Shiroshima e Tokushima, Japão e casados civilmente em Kurê, Japão.
São avós paternos, Kosaka Kanikiti e dona Kosaka Tabo, falecidos e maternos
Sadamo Kakuhiti e dona Sadamo Takeno, residentes em Tokushima, Japão. Do que para
constar lavrei este termo que, lido e achado conforme o assinam: o declarante,
as testemunhas Germano Robach e João Barbosa do Amaral, comigo Sebastião
Almeida Oliveira, Oficial do Registro Civil, que o escrevi. (a.a.) Kosaka
Kaniti, Germano Robach, João Barbosa do Amaral, Sebastião Almeida Oliveira”.
Manifestando interesse por esse
assunto, conseguimos apurar que o declarante é pai de dez filhos, alguns dos
quais nascidos e registrados no Brasil. Elogiamos seu esforço nesse sentido e
pedimos ao mesmo interessar seus patrícios no cumprimento das exigências de
nossas leis reguladoras da família.
Explicamos a ele a existência da lei
252, de 22 de setembro do ano findo, a qual, como é sabido, isenta de multa os
registros feitos fóra do prazo legal comum; havia, pois, convivência em
aproveitar os favores da lei.
Prometeu-nos o bom lavrador procurar
convencer seus compatriotas, entre o quais – disse-nos haviam diversas crianças
não registradas civilmente.
O facto não é de causar assombro,
porquanto temos tantos compatrícios nesse pé de igualdade...
Segundo informações fidedignas, os
lugares onde predominam os orientais pouco favorecem os funcionários do
Registro Civil, pela notória animadversão que aqueles votam ao nosso instituto
civil.
Até os papéis de casamento, uma vez
preparados de conformidade com as leis nacionais, servem para os nubentes
casarem-se... no Japão!
Não fazem questão de registrar seus
descendentes nos cartórios brasileiros (quando o fazem), por que, garante a
nacionalidade dos filhos, ainda que estes venham á luz em terras estranhas.
Querem a todo transe conservar o Yama
todamashu (espírito japonês).
Segundo estatísticas amplamente
divulgadas atinge a mais de cem mil o número de filhos de japoneses nascidos em
território brasileiro e registrados nos consulados daquele país.
O Código Civil Brasileiro reconhece
nacional ao filho de pais estrangeiros nascido no Brasil.
Há, pois, uma antinomia, da qual
resultam dualidade de pátrias; situações dúbias que precisam e devem ser
conjuradas por quem de direito: governo, legisladores, etc,
Antes, de mais nada, mantenhamos a
todo o custo, os dispositivos contidos nos parágrafos 6 e 7 do artigo 121 da
Constituição Federal Brasileira, os quais vedam a concentração de imigrantes em
qualquer ponto do país e fixa a quota de dois por cento para as correntes
imigratórias.
A menos que se queira permitir
budhicamente a formação nos intra-muros brasileiros de um imenso Kisto
asiático, um Shi Niho (Novo Japão).
Para que o Brasil não seja no futuro
uma mera expressão geográfica; para que ele continue sendo o desdobramento
evolutivo do organismo nacional, iniciado e continuado, pelo esforço das
gerações actuais. (Azevedo Amaral – O Problema Eugênico da Imigração).
BANZAI BRASIL! (VIVA O BRASIL!)
Tanabi, 08 de janeiro de 1937.
* Artigo
publicado no “Jornal do Comércio”e em “A Nota”,
do Rio de Janeiro.
A
Nossa Matriz
Vai
de vento em popa a construção de nossa Matriz.
Constituída a Comissão de Obras, na
forma da provisão assinada por_Dom.
Lafaiete libânio, aos Vinte e nove de agosto de 1.936 e empossada aos
onze de setembro daquele ano, entrou a mesma em franca actividade, trabalhando
com denodo e afinco, sob a presidência do Sr. Francisco Vargas, que, dito de
passagem, no exercício de suas atribuições, tudo tem feito em seu pról.
Assim
é que, como medida preliminar, foram iniciados os serviços de revestimento do
alicerce da parte a construir; é do domínio público o copioso material
consumido nas bocas hiantes dos enormes fossos, material esse consistente em
arêia, cal, cimento, pedregulho, ferro e massiços blocos de pedra, tudo
disposto de forma a garantir a mais ampla estabilidade ao grandioso edifício.
Meses após, já as possantes muralhas
de cimento-armado emergiam do solo na ânsia de atingir as cumiadas. E a
esperança ia renascendo aos poucos nos corações tanabienses, na espectativa de
que, em limitado espaço de tempo, ter-se-ia terminado o arcabouço estructural
do espaçoso tempo.
Agora é o terrapleno que se processa
rapidamente na parte circunscrita pelas paredes externas; as depressões e funduras
cederam lugar a nivelada quadra, formando o piso que será, futuramente,
revestido a mosaico.
Estamos
ainda no início, do ano e já se nota a desenvoltura das paredes laterais,
verdadeiros contra-fortes de composição granítica, apropriados a receber o peso
do travejamento e telhado e a resistir os embates do tempo.
Operários,
numa azafama sadia, tecem andaimes, assentam tijolos e preparam argamassa; aos
poucos surgem os lineamentos murais e todo o trabalho segue em rítmo harmonioso
e progressivo.
O
Padre Fidelis, coadjuvando eficientemente os membros da Comissão , entrega a
esta mais de dois contos e quinhentos mil reis, apurados dos recebimentos de
laudêmios, etc.; restaura os bimbalhantes sinos; coloca lindos vitraux
nas amplas janelas que banham de luz colorida o artístico altar, admirável
trabalho inacabado devido ao buril competente de João Vargas. Alem disso, manda
colocar, á entrada da parte construída, preciso anteparo; trata da aquisição de
um armonium e cuida de resgatar a dívida resultante da compra das
imagens sacras da Semana-Santa.
Tudo
isso sem alarde ou falazes promessas.
E
o povo começa a compreender que a Comissão está mesmo de facto empenhada em
concretizar o sonho tanabiense – a terminação da Igreja Matriz. Para
comprová-lo, aí temos os donativos entregues á tesouraria: Saul Vieira, doa
cincoenta mil reis; Marcilio Cesário de Magalhães, oferece dez mil tijolos.
Outras ofertas, sabemos estarem sendo encaminhadas, motivando nosso optimismo
no sentido de crêr que os trabalhos não sofrerão solução de continuidade, por
falta de numerário, á mingua da generosidade do povo desta terra, sempre
disposto a emprestar o seu auxilio a todas as boas causas.
As
localidades vizinhas: Mirassol, Monte Aprazível, Neves, Nova-Granada e outras,
esmeram-se na feitura de seus templos, alguns deles primorosas jóias de
arquitetura. Precisamos acompanhar pari-passu esse movimento creador,
construindo nossa Matriz dentro do menor prazo possível, afim de, podermos
mostrar aos visitantes o gráu de nosso adeantamento e o amor ás nossas
instituições entre as quais a Igreja está, indiscutivelmente, em primeiro
lugar.
Para isso, entretanto, necessário se
torna que todos - comerciantes, fazendeiros, industriais, sitiantes e colonos,
o povo em geral, contribua, na medida de suas possibilidades, com seus valiosos
donativos, em dinheiro ou gêneros, os quais poderão ser entregues directamente
á Comissão, para que esta continue aparelhada a contornar as vultosas despesas
que vêm sendo feitas nas obras em andamento.
Qualquer
contribuição será religiosamente aplicada nesse desinteratum.
Tanabienses!
emprestai vosso decidido concurso a esse nobre mister, concorrendo com urna
parcela dos vossos esforços para a conclusão mais rápida do magnífico templo
que será o orgulho dos presentes e a admiração dos postéros, a casa do vosso
DEUS!
Tanabi, 27 de janeiro de 1937.
Biblioteca Municipal de Tanabi
Num
dos seus apreciados sueltos subordinado ao título: “O Exemplo de Araçatuba”,
publicou, recentemente, o vespertino “Folha da Manhã”, de São Paulo,
interessante considerações sobre a criação de setenta e quatro bibliotecas
municipais espalhadas pelo interior do Estado, entre as quais figura a de
Tanabi, todas elas seguindo o sulco luminoso, iniciado na Capital da Variante,
com a instalação daquela casa de livros que se orgulha de esculpir, em seu
frotespício, o nome inconfundível do emérito jornalista que é, sem nenhum
favor, Rubens do Amaral.
Lisonjeia-nos
sobremodo, o fato de estar nossa terra inscrita entre essas poucas dezenas de
cidades do planalto que tiveram a feliz idéia de fundas uma biblioteca; sim, e
toda a vez que vemos o nome de Tanabi aparecer numa lista dessa categoria
exultamos de contentamento. E não é para menos o nosso entusiasmo, mormente
sabendo-se que, entre as duzentas e setenta cidades da interlândia paulista,
alinham-se numerosas de muito maior importância, política e economicamente
falando, do que a nossa e que ainda não tiveram semelhante iniciativa. E todas
elas necessitam, tanto ou mais que nossa terra, de uma biblioteca pública,
sendo de aconselhar uma campanha inspirada nos moldes da que está sendo feita
em prol da aeronáutica, pois os vôos do espírito também são importantes...
Mas,
e aqui é que bate o ponto em rijo; é preciso que essa biblioteca entre em
funcionamento imediato, para que não permaneça indefinidamente incubada num
decreto, como se fora letra morta. É preciso abrir-lhe as portas, entregando-a
à mocidade tanabiense, ávida de conhecimentos, que não dispõe de um lugar
propício onde dessedentar-se da “sede de saber” que a todos empolga. Para isso
nada mais é necessário do que dotá-la de instalação adequadas em local
acessível com uns poucos livros básicos para sua estréia e com isso não se
gastará uma fortuna. Depois, uma propaganda bem feita, carreará, para sua
estantes, as dotações dos que lhe queiram vê-la engrandecida, dos propagadores
de bons livros que aqui os há como em alhures e ainda das instituições
públicas, entre as quais, sobressai, por sua função precípua, o Instituto
Nacional do Livro.
Tanabi,
até esta data, quase nada tem feito pela cultura de seus habitantes, a não ser
contribuir subsidiariamente para o engrandecimento cultural de outras cidades.
Nada temos aqui de grande e elevado, nesse terreno, para mostrar aos que nos
visitam; nenhuma coisa que lembre cultivo da inteligência, cogitação superior
ao ramerão quotidiano: ganhar e gastar dinheiro, função de cidades
pioneiras. Não há aqui um só estabelecimento de ensino secundário e em seu
grêmio literário não há, sequer, uma revista para ilustração e deleita de seus habitués.
Ora, é urgente mudar de ruma, se não quisermos ficar na retaguarda das cidades
que nos rodeiam, reduzidos à simples condição de aldeiota sem vida cultural
própria, mero ponto geográfico de passagem que o desvio da linha férrea lhe
quer condicionar. Azado é, pois, o momento que se nos oferece para iniciar uma
campanha pelo soerguimento de nossas forças latentes com a instalação de nossas
forças latentes com a instalação da Biblioteca Municipal nos primórdios de
1942. A essa inauguração, forçosamente, outras iniciativas terão seguimento
imediato e Tanabi mostrará á todos, apologistas e detratores, que a chama do
pensamento aqui se extinguiu e que o espírito de sua gente flutua muito acima
das injunções materiais.
Tanabi, 27 de outubro
de 1941.
O Cavalo e sua influência
social em Tanabi.
Pela
configuração de seu vasto território, ilhado na mesopotâmia dos rios lindeiros,
o Paraná e seus coletores; Turvo e Dourados, de cruzamento dificultado pela
inexistência de pontes e de navegação organizada e ainda de caminhos de acesso,
o município de Tanabi tornou-se, ipso-fato, um dos derradeiros redutos a ser
explorado, pela aguiculturação de seu solo, em todo o Estado e quiçá, por esse
mesmo motivo, o habitat preferido; antigos meios de locomoção e transporte,
entre os quais tem lugar de relevo o carro de bois e o cavalo, hoje colocados
em primeiro plano em virtude da escassez de combustível, a qual, infelizmente,
tende a agravar-se com o prosseguimento da peleja que ensangüenta o Orbe.
Já
desde os pródomos de sua conquista pelos batedores de mato, esses primeiros
ousados pioneiros que lhe devassaram a selva penetrando-a, de facão em riste, e
puxando, pela picada assim aberta, a esquálida alimária vergada sob o peso
inclemente de provisões de boca e alguns trastes indispensáveis á nova
instalação no recesso da floresta, vem o cavalo, aqui, exercendo alta função
sociabilizante, quer como meio de condução, na sela ou no tiro, quer como
veículo adequado á varação de impérvios caminhos, onde só ele poderia
transitar, contribuindo, assim, para o encurtamento das distâncias, entre os
moradores da gleba latifundiária, hoje quase dissolvida, e conseqüente
dilatação do círculo de vicinagem, ou seja, a extensão máxima, que á um
individuo, peão ou cavaleiro, é dado a atingir, de modo que possa, sem esforço
e sem fadiga, voltar, “ainda com dia”, à sua casa de vivenda, na definição
clara e irretorquível de Oliveira Viana.
Meio
século depois de palmilhado seu território, foi aberta a via natural do Taboado
que nos pôs em comunicação com os dilatados domínios pastoris do imenso Mato
Grosso, onde eram arrebanhadas, a casco de cavalo, multifárias manadas bovinas
destinadas ao sacrifício em Barretos. Instalo-se, com ela, no interior
municipal, transformando em vasto campo de engorda, uma verdadeira civilização
de couro, de que nos fala Capistrano, em que o cavalo representaria o seu mais
saliente papel transportando em seu dorso, através de centenas de léguas,
pesadas bruacas, arreotas de variado estilo, resistentes laços, ou, ainda, o
próprio peão revestido de sua especial indumentária que tem muito de mourisca e
consistente em vistosas bombachas de couro curtido com a qual devassa, em
correrias loucas, a emaranhada quiçaça que domina os flancos da solitária
estrada; outras vezes, conduz com soberbia o capataz da comitiva ou o próprio
boiadeiro chefe, para o qual o arreiamento de seu animal consiste numa
exteriorização de sua personalidade; por isso cavalga escarranchado em garbosos
socados e arrebicados francanos ornados de cintilantes metais e macias
badranas, quando não de fofos pelegos, “forros” que lhes servem, a um tempo, de
sela, nas viagens, e de agasalho nos pousos e, para complemento desse conjunto,
vistosos “peitorais” onde pompeiam argolas prateadas, bridas e freios de couro
trançado, perneiras e botas ringideiras, arrebicados cabos-de-relho, rebenques
e rabos de tatus pacientemente burilados por eméritos cultivadores de arte de
trançar. Tudo isso constitui os apetrechos componentes dessa civilização que
até hoje perdura, não obstante o progresso que avassala o Oeste Paulista
conseqüente da onda migratória aqui afixada.
Com
a implantação dos transportes mecanizados, completa revolução se operou nos
costumes da gente sertaneja: não mais as empolgantes cavalgadas, rumo à sede
municipal acompanhando esquifes e noivados e simples viagens escoteiras de
recados compadrescos, na ação reflexa de amplitude ao círculo de vicinagem em
que o fator pressa não entrava em linha de conta. Tudo isso foi de roldão
levado pelo carro do Progresso simbolizado pelo automóvel prenhe de conforto
para o abastado, pela jardineira acolhedora e barata que serve ao mesmo tempo
pobres e remediados, gênero de locomoção a que o sertanejo se habituou à
maravilha, a ponto de neles circular pelo simples gosto de fruir o prazer de
uma viagem “bestando à toa”. Mas é de se convir que dói, com essa poderosa
infiltração da máquina em plena selva, que se operou impetuosa migração humana
no território tanabiense pontilhando-o de numerosos núcleos urbanos e
adensando-lhe o povoamento rural já agora bastante significativo e que tende a
crescer espantosamente com a penetração da ferrovia em seu hinterland.
Segundo
Oliveira Viana o pastoreio na savana, desenvolvendo os hábitos da cooperação e
da solidariedade, é, de si mesmo, uma escola incomparável de sociabilidade;
“parar o rodeio”, o “sustar as disparadas”, o “repontar a Tropa”, o “rondar o
gado”, operações fundamentais do serviço pastoril, são todas operações
coletivas, sem nenhuma possibilidade de realização individual. E também a
vivacidade de gestos e de fisionomia, modos desembaraçados e francos,
conseqüência natural das condições do pastoreio na savana, refletem-se na vida
natural, de onde a jovialidade extrema e a extrema sociabilidade do povo
pastoril para as quais o cavalo contribui sua poderosa influência. Daí, por
certo, concluirmos, repousar nesse fator á proverbial jovialidade e extrema
sociabilidade do povo tanabiense, sempre ativo nas questões de solidariedade,
amável, acolhedor e simpático.
Tanabi, 30 de julho de 1942.
Asas Metálicas em Tanabi
Constitui
para nós fato alvissareiro o registro de que aqui em Tanabi já estamos formando
ambiente aviatório propício ao desenvolvimento de nossas imensuráveis
possibilidades no domínio do ar, quer nas lides produtivas da paz, quer nas ásperas agruras da guerra onde
só subsistem os povos adrede preparados.
Além de
magnífico aeroporto que possuímos, temos, como indispensável corolário,
grandioso hangar construído com todos os requisitos da moderna técnica
rivalizando-o com os melhores da zona; nele se encontram, além de imenso
compartimento, apto a abrigar pequena esquadrilha, casa para depósito de
combustíveis, aposento para residência do guarda e posto de sinalização. E
dentro desse vasto galpão possuímos, para nosso maior gáudio, o elegante
“Lusitânia” doação do benemérito banqueiro Moreira Sales, mediante o qual,
luzida plêiade de moços; fazem seu treino diário para a conquista do ambicioso
brevet.
Todos os dias, do romper da aurora
até o lusco-fusco, exceção feita de regulares intervalos, ai se encontra
animado grupo de aspirantes norteados pelo infatigável diretor de campo, o
sempre solícito Paulo Pereira da Silva, e pelo hábil instrutor Romeu que,
paulatinamente, vai dispondo a jovem turma para a ambiciosa escalada dos céus
num futuro vôo solo.
Antes
que o motor se aqueça, ou durante as consecutivas idas e venidas do pássaro
metálico generalizam-se palestras animadas onde respigamos vocábulos e
expressões antes de uso quase desconhecido e já agora correntias, tais como:
linha de horizonte, rotação de motor, hélice, vácuo, pista, manchão, bequilha,
fuselagem, nacele, carlinga, aterragem, pane, campo de pouso e outras de igual
teor.
Tudo
pronto, Romeu à frente no comando, tomamos assento no confortável avião-escola
que, em rápida manobra, vai, daí a segundos, abandonando as amarras que o
prendiam ao solo; um frisson percorre nossa espinha ao sabermos que, vencendo a
lei da gravidade, galgamos o espaço e ai, permanecemos mantidos por quatro
forças opostas: sustentação, peso, tração e resistência.
Após
algumas evoluções estamos já a apreciável altura espraiando nossos olhares pelo
vasto horizonte que daí se descortina: vamos aos poucos afeiçoando-nos à
novidade e reconhecendo os sítios que nos são caros. Após largo contorno
voejamos pelos subúrbios de Tanabi e a cidade surge a nossos olhos extasiados
tal qual fora linda visão chinesa; seus quarteirões assimétricos, suas ruas
retilíneas, casas e jardins tudo isso a desfilar com incrível rapidez,
semelhando, lá de cima, frágeis brinquedos infantis, miniaturas caprichosas de
algum atrevido pintor que se comprazesse a debuchar esquisitos lavores; em seus
meandros perambulam microscópicos seres humanos que parecem diminutos vermes...
Daí, da
imensidade azul que tão facilmente vingamos é que, divagando, avaliamos quão
pequeninos somos, quão mesquinha é nossa prosápi como são ridículos os nossos
sonhos e projetos que reputamos grandiosos...
De lá,
desse campo infinito e para nós virgem, descobrimos panoramas indescriptiveis
formados, compostos pela natureza e pelos homens e o casario em linha vertical
tem estranhas formas; dir-se-ia estarmos presenciando um fenômeno da quarta
dimensão ou algo fantástico e irreal. Os arredores de Tanabi, que palmilhamos a
pé e percorremos a cavalo ou de auto, contemplados de avião, tem agora outra
perspectiva e são dotados de prestígio diferente; suas chácaras e charnecas,
pequenos sítios e fazendolas compondo o mosaico constrito de onde emerge nossa
semelham autênticos parques ingleses desses que estamos habituados a ver em
fitas de cinema ou através gravuras coloridas; naquelas paragens até o feio se
alinda e o mais ferrenho carrascal assume feições amenas, toda a paisagem se
humaniza oferecendo-nos quadros de incomparável suavidade. E como são formosos
os dois regatos que num abraço amoroso cingem o enxadrezado da civitas;
estradas poeirentas e esburacadas, que tanto temos percorrido, de lá divisadas,
mostram contornos poéticos enovelando-se como tiras amarelas pelos socalcos e
ondulações do terreno que se distende em todas as direções.
Sucedem-se
espantosamente as mutações físicas e as mais típicas formas da atividade
humana, nesta região agro-pastoril, perpassam com incrível viol~encia. O avião
permite apanhar em bloco todos os aspectos da paisagem cultural, declara Pierre
Mombeig o que, aliás, nos foi dado consignar. É todo um desfile caleidoscópio
que presenciamos: a suave cor verde das pastagens emolduradas pela copa azulada
das árvores e, em miríades de quadrados regulares, despontam habitações
austeras de fazendeiros, rompem, numa decoração álacre, pitorescas vivendas de
pau-a-pique enfeitadas de cercados e arvoredos, de animais domésticos e de
gente tudo isso reduzido à sua expressão mínima; pelas encostas ondulam talhões
regulares de cafeeiros disciplinados e desdobram-se espigões dominados pala
policultura, celeiro onde o homem provê suas necessidades; vales verdes, de
fundo chato, aparecem riscados ao fundo por esquisitos fios de água que teimam
em seguir para o oriente...
Mais ao
largo, num esforço de visão, divulgamos os característicos fisiográficos da
região reconhecendo-lhe os acidentes naturais, cheios de encantadoras perspectivas,
de onde emergem, triunfantes e promissoras, cidades e vilas, testemunhas do
esforço de seus habitantes, arestas vivas a viçar o fácies geográfico do oeste
paulista.
Tanabi, 20 de maio
de 1943.
Considerações
acerca das Principais Estradas Tanabienses.
O
município de Tanabi creado pela lei nº 2.009, de 23 de dezembro de 1.924,
compõem um vasto tracto de terras formando o maior território municipal do
Estado, porquanto cobre uma área aproximada de doze mil quilômetros quadrados;
desfruta privilegiada situação, tendo por limites políticos duas unidades
federadas: Minas e MatoGrosso, mediante a baliza natura do caudaloso Paraná, ou
Paranã, - "o rio enorme, caudal, imenso, grande como o mar”; confina com o
município de Monte Aprazível, séde da circunscrição judiciária a que pertence,
por meio de breve trecho de espigão divisor, e a seguir, pelo talvegue dos
córregos da Grama e Fortaleza e, finalmente, pelo rio São José dos Dourados até
sua foz; com os municípios de Mirassol, Nova Granada e Palestina, pelo
divortium aquarium dos córregos Bálsamo e Jataí e depois pelo veiu d’agua dos
rios Preto e Turvo até sua embocadura no Grande, dando-lhe, portanto, a
característica de essencialmente mediterrâneo, com invejável rede hidrográfica
a marcar-lhe os contornos externos.
Embora datando de alguns decênios o
desenvolvimento que ostenta, foi, sua séde, fundada nos meados do ano de 1.887.
Assenta suas edificações numa esplanada de suave relevo, onde a cota mais alta
registra 550 metros de altitude, á montante da junção do Jataí e seu afluente
Bacurí. “Jatai", - "arvore de fruto duro e também espécie de abelha”,
nome da fazenda geral onde se localiza a cidade, designa também o antigo topônimo
desta; somente mais tarde, em 1.907, com a instalação do distrito de paz, é que
recebeu sua actual denominação TANABY, ou, pela fonética hodierna TANABI - que
poeticamente expressa “rio das borboletas”, em que pese opinião contrária de
“madeira adstringente, que aperta”.
Possui, a cidade, cerca de 3.000
almas, clima saudável e comércio movimentado; dista 50 quilômetros de
Rio-Preto, cognominada “Capital da Alta Araraquarense" e 30 ditos de
Mirasso1, ponto terminal da Estrada de Ferro Araraquara que, em seu prolongamento,
conforme estudos definitivos, penetrará o sertão tanabiense, em sentido
longitudinal, rumo noroeste, até as raias dos Estados limítrofes, realizando,
assim, o sonho dourado de Pimenta Bueno e outros expoentes da engenharia
nacional; de Porto Taboado, na fronteira matogrossence, com a qual se comunica
por meio de lancha a vapor, destinada ao transporte de gado, dista
aproximadamente 200 quilômetros e uns cem de Porto Monteiro, na barra dos rios
Turvo e Grande, onde, ha anos vo1vidos, havia balsas servindo de liame ao
comércio regional com as povoações do Triângulo Mineiro: Aldeia, Santa Rosa,
Monte Alto e São Francisco de Sales.
De
acordo com a actual divisão judiciária e administrativa da República, comporta
este município uma cidade e três vilas: Cosmorama, Américo de Campos e Vila Monteiro, além de outros povoados que se
delineam.
A
principal artéria que põe Tanabi em comunicação diária com os demais centros
civilizados, inclusive a Capital é a que, partindo desta, tangencia Bálsamo e
Mirassol e culmina em Rio-Preto,
estando esta, por sua vez ligada ao sistema rodoviário do Estado;
ainda
querudimentar e acidentada, desempenha, essa estrada, papel saliente de
abastecedora da região, canalizando o grosso da produção agrícola e mais
gêneros exportáveis e importáveis.Mereceu, por isso mesmo, de Menotti Del
Picchia, o cintilante poeta que todos nós admiramos, o expressivo cognome de
"Nilo da Região”, dada sua importância vital para o comércio sociabilidade
humana de seus habitantes.
Articulando-se
a essa via e com irradiação para diferentes zonas do município partem, de
Tanabi, e em demanda dos confins sertanejos indo perder-se nas águas lindeiras,
ou ,transpondo-as, nas localidades circunvizinhas, um feixe de rodovias de
construção primitiva apropriadas ao trânsito de veículos á tracção motora e
animal, preponderando estes. Mormente na estação aquática, tornam-se esses
caminhos emperrados e inviáveis, atendendo-se á precariedade de sua construção
e quiçá conservação defeituosa.
Assim, dentre as estradas de maior
projecção, destacamos:
a)
a que se orienta em direção a Monte Aprazíve1 - 24 quilômetros
distantes de
movimentação reduzida, em virtude de ser utilizada quase tão somente pelos que
lidam negócios forenses, porquanto o comércio regular é feito exclusivamente
para Rio Preto; corta, no bairro dos Angicos, a divisa municipal, mas, alguns
quilômetros antes bifurca-se noutra que segue pelo vale do ribeirão Fortaleza
até o distrito de Sebastianópolis, hoje General Salgado, já nos domínios extra-municipais;
diversos outros pequenos ramais a ela se juntam, principalmente no bairro do
Mangue, aliás bastante povoado;
b)
a estrada do Taboado, ou Boiadeira, da qual fizemos minucioso estudo inserto na
Revista do Arquivo Público Municipal, nº XXXI; essa estrada, de incalculável
alcance comercia1 e estratégico, de que deu provas no movimento armado de
1.932, verdadeira "pista de gado” (P. Deffontaines), está hoje
criminosamente abandonada pelos poderes públicos, convertida em mero caminho de
cabras, quando sua finalidade é bem diversa; desenvo1ve-se a mesma pelas
vertentes do São José, num desfile de quase quarenta léguas pelo hinterland.
Municipal, passando por Vila Carvalho e
Piassava e através os grandes latifúndios marginais do Paraná, o qual transpõem
rumo a Sant'Ana do Paranaíba e aos campos de Vacaria, Cuiabá e Goiás; essa
travessia é feita alguns quilômetros abaixo da “lha dos três Estados”, medindo
o rio, aqui, de 800 a 1.000 metros; em quase todo o seu percurso, isto é, a
partir de Barretos, atravessa imensas pastagens naturais e artificiais, onde o
comércio bovino tem seu habitat, delimitando, portanto, a região da pecuária. É
com dificuldades de monta que as grandes boiadas por ai passam, pois, acha-se
invadida pelo matagal e o seu largo corredor reduz-se a trilhos escavados nos
taboleiros; em muitos pontos dilatados caldeirões obstruem-na, impedindo a
marcha regular de carros-de-bois; a ela se vinculam inúmeros caminhos que
servem ás propriedades confinantes;
c)
á direita. daquela, e em direção noroeste, parte outra, de automóveis, a linha
tronco que, á altura de Cosmorama sub-divide-se em duas, distraindo um ramal
para a nascente povoação de Votuporanga “o vento, o sopro de ar bonito e bom”,
ramal esse que se prolonga; até Vila carvalho; entretanto, a linha principal
prossegue para Vila Monteiro, Boa Vista, (a quem a malícia caipira crismou com
o deprimente epíteto de Caba-.já,) e Vila Cardoso, esta a curta distância das
lindes mineiras; dita estrada, em seu desenvolvimento, enfeixa numerosas congêneres
que por sua vez ligam-se às grandes fazendas “Marinheiro",
"Guariroba” ,”Araras","Santa Rita", “Água Vermelha" e
tantas outras que se distendem em a bacia do rio Grande, onde se encontram
formidáveis reservas hidráulicas, como essa maravilhosa Cachoeira dos Índios,
cujo potencial é avaliado em 300.00 HP. O segundo dos grandes saltos do Estado;
a estrada que liga, si lograsse reforma, poderia, de futuro, transformar-se
numa rota de turismo aos que desejassem contemplar o extraordinário aspecto
dessa grandiosa queda;
d)
ainda de Cosmorama e inflectindo á direita desdobra-se outra via para Américo
de Campos que, de per si, liga-se a Vila Monteiro, Palestina e á sede Tanabi,
da qual dista uns 42 quilômetros, servindo esta ultima rodagem, ao povoado de
Vila Nova e ás fazendas Piedade, Ribeirão Bonito, Barra Mansa e Cachoeira dos
Felícios;
e)
a mencionada estrada de Américo de Campos, antigamente Águas Paradas, parte de
Tanabi pelo bairro do Tomazinho e a cerca de 5 quilômetros diverge, á destra,
um braço que vai a Ibiporanga –“ terra –bonita” e daí segue até Mirassolandia,
distrito este pertencente a Mirassol;
f)
partem ainda da sede, emprestando-lhe característica peculiar de cidade-chave,
outras estradas e caminhos de menor bulto, tais como os que atravessam o
Guamerim, o bairro da Alegria, e o das Peróbas; as que se encaminham para o
Mangue, a Grama, o Angola, o Veado, etc...;
g)
de Porto Taboado e galgando o Ponte Pensa e o São José, mediante pontes de
madeira, vai a Itapura e Novo Orienve, urna estrada, construída em 1.842, e
reaberta no ano findo para atender ao incremento desta última cidade, habitada
exclusivamente por milhares de famílias nipônicas, genuíno quisto amarelo
enraizado no sertão paulista;
h)
essa, a que põe o imóvel Guariróba em comunicação com Palestina, e alguns
caminhos menos importantes, divergentes que são da sede, posto que não lhe
tragam nenhum contributo econômico, carream para outras zonas valiosa porção de
seus proventos e rendas.
Com referência ao derradeiro tópico
citado, cumpre salientar que, a falta de reconstrução da estrada do Taboado,
sobre dificultar o acesso a Tanabi, motiva a polarização da maior parte aos
moradores da margem direita do São José em direção as povoações situadas no
vizinho município de Monte Aprazíve1, onde, manda a verdade que se diga,
permitem as estradas que autos e carros devassem os recônditos sertanejos. Daí
a prosperidade crescente de Nhandeára, General Salgado, Palmira, Macaúbas,
Floresta e Magda, todas tributárias daquele rio. Refeita a via do Taboado,
empresa a que o Estado convinha atentar teríamos engrossada a caudal bovina
tangida a passo moroso dos intérminos campos de Goias e Mato Grosso em
direitura á feira de gado barretense; aqui,
no município,
o rebanho desnalgado e abatido pelas jornadas restaurar-se-ia, alcançando
melhores preços no mercado frigorífico; as comitivas de tropas e peões em
sucessivas viagens e torna viagens emprestariam á cidade o semblante de outros
tempos, quando a mesma via oferecia melhores condições de trafego a veículos e
montarias.
Regular serviço de auto omnibus, ou
jardineiras é feito diariamente quer para Mirassol e Rio Preto, quer para os
distantes povoados de Votuporanga, fundada sob os auspícios da firma Theodor
Wille & Cia. Ltda., que está retalhando em lotes seu latifúndio de 12.000
alqueires de terras; para Vila Monteiro, cujos domínios também está sendo
retalhado e vendido em pequenos sítios; para Cosmorama, jovem localidade que já
possui mais de cem prédios e rodea-se de numerosas pequenas propriedades; para
Américo de
Campos,
florescente vi1a onde laboram diferentes etnias; para Ibiporanga e
Mirassolândia; de Guariróba a Palestina e Nova Granada, ligando-se, aos trilhos
da E. de F.São Paulo Goiás; o imóvel Guariróba pertence a uma firma inglesa e
nele se fixaram, nos últimos anos, milhares de trabalhadores nordestinos
explorando plantações cerealíferas e algodoeiras.
Á
carência de outras viaturas mais confortáveis é a jardineira, o veículo por
excelência para o transporte co1ectivo, desempenha papel de relevo em nossa
civilização, caipira, na inspirada definição de João Carlos Fairbancks; o
próprio caboclo, refractario a inovações, adotou-a, prescindindo o inseparável
matungo; o automóvel simples, condução mais cara, é de uso mais restrito, ao
passo que o caminhão penetra o município em todas as direções onde haja um
palmo de estrada que, por suas condições, permita passagem ao pneumático,
substituindo, vantajosamente, o tardio carro de bois, cujo canto nostálgico
ainda se houve nas raias urbanas, trazendo do alto sertão o cereal recém
colhido; suínos e outras espécies; mudanças e até viagens de famílias inteiras,
viagens que duram semanas, são nele feitas com integral desprezo á hora veloz
que passa; finalmente o cavalo de sela, a montaria predilecta do lavrador, do
boiadeiro, de todos, em suma, que habitam a zona rura1, completa movimentação social; daí depararmos a cada
passo vistosas bombachas, completando
essa excêntrica indumentária, a cartucheira, a guaiaca recheiada de
pelegas, o lenço esvoaçante e o chapéu de abas largas, apetrechos que denunciam
claramente a tendência profissional de seu portador, cujo maior gosto consiste
em trazer, como símbolo, á anca do animal, enrodilhado laço que manejo com
maestria peculiar.
As
vias de comunicação com a séde são reparadas anualmente por meio de turmas
volantes da Prefeitura; as tributarias e carreteras, segundo os argentinos, são
restauradas de modo primitivo e tosco pelos particulares que se organizam em
verdadeiros mutirões, ou ajuntamentos colectivos para esse mister; um simples
aviso da municipalidade, contendo a nomeação de inspector de caminho, delega a
determinado proprietário, ou sitiante, poderes para intimar os moradores da
redondeza, interessados no concerto dos caminhos que palmilham; outras vezes, á
míngua do interesse público, reúnem-se espontaneamente e fazem eles mesmos esse
laborioso serviço de restauração viatória.
Estradas
existem que, ímpe1idas por cercados, benfeitorias, córregos e outros obstáculos
de monta, desviam seu itinerário, dilatando as distancias; alguém mais afoito
abre ligeira picada, ou trilha um atalho próprio e com a frequência de
pedestres e cavaleiros e mais tarde de carros, transmuda-se em rodal; ano e
dia, decorridos desse trânsito comprovado, adquire foros de existência legal,
não podendo mais ser fechada, ou interceptada por quem quer que seja, segundo o
direito comum. Resulta dai a ogerisa dos
proprietários
de terras em permitir passagem eventual sobre suas posses, receiosos de que a
mesma se torne em servidão permanente.
A
estrada é um dos maiores agentes modificadores da paisagem, humanizando-a e,
conforme Pierre Mombeig, mais do que a água decide da estructura agrária; toda
a vida dos povos gravita em torno das grandes estradas, afirma Edmundo
Desmoulins; ao longo de suas margens e dos caminhos que a põe em comunicação
com os sítios e fazendas de gado e de plantação, estabelecem os colonos,
meeiros, empreiteiros, camaradas e patrões, pequenos e grandes proprietários
suas relações regulares, não só entre si, como, também, com o centro urbano
mais próximo; erguem-se, nas cercanias, ranchos acolhedores e casas de pau á
pique, hospedagem transitória e permanente do trabalhador e do peão;
desbravam-se as florestas e desnudam-se paulatinamente, os socalcos dos
espigões e das lombadas vertentes, e logo, fileiras de milhares pés de café
alinham-se em todos os quadrantes; repontam os mangueiros, currais, potreiros e
piquetes ao redor das moradias e mais tarde surgem as grandes invernadas onde
vicejam o jaraguá, o gordura, o catingueiro roxo, o colonião e outras gramíneas
formadas pelo esforço humano e pelo casco das próprias rezas; culturas diversas
acolhem-se á sua proximidade, na certeza de que o cereal colhido alcançará
preços compensadores que a facilidade de transportes condiciona; com o
transcurso do tempo, melhoram-se os prédios e até o gênero de vida de seus
habitantes; casas de fazenda, de amplas janelas e varandas, ostentam estilos
mais corrigidos e as próprias colônias, fileiras de casas de um só
tipo,tornam-se melhor habitadas, feitas de tijolos, caiadas e cobertas de
telhas vá. A permuta de valores e condições leva á movimentação de capitais;
nascem daí os aglomerados urbanos - arraiais, patrimônios, vilas e capela,
“tudo é função da via de transporte" (E. Simões de Paula). E Tanabi não
escapou a essa regra niveladora, porquanto, seu berço foi assente á margem da
velha estrada do Taboado, onde, em 1.901, Euclides da Cunha sonhou vê-la
construída, norte fito em Cuiabá, imitando, ainda de longe, as famosas estradas
romanas e cartaginezas de antanho.
Servindo-se dessas veredas de
comunicação, por onde se estreitam afectos e interesses, labora aqui uma
população de mais ou menos vinte mil almas, fusionando diferentes etnias
provindas, de todos os recantos europeus e até asiáticos, espanhoes e
portugueses, alemães e italianos, turcos e japoneses, plasmando o homem
tanabiense que levará esta terra a grandes destinos, e, para retrospecto destas
afirmativas, concluímos, transcrevendo o que disse nosso delicado poeta Mello
Macedo, em seu esplendido poema.
“MELTING-
POT”
O italianinho
rubicundo,
no colo da mãe
de ancas fecundas,
bate
palmas para a terra virgem do sertão paulista
Um
cheiro acre de pau d'alho
infla
narinas espertas
a
farejar padrões de terra boa.
E
a jardineira,
roncando
nos aclives,
sacoleja
a estranha carga
de
raças heterogêneas.
Ó
a doce democracia
dessas
pequenas populações flutuantes
de
grileiros, de mascates, de imigrantes,
que
sonham uma nova pátria
sem
os problemas inquietantes
dos
seus países de origem!
Como
aí se fraternizam,
na
mais suave promiscuidade,
o
braço à procura de trabalho
e
a ambição ardente do jovem profissional,
que
abandonou todos os princípios da ética
na
plataforma da última estação ferroviária!
Há
imperialismos velados
no
olhar miúdo de japoneses risonhos,
que
se acotovelam com caboclos displicentes,
anônimos
heróis da grande penetração.
À
algaravia dos passageiros se mistura
a
nacional tagarelice do chofer,
que,
no seu idílio com a espanholita,
que
lhe vai ao lado,
deixa
que a viatura se requebre,
a
remexer a estranha carga de raças heterogêneas,
em
busca da Terra de Todos...
E
a jardineira é um imenso caldeirão ambulante,
aquecendo-se
ao sol dos trópicos,
e
de onde vai saltar,
fundido
no milagre da América,
o
“homem-cósmico" de amanhã!
Tanabi, 24 de abril de 1938.
* Para o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
As
Novas Divisas do Município.
Não fosse o particular que devotamos
a este rincão e não estaríamos aqui, de novo, a bater esta enfadonha tecla – a
questão das novas divisas tanabienses. Receamos até incorrer no desagrado de
nossos possíveis leitores, mas, tratando-se, como se trata, de assunto vital
para os jurisdicionados aos limites recém estabelecidos, justificando está de
sobejo nosso retorno ao tema ventilado.
Em nossos escritos anteriores,
benevolente acolhidos pela imprensa regional, ao mesmo tempo que nos
manifestamos de perfeito acordo quanto á justiça na integração dos territórios
latifundiários – Ponte Pensa e Araras – ao novel município de Pereira Barreto,
outrora Novo Oriente, ai, também opomos formal objeção quanto á pretendida
anexação da pequena área de terrenos pastoris confinada entre o rio São José, a
Boiadeira e os córregos Fortaleza e Soledade, área essa que recente publicação
oficial vem novamente incorporar a administração tanabiense, de quem sempre foi
subsidiária.
É isso o que consta da edição do “Diário Oficial” de 13 de janeiro,
retificando alguns senões continentes no decreto 9775, de 30 de novembro do ano
findo, o qual trás em seu bojo o quadro geral da divisão territorial paulista.
Dissemos alguns senões, porque, como
é óbvio de ver-se, nem todas as incorreções foram aí totalmente expurgadas,
referindo-nos ás que nos dizem respeito, porquanto, si as divisas com os
municípios de Monte Aprazível, Paulo de Faria (ex Patos), Nova Granada,
Palestina e Pereira Barreto estão satisfatoriamente delimitadas, o mesmo já não
sucede em relação a determinado trecho das fronteiras mirassolenses e com as
divisas inter distritais, como a seu turno vamos apontar.
A divergência encontrada na parte
referente a Mirassol cinge-se exclusivamente á localização exata do córrego da
divisa, dado que este, não só é omisso nos mapas que perlustramos, como,
também, a tradição popular não o acusa, ainda que tivéssemos inquirido diversos
moradores das circunvizianças.
Isso posto, passemos a descrever as
extremas divisórias com aquele próspero município: “Começam no rio Preto, onde
se lança o ribeirão Jataí, sobem por este a barra do córrego da Divisa, sobem
por este até sua cabeceira e continuam pelo espigão que deixa, á direita, as
águas do ribeirão Jataí, e, á esquerda, as do Balsamo, até frontear a cabeceira
do córrego Água Fria, já no espigão mestre as águas dos rios Turvo e rico São
José dos Dourados”. Ora, em face do estatuído nesse período, originaram-se os
mais desencontrados comentários quanto á precisa situação do mencionado córrego
da Divisa, havendo, mesmo, pessoas e até autoridades do município limítrofe que
aventuram a hipótese de aplicar-se denominação tal ao conhecido córrego
Perobas, passando, ipso-facto a importante fazenda de igual nome a gravitar em
torno á esfera administrativa de Mirassol!
Não estamos de acordo com esse modo
de interpretar o texto decretado e discreparmos, tendo por base os seguintes
ponderosos motivos: a) o córrego da Divisa, afluindo ao Jataí serve de liame
lindeiro entre este e o divortium-aquarium Jataí – Balsamo por onde sempre
passaram as demarcações municipais; b) o Perobas, que tem sua designação
assente desde as primitivas penetrações dos pioneiros tanabienses, recebeu esse
nome em virtude da predominação, em seu vale, entre essências várias, da
procura Aspidosperma Gomesianum e, além disso, afluente do Jataí, está
compreendido no sistema das águas vertentes deste ribeirão onde desemboca a
menos de três quilômetros de Tanabi, e não poderia portanto, servir de eixo
divisório invocando-se o espírito do mesmo decreto, o qual veda o
estabelecimento de fronteiras num raio mínimo de seis quilômetros; c) existem,
nas cercanias da fazenda “Recreio”, nada menos de quatro pequenos córregos,
contribuintes da margem direita do Jataí, sem designação própria, podendo-se
aplicar, a qualquer deles, a toponia Divisa, para expressar com propriedade a
função que essa correnteza parra a exercer entre os dois municípios; injustiça
será remeter denominação tal a qualquer caudatário do Jataí, de nomes já
definidos como o Barreiro, o Alegria, o Perobas etc.
Pondo de parte essas questiúnculas,
mister se torna volvermos nossa atenção para a linha perimétrica dos distritos
e, reportando-nos ás divisas entre Tanabi e Cosmorama, copiemos, aqui, na
íntegra, o relato do decreto: “Começam no rio São José dos Dourados, na foz do
córrego da Soledade, vão pelo córrego acima até o espigão mestre são José dos
Dourados – Preto, pelo qual caminham até frontear a cabeceira do córrego do
Coelho, descem por este até o ribeirão da Piedade”. Cabem aqui algumas
ponderações que externamos, baseados no conhecimento das correntes líquidas
citadas, no tópico em questão: traçando-se a linha divisória do córrego Soledade
ao Coelho que, indubitavelmente, é componente do Piedade, todo o distrito e a
própria vila de Cosmorama perderá sua autonomia judiciária passando a pertencer
ao distrito da sede, a menos que aquele tivesse sido suprimido pelo decreto
9775, o que, felizmente, não se deu; esta, pois, retificar essa mesma linha
repondo-a, aquém daquela povoação, no círculo legal de uma légua brasileira,
pelo menos, e isso poderá ser feito tendo em vista o que dispõe o art. 2º do
mesmo decreto.
A seguir, as divisas entre Cosmorama
e Vila Monteiro situam-se da seguinte forma: “Começam no espigão mestre Grande
– São José dos Dourados, em frente á cabeceira do ribeirão do Maribondo, seguem
pelo espigão mestre até a cabeceira do córrego Prata”. Refletindo sobre essas
confrontações e, tendo em vista que a divisa com o distrito da sede (Tanabi),
passa pelo veio do Soledade, forçoso é concluir que o distrito de Cosmorama
deverá estar constringindo entre o rio São José dos Dourados, o espigão mestre
e os córregos Soledade e Maribondo, á apreciável distância da respectiva sede,
deslocando, portanto, do habitat que por força de direito lhe compete. De
qualquer forma que o encaremos, o distrito de Cosmorama tem seu território
disputado pelos vizinhos eis que às novas divisas de Américo de Campos consigo
tem a seguinte redação: “Começam no ribeirão da Piedade, na foz do córrego do
Coelho, sobem primeiro até a barra do córrego do Meio, continuam pelo divisor
que deixa, á direita, as águas do ribeirão Piedade, e, á esquerda, as do córrego
do Meio, até frontear a cabeceira mais oriental do córrego do Retiro, pelo qual
descem até o ribeirão Tangará, seguem por este acima até a foz do córrego Prata
e por este ainda até sua cabeceira mais ocidental”. Com referência a estas
divisas temos a refutar o seguinte: a menos que se a denominação de Meio a
qualquer uma das cabeceiras do Piedade não se poderá conceber o vertiginoso
salto que é preciso das para transpor a distância que separa os cursos de água
Piedade e Córrego do Meio, porquanto este último forma, com o Retiro o ribeirão
Bonito em plena fazenda Nova, e muito aquém de Cosmorama; o Tangará é nome
desconhecido e, portanto, difícil de ser identificado, mas, pelo que se deduz
da mesma redação é ele tributário do Prata, pelo qual as divisas sobem até sua
cabeceira principal.
Américo de Campos e Vila Monteiro
tem por limites as seguintes linhas: começam no espigão divisor que deixa, á
direita, as águas do rio Preto, e, á esquerda, as do rio São José dos Dourados,
em frente á cabeceira mais ocidental do córrego Prata, seguem pelo espigão da
margem esquerda do ribeirão Tangará, até alcançar a cabeceira do córrego Betari
e por este abaixo até o rio Turvo”. Mas, como acima foi dito, si o tangará
pertence, como tributário, á vertente do Preta, como poderiam as divisas entre
estes distritos seguir pelo espigão da margem esquerda do referido Tangará, uma
vez que o mesmo corre em sentido oposto á direção que tais divisas devem tomar,
isto é, em direção á embocadura do Turvo no rio Grande? Além disso, ninguém
nunca jamais ouviu falar em córrego Tafari em toda a região municipal.
Entretanto, para não alongarmos em
demasia esta série de considerações vamos concluir, frisando, mais uma vez, a
necessidade e urgência na definitiva retificação das nossas divisas internas e
isso, pensamos, somente poderá ser obtido com a vinda a este município de
engenheiro componente da comissão que elaborou as citadas linhas divisórias, o
qual, tendo em vista ás condições histórico – sociais, natureza e conformação
do solo, situação e dependência das sedes distritais, trace, de vez, divisas
naturais, lógicas e definidas, como remate ao charivari existente.
Tanabi, 21 de janeiro de
1939.
·
Publicado no jornal “A Notícia”,
de Rio Preto, em 05 de fevereiro de 1939.
Toponímia
Fluvial Tanabiense
Do Instituto
Histórico e Geográfico de São Paulo.
A
carta hidrográfica do município de Tanabi, a nominata de suas correntes
líquidas, desde os maiores rios que
sulcam o continente americano, encabeçado pelo volumoso coletor do planalto - o
Paraná, semelhante ao mar - até os minguados filetes de água que desaparecem na
estação estival, formando tudo isso um aranhol potamográfico digno, não deste
ensaio, mas de acurado estudo, sobre atraírem nossa atenção, levam-nos a
desenvolver conceitos e a consignar, de
passagem, paralelos e grupamentos adrede estabelecidos, sem outro intuito que
documentar os nossos fastos regionais.
Circunscrição
de mais largo domínio territorial, entre as que compõem o curioso mosaico
paulista, Tanabi tem a assinalar-lhe os contornos externos não marcos
convencionais de madeira e de pedra, efêmeros e perecíveis na marcha impiedosa
do tempo, mas, sim, o caminho sinuoso de seus coleantes rios lindeiros,
tornando-o, por assim dizer, típica e essencialmente mediterrâneo, embora
submeta-o a um regime de isolamento forçado com a vizinhança municipal, dada a
relativa ausência de pontes e outros meios de comunicação. Somente a breve
trecho, que não vai além de trinta quilômetros, distância que separa a foz do
Jataí das cabeceiras do córrego da Grama, só aí, nesse acanhado trato de
terras, perlongam as raias limítrofes pelas cumiadas do espigão mestre,
portanto em terra firme. Pelos demais pontos, a linha perimétrica acompanha o
talvegue de três importantes caudais e seus mais antigos afluentes dando-lhe características
nítidas e perenes. Assim, o São José dos Dourados e seus tributários da margem
direita o Fortaleza e o Grama separam-no de Monte Aprazível onde, há mais de um
decênio, se acha instalada a sede comarcal; o Turvo, por si e por intermédio de
seus concurrentes esquerdos, o Preto e o Jataí, define-lhe a jurisdição com
Paulo de Faria, Palestina e Nova Granada, respectivamente, três jovens
prefeituras, dentre as quais, a última, já obteve sua alforria judiciária; aos
fundos, a muralha branca do conjunto Grande-Paraná, cujas águas correm ligeiras
com pressa de chegar, situa-lhe as divisórias com Minas e Mato Grosso, os
colossos do centro brasileiro.
Estamos,
pois, em face de divisas ideais, in natura, tal qual preconizava o erudito
geógrafo Gaulês Eliseu Reclus, ao estudar a gênese das divisões políticas dos
estados e municípios, contrapondo-o às formações artificiais e forçadas.
Ultimamente,
porém, pelo novo quadro territorial da República, perdeu Tanabi alentada faixa
de terras em benefício de seu congênere Pereira Barreto, sediado, com
propósitos de louvável brasilidade, no populoso quisto amarelo batizado por
novo Oriente. Essas terras, situadas na junção das bacias Paraná – Dourados,
formam a quase totalidade das imensas glebas latifundiárias conhecidas por
Araras e Ponte Pensa e abrangem centenas de mil alqueires, torrão feracíssimo e
inexplorado, futuro celeiro da zona Araraquarense, na atualidade e sem nenhum
favor, o maior centro produtor do Estado.
As
novas divisas traçadas orientam-se águas acima do ribeirão Maribondo até sua
cabeceira, ganham o divortium aquarium dos rios Grande – São José e vão em
demanda das cabeceiras do ribeirão da Lagôa Sêca pelo qual descem até o rio
Grande, a meia distância entre a Cachoeira dos Índios e a confluência do
Paranaíba.
Mas,
não temos a intenção de bordar comentários acerca deste momentoso assunto, por
nós já ventilado em outros escritos. Animamos, tão só e exclusivamente, tecer
ligeiros e despretensiosos confrontos referentes às denominações ribeirinhas, aos
rios e riachos, arroios, córregos, regatos e nascentes, de curso normal ou
transitório, no vasto hinterland tanabiense que, embora seccionado pela recente
divisão, de que nós ocupamos, comporta ainda área não inferior a dez mil
quilômetros quadrados, o que lhe confere primazia no cômputo de superfície
entre os duzentos e setenta municípios de São Paulo.
Os
rios exercem marcada influência no comportamento humano. É para gozar das
vantagens destes caminhos naturais e de fácil acesso que o povoamento procura,
no início, de preferência e quase exclusivamente, a margem dos rios, escreve
Caio Prado Junior. Além de excelente campo de alimentação pela pesca e pela
água, indispensável á vida, servem de meios de comunicação, e, por isso, junto
deles, se aglomeram os homens. A civilização egípcia desenvolveu-se toda ela
próximo aos deltas e no vale do famoso Nilo e, para usarmos “prata de casa”
diremos que os rios foram aliados do brasileiro na penetração do país, as
bandeiras e monções, aproveitando o fenômeno de que os nossos rios interiores
correm, não para o mar, mas para o sertão, em suas entradas seguiram as trilhas
indígenas e as fluviais e os primeiros estabelecimentos foram fundados à sua
jusante e montante.
Os
pioneiros e sertanistas destes rincões, violaram a selva municipal, há mais de
uma centúria, indiretamente, pelas vertentes do Turvo e do Grande, vindos da
Farinha Pôdre, a hodierna Uberaba, ou do incipiente arraial dos Trinta Fogos,
atual cidade de Parnaíba e, de modo direto, através os campos vicinais dos
córregos e ribeirões com passagem pelas cercanias da vetusta São José do Rio
Preto. Construíram elos (no que foram imitados pelos demais que se lhe
seguiam), bem rente aos cursos de água e com a fachada voltada para estes, suas
primitivas cabanas de pau-a-pique, toscos ranchos de madeira cobertos de folha
de coqueiro, cavacos de árvores, capim e sapé, reminiscências dos romanos e dos
sarracenos, conforme opina Gilberto Freire; aí fazem e até hoje fazem, profusa
criação de gado de espécies várias, encurralados em fechos e cercados, ou mais
à larga em potreiros e invernadas, tendo por base, ao fundo, a aguada
indispensável; aí se instalaram as dependências da habitação rural, currais e
cocheiras, casinha de despejo, paióis, chiqueiros, hortas e demais edificações
agropecuárias, todos os marcos da chamada “civilização caipira” de que nos fala
João Carlos Fairbanks, sobre a Alta Sorocabana. O monjolo, o moinho de fubá e a
roda de água exerceram e exercem privilegiada atuação na economia rural
sertaneja.
Só
mais tarde, com o adensamento da população, constituída, em parte, de elementos
alienígenas, portadores de novos costumes, é que o roceiro, por antonomásia
“beira – córgo”, em virtude de seus hábitos arraigados, resolveu edificar sua
moradia em terras mais altas, a regular distância da correnteza, quer em
fileiras ou “colônias”, quer isoladas em “retiros” e “fazendas”, sinônimo de
casa grande, passando a dar aos animais domésticos, água extraída de cacimbas e
cisternas posta em grandes cochos de madeira à sombra de copadas árvores. Só
assim foi possível condensar o povoamento nos tabuleiros enxutos e pelas
lombadas distantes da linfa cristalina.
Das
denominações de um riacho, de um manancial mais ou menos importante, vem,
muitas vezes, os nomes dos bairros e das localidades que daí surgem. Todos os
nossos núcleos de população, sem exceção de um só, tornaram-se conhecidos pelos
nomes dos córregos onde se localizam: o Mangue, o Peróbas, o Malhador, o Grama,
o Alegria e tantos outros todos eles são servidos por pequenas águas de quem
herdam seu nominativo próprio. A maior parte das povoações do município:
Américo de Campos, Vila Monteiro, Piassava, Vila Cardoso, Vila Nova, Boa Vista,
Tanabi mesmo situam-se a cavaleiro de ribeirões mais ou menos pandos, ao passo
que Cosmorama, Vila Gestal, Brasilândia, Votuporanga, Vila Pereira, Ibiporanga
etc., chantaram-se mais ao alto, em aclives bem feitos, ainda que não mui
distantes do líquido precioso.
Releva
notar que os modernos “plantadores de cidade” preocupam-se com a excelência
climática, com a topografia, o panorama e outros fatores não menos
desprezíveis, meios e facilidades de comunicações, eqüidistância de outros
centros, terras propícias, ás lides agricultoras e pastoris etc...
Tanabi
o simpático topônimo que, por ocasião da criação do distrito de paz, nos
últimos dias de 1906, substituiu sua anterior denominação Jataí, então singelo
aglomerado de casas rudimentares em torno ao velho largo, ponto de reunião de
boiadeiros e peões, pouso forçado de tropas e boiadas em constantes idas e
venidas a Mato Grosso, esse mesmo sonoro vocábulo, tonado, à encantadora língua
ameríndia, significa, nada mais nada menos que “rio das borboletas”, a exemplo
de Tatuí, rio dos tatus, Piraí, rio do peixe, conforme ensina Plínio Ayrosa,
ilustrado tupinólogo bandeirante, em que pese definição contrária de “madeira
adstringente que aperta”, homenagem, talvez, à sua flora arbustiva rica em
tanino.
Dessarte,
seu próprio nome acha-se vinculado ao elemento líquido. Fundada que foi nossa urbs
na foz do Jataí (Hymenae courbaril), árvore de fruto duro ou Jatobá e do Bacuri
(Slatonia insignis, Mart.), palmeira de elegante porte – encontra-se, não
obstante esse fato, assente em magnífica lombada e cresce, como a civilização,
rumo ao oeste e em direitura ao traçado da ferrovia que ora demanda o sertão,
prolongando seus trilhos até Presidente Vargas, ex Porto do Taboado.
Os
grandes imóveis rústicos, lembrando as sesmarias do período colonial,
receberam, outrossim, os nomes dos córregos e ribeirões que banham suas terras;
definindo seu perímetro pela divisão judicial, são as grandes, fazendas
devidamente registradas im primo loco. Acontece, porém, haver invasão de área e
um imóvel absorver outro já inscrito e, muitas vezes, nomes distintos são aplicados
à mesma propriedade comum, por quem quer que tenha interesse em criar confusão
e arrebanhar alheios direitos, dando, assim, origem aos famigerados “grilos”
que infestam as zonas novas e que se tornam espantalhos dos adquirentes de boa
fé, más paraíso dos espertalhões que deles aurem pingues lucros.
Fazendas
há, bastante dilatadas, que se tornam conhecidas por uma e mais toponímias
variantes: “Marinheiro”, “Barra das Pedras” e “Anhumas”; “Cachoeira dos
Tomazes” ou “Macaúbas” com seu aposto “Pinheiros”; “Água Vermelha” também
designada “Queirozes”; a fazenda “Nova” que tem por alcunha “Ribeirão Bonito”;
“Viradouro” sub nomeada “Espraiado”; “Pádua Diniz” que atende pelos nomes de
“Cervo”, “Aparecida” e outros, deixando de mencionar, propositalmente, as hipotéticas
“Corredeira Grande”, “Buriti”, “São Martinho”, “Alegria”, “Ribeirão dos
Vianas”, e outras que a fantasia humana registra. Assim, numa simbiose
perfeita, as fazendas Jataí, Perobas, Fortaleza, Nova, Prata, Piedade, Barra
Mansa, Cachoeira dos Felícios, Água Vermelha, Santa Rita, Araras, Marinheiro,
Águas Paradas, Guariroba, Viradouro, São João e São Pedro, Jagóra, Ranchão,
Barrinha, Carrilho, Ponte Pensa, Pádua Diniz, Cachoeira dos Tomazes todas elas
receberam seus topônimos idênticos aos dos córregos que sulcam e transitam
nesses sítios. Desses nomes, uns memoram antigos posseiros e habitantes da
redondeza, outros nomes de santos tirados do hagiológico cristão, cores do
prisma, benfeitorias humanas, símbolos dos reinos naturais, um acontecimento qualquer,
em suma: variação, diversidade, memória.
E,
para encerrar estas sensaboronas nótulas, recolhidas a esmo, vamos tentar
grupar em classes os nomes dos nossos “ caminhos que andam”, na feliz expressão
de Palcal:
Antroponímicos
- Boaventura, Antônio Bento,
Cabeceira do Pio Néco, Fachina, Cabeceira do Adolfo, João Caetano, Constantino,
Prudêncio, Pádua Sales, Pelágio, Botêlhos, Adolfo Silvério, Pompeu, Inocêncio,
Chico Gabriel, José Antônio, Pádua Diniz, Manuel, Egídio, J. Costa, Juca Barão,
David, Juvêncio, Carneiro, José Leopoldino, Lino Alves, Honório, Nelson,
Geraldo, Queirozes, Bernardo, João Clemente, Isáaque, Caio, Lúcio, Araújo,
Agricultura
– Roça, Capoeira, Quiçássa, Mata.
Construções
civis – Ponte Pensa, Ranchão, Tapera, Cambão, Monjólo, Giráu, Carrinho,
Estiva, Moinho, Cocho, Abarracamento, Pulador.
Flora
– Mandioca, Carandiúva, Buriti, Perobas, Angola, Capituva, Pimenta, Jataí, Cana
do reino, Herva Danta, Feijão Queimado, Sapé, Marinheiro, Grama, Aroeira,
Cedro, Coqueiro, Cambaúva, Macaúbas, Coqueiral, Piassava, Arroz, Paineiras,
Guariroba, Açoita Cavalo, Limoeiro, Taquari, Bacuri, Goiaba, Capim.
Fauna
– Veado, Nutum, Queixada, Cérvo, Anta, Onça, Jacu, Sucuri, Jaguar, Irara,
Tapir, Tatu, Garças, Capivara, Cavalinho, Perua, Maribondo, Sapo, Notuca, Jaú,
|Itaguaba, Sapinho, Taiassú, Anhumas, Jagóra, Cancan, Abelha, Tangará,
Jacutinga, Corvo, Cotia, Araras.
Configuração
do terreno – Rochedo, meio, Espraiado, Sumidouro, Corredeira, Divisa,
Esgoto Grande, Varginha, fundo, Vertente Comprida, Estreito, Pontal, Lagoa
Seca, Resfriado, Varjão, Chapadão Comprido, Barra Mansa, Cacimba.
Caminhos
e natureza do solo – Barreiro, Pedras, Barro Preto, Cabeceira da
Estrada, Arrancado, Cabeceira das Minas, prata, Lageado, Barreirinho, Mangue,
Água Parada, Água Quente, Água Fria, Água Limpa, Água Suja.
Sentimentos
humanos, estados de alma – Cachoeira Feia, Confusão, Fortaleza, Boa
Vista, Alegria, Retiro, Cariri, Tristeza, Soledade, Suspiro, Piedade, Engano,
Perdido, Duvida, Bonito, Formoso.
Mitológico
– Cachoeira da Sereia.
De
religião – São Pedro, São João, São Domingos, Santo Antônio, São
Martinho, Santa Rita, Santana, São José, São Roberto.
Cores
do prisma – Água Vermelha, Turvo, Preto, Anil, Água Amarela, Cachoeira
Dourada.
Diversos
– Três Irmãos, Quebra Cocão, Coivara, Lingüiça, Quebra Carros, Malhador, Tupi.
Distrito Policial de Tanabi
Em 1902, é que foi criado o distrito
policial conforme se vê do termo de audiência inicial lavrado a 12 de julho
daquele ano: “Aos dôse dias do mez de Julho de mil novecentos e dois neste
districto Policial da Capella do Jatahy município de São José do Rio Preto comarca
de Jabuticabal Estado de São Paulo em casa de rezidencia do Cidadão João
Baptista de Lima ahi presente ao Cidadão João Baptista de Lima Sub-Delegado de
Policia em exercicio commigo escrivão em Bonca por não haver Official de
Justiça. Não havendo ninguem a requerer foi dicto pelo Subdelegado que suas
audiencias ficavão marcadas todos os sabbados, quando friado este dia ficava
transferida para o primeiro dia util immidiacto e que o escrivão lavra-se os
competentes edictaes, avizando ao publico da rezulução acima vem como á casa
das audiencias será na sua propria rezidencia. Eu, Daniel da Cunha Moraes,
Escrivão da Policia o escrevi – Lima”.
Distrito de Paz
Em menos de um lustro, o povoado
tomava o impulso com a construção, pelo povo, de uma igrejola em estilo
colonial (atualmente demolida) e prédio para cadeia em dois pavimentos. Assim,
atendendo ao desejo dos moradores criou o governo do Estado o distrito de paz
de Tanabi, nome pelo qual fora substituída a antiga denominação e dentro das
seguintes divisas: “Começando nas cabeceiras do córrego do Bálsamo, por este
abaixo até o Rio Preto, daí a rumo direito até o Rio Turvo, e por este abaixo o
rio Grande, por este abaixo até a barra do São José dos Dourados, por este
acima tudo quanto verte, até a barra do córrego do Tatu ou Ipê, daí em rumo
direito à cabeceira do Bálsamo onde tiveram princípio”.
Mas a sua instalação teve lugar
somente no ano seguinte nos termos da ata que para aqui transcrevemos: “Acta da
instalação do Distrito de Paz de Tanaby – Aos nove dias do mez de Janeiro de
mil novecentos e sete, nesta Povoação de Tanaby, sede do districto do mesmo
nome, comarca de Rio Preto, na sala superior da Cadêa, presentes, as dez horas
do dia, os Cidadãos Capitães José Alves de Magalhães e Bernardino Mendes de
Seixas, primeiro e terceiro Juizes de Paz, e os Senhores: Coronel Adolpho
Guimarães Corrêa, representando a Câmara Municipal, Capitão Luiz Francisco da
Silva, representando o Jornal “O Porvir”; José Pimenta Bemfica e Manoel Leão,
representando os empregados da Câmara Municipal; José de Assis Pereira Silva,
Collector Estadoal, e outros que vão ao fim assignadas, commigo Nicolau Lerro,
Escrivão de paz interino, assumiu a presidencia o primeiro nomeado. Em seguida
depois de declarada aberta a sessão, disse que tendo sido creado pelo governo
do Estado por decreto n. 992 do anno passado este Districto de Paz de Tanaby,
haviam sido eleitos Juizes de Paz os Senhores José Alves de Magalhães, Polinice
Celeri e Bernardino Mendes de Seixas por eleição designada e realizada no dia
dezesseis de Dezembro proximo passado; que tendo sido os mesmos Juizes à
excepção do segundo empossados dos cargos em data de ante-hontem perante o
doutor Juiz de Direito da Comarca, vinha declarar para isso instalado para
todos os effeitos legaes o Districto de Paz de Tanaby, e por isso se
congratulava com todos os habitantes do districto pelo importante melhoramento,
beneficio intraduzível que vinha firmar a sua prosperidade. Pelo Coronel
Adolpho Guimarães Corrêa foi proferido algumas palavras relativo ao acto. Em
seguida o Snr. Manoel tambem proferiu algumas palavras e o Snr. Alarico Lex.
Nada mais havendo a tratar foi levantada a sessão depois de lavrada, lida e
assignada a presente acta por todas as pessoas presentes. Eu, Nicolau Lerro,
Escrivão de Paz int.o, o escrevi e assigno. (a.a.) José Alves de Magalhães –
Bernardino Mendes de Seixas – Adolpho Guimarães Corrêa – Luiz Franco da Silva –
Manoel Leão – José Pimenta Bemfica – José de Assis Pereira Silva – Alarico Lex
– Cornélio Alves de Magalhães – Antonio Funchal – João Evangelista de Castro –
(assinatura ilegivel) – Felipe Wasser – Emygdio Alves de Menezes – João do
Amaral Filho – Donato Martinez Portela – Belarzzo Ludovico – Augusto Corrêa –
João Barbosa do Amaral – Amaro Rodrigues Carneiro – Antonio B. Costa – Leonildo
Bataglia – Nicolau Lèrro”.
O Município
Instalado o juizado de paz maior foi
o incremento tomado no desenvolvimento da vila, aqui se localizando numerosas
famílias entre as quais ás dos coronéis João Alves Monteiro e Militão Alves
Monteiro, ente ultimo, mais tarde, chefe político de fama regional. Instalam-se
as primeiras lavouras cafeeiras secundadas pela abertura de grandes fazendas
pastoris e o bovino torna-se base de sua economia e, pela lei 2.009, de 23 de dezembro
de 1924 é elevada a foros de cidade inaugurando-se o município com grandes
festas no ano imediato conforme se vê no documento seguinte: “Ata da Instalação
do município de Tanaby – As 12 (dose) horas do mez de março, no dia 13 do mesmo
mez do ano de 1925, Nesta cidade de Tanaby, no edificio destinado ás sessões da
Camara Municipal, á rua Coronel Joaquim da Cunha Junqueira, reunidos aí os
vereadores eleitos e diplomados e reconhecidos cidadãos: Cel. Militão Alves
Monteiro, Marcílio Cesário de Magalhães, Veríssimo Ferreira Julio, Augusto
Manoel Elias Abufares, Manoel Pereira Leal, e José Flavio de Moraes Sobrinho,
sob a presidencia do Meritissimo Juiz de Direito da Comarca de Rio Preto, Dr.
João Elias da Cruz Martins, abriu-se a sessão solemme da instalação do
municipio de Tanaby, pertencente à referida Comarca. O Dr. Presidente, em
breve, mas eloqüente alocução, congratulou-se com os habitantes desta cidade,
pela justa aspiração que é a creação do municipio, que ora se instala, e, com o
Governo do Estado, por esse auspicioso acontecimento. Dando o compromisso aos
vereadores eleitos, convidou para secretário da reunião, o vereador José Flavio
de Moraes Sobrinho, ordenando em seguida ao escrivão do Jury e do Juízo da
Comarca, que lavrasse o termo de compromisso de vereadores, sendo por todos
assignado. Declarando o Dr. Presidente que poderiam usar da palavra que o
desejasse, levantou-se o vereador Augusto Manoel Abufares que agradecendo
congratulo-se com o povo desta terra pela realização do seu desejo, prometendo
que ele e seus companheiros cumpririam com zelo e patriotismo, seus deveres de
vereador. Em seguida usou da palavra o advogado Dionizio José dos Santos Filho
que dirigiu vibrante saudação ao Cel. Militão Alves Monteiro, aos membros do
Directorio, vereadores eleitos, não somente em seu nome, com tambem em nome do
Cel. Fabiano Barreto. Falou em seguida o Reverendo Pe. Agostinho dos Santos
Pereira que em entusiasticas palavras dirigiu saudação ao referido chefe
politico, vereadores, membros do Directorio e ao povo desta terra. Fez em
seguida, vibrante oração, em nome da classe operaria, o Sr. Oscar Rufino.
Depois foi proferido eloqüente discurso de saudação ao chefe político desta
localidade e vereadores eleitos, pelo advogado Adaucto do Amaral, em nome proprio
e em nome do Capitão Augusto de Almeida e do povo de Severinia. Falou em
seguida o Dr. Abelardo de Oliveira congratulando-se com o chefe politico,
vereadores, membro do Directorio e com o povo desta terra pela instalação do
municipio. Pelo Juiz de Direito foi declarado que tendo compromissado os
vereadores, estava instalado o município, pelo que se regosijava e declarava
encerrada a sessão de que vai lavrada a presente ata por mim secretario
escolhido que a assigno, bem como Dr. Juiz de Direito, todos os vereadores e
pessoas presentes á este acto. (a.a.) João Elias da Cruz Martins - Militão
Alves Monteiro – Marcilio Cesário de Magalhães – Veríssimo Ferreira Julio –
Augusto Manoel Elias Abufares – Manoel Pereira Leal – Jose Flavio de Moraes
Sobrinho – Joaquim Pinto da Costa – Antonio Fidelis – Oscar Pires – Arlindo
Faria – Rufino Rodrigues Barbosa – Nestor Biazon – Aziz Maluf – Francisco
Laurito.”
Á esse tempo já havia sido criada a
paróquia de Nossa Senhora da Conceição, sendo seu primeiro vigário o Pe.
Agostinho dos Santos Pereira. Circulava se primeiro jornal “O Direito” dirigido
por José Batista de Carvalho e funcionava o primeiro e até hoje único cinema,
propriedade da Empresa Vargas. Em 1926 a cidade é iluminada a luz elétrica
movida a vapor e mais tarde ligada à usina do Maribondo. Nesse mesmo ano
dava-se a instalação dos distritos de paz de Monteiro e Américo de Campos.
Foram criados, a seguir, a Coletoria
Estadual – decreto 3836, de 04 de abril de 1925 – cuja receita orça atualmente
em mais de mil e quinhentos contos de reis, a Delegacia de Polícia, elevada a
5º classe pela lei 2210, de 28 de novembro de 1927 e atualmente de 4º classe e,
posteriormente a Coletoria Federal com renda superior a duzentos contos anuais.
Data de 1922 a criação das Escolas Reunidas e sua transformação em Grupo
Escolar (ainda, infelizmente sem prédio próprio) deu-se já em plena Republica
Nova, graças aos esforços do político Francisco Vargas então chefe peceita.
Surgiram ultimamente em todo o vasto
território municipal novas e importantes povoações já elevadas a distrito:
Cosmorama, (Lei 2659, de 09 de setembro de 1936, instalado em 30 de janeiro de
1937 e Votuporanga, 2º zona do distrito de Monteiro criada em 25 de março de
1940 e no mesmo ano instalado. Ainda recentemente, perdeu Tanabi, a favor de
Pereira Barreto o grande imóvel rústico “Ponte Pensa” composto de centenas de
milhares de alqueires de terras diminuindo-lhe o território. Não obstante,
dispõe ainda de aproximadamente dez mil quilômetros quadrados de superfície
onde labora ordeira população calculada em sessenta mil almas, das quais a
décima parte habita o perímetro urbano da sede.
Dentre as principais povoações que
pontilham a hinterlândia municipal destacam-se, além das sedes distritais, as
de Ibiporanga, Gestal, Cardoso, Pedranópolis, Brasilândia, Pereira, Piassava,
Nova, Indianópolis, Itaporam, Jales, Boa Vista, Cachoeira dos Índios, Estrela
do Oeste e outras que diariamente surgem.
Com o prolongamento da ferrovia
Araraquarense, em demanda de Porto Presidente Vargas, cujos rails tangenciam-se
na sudoeste e sulcam terras do patrimônio municipal, Tanabi, por certo, estará
fadado a tornar-se uma das mais movimentadas e progressistas cidades da faixa
pioneira do planalto.
Tanabi,
08 de dezembro de 1940.
Sumário para as Monografias
Municipais – Tanabi.
Posição,
configuração, confrontações e limites: O município de Tanabi
está situado na fronteira de Minas Gerais, confrontando-se com este Estado pelo
Rio Grande; com o município de Pereira Barreto pelo córrego Ilha Seca e
Ribeirão Maribondo; com o município de Monte Aprazível pelo rio São José dos
Dourados e seus afluentes o Fortaleza e Grama; com o município de Mirassol pelo
espigão das águas vertentes dos córregos Balsamo e Perobas e ainda com o
córrego da Divisa e Ribeirão Jataí; com os municípios de Nova Granada,
Palestina e Paulo de Faria pelos rios Preto e Turvo.
A
configuração geral do município é semelhante à do Estado de São Paulo.
Divisão,
superfície e população: O município está atualmente dividido em quatro
distritos de paz e uma zona, a saber: o distrito da sede abrangendo a cidade e
a povoação de Ibiporanga; o distrito de Monteiro dividido em duas zonas sendo a
1º com sede na referida localidade e abrangendo as povoações de Cardoso, Bela
Vista, Pedranópolis, Brasilândia, Pereira, Indianópolis, Cachoeira dos Ìndios,
Itaporam, Mira Estrela, e a 2º zona, recentemente criada, com sede em
Votuporanga e abrangendo as povoações de Piassava, Jales, Estrela do Este e
Carvalho; o distrito de Américo de Campos compreendendo a povoação de Gestal; o
de Cosmorama compreendendo a povoação de Nova.
A
superfície do município é calculada em cerca de onze mil quilômetros quadrados,
o que equivale dizer que é, não só o maior como ainda o que lhe vem a seguir
com quase metade de sua área – Araçatuba.
O
recenseamento de 1940 colocou-o no 19º município mais povoado do Estado com
60.000 habitantes; tudo leva a crer que esse número deve oscilar entre 65.000
dada a crescente penetração de novos moradores. A população da sede deve orçar
entre 4.500 a 5.000 e as dos distritos entre 350 a 550 habitantes cada.
A
sede municipal: Tanabi está assente no pontal dos córregos Jataí e
Bacuri em local aprazível e saudável de ótima topografia; suas ruas são
apedregulhadas, iluminadas a luz elétrica, passeios pavimentados. Possui cerca
de 1.000 prédios para residência e comércio, Igreja Matriz, Hospital “São
Vicente de Paulo”, Jardim Público, jornal semanário “ O Município”, coletorias
Federal e Estadual, Prefeitura, Agência Postal Telegráfica, cinema “Rio Branco”
com boas instalações, 2 hotéis, associações recreativas “Grêmio Recreativo e
Literário”, esportivas: “Tanabi Tênis Clube”, “Tanabi Futebol Clube”, e “Tanabi
Cestobol Clube”, biblioteca pública Municipal, delegacia de polícia de 4º
classe, cadeia pública, cartório de paz e tabelionato com instalações que
rivalizam com os melhores do Estado e diversos melhoramentos de prol.
Aspecto
e relevo do solo: o terreno em geral é pouco acidentado, achando-se as
maiores elevações junto ao divisor das águas Dourados – Preto e Dourados –
Grande; na fazenda “Fortaleza” o solo é mais revolto mas em geral predominam
declives mansos dos espigões aos córregos e destes aos rios para onde correm.
Terras secas e arenosas.
Hidrografia:
É banhado por três grandes rios que lhe marcam os contornos externos: o
Dourados e seus afluentes da vertente esquerda; o Grande e seus tributários da
direita; o turvo e seu galho principal o Preto; os rios interiores de maior
importância são: o Jataí que banha a sede municipal; o Cachoeira, o Barra
Mansa, o Fortaleza, o Prata, o Bonito, o Piedade, o Marinheiro, o Pádua Diniz,
o Água Vermelha, o Santa Rita, o Águas Paradas, o Tomazão, o Espraiado, o São
João, o São Pedro, o Jagora, o Açoita Cavalo, o Ranchão, o Arrancado etc... É
um município quase mediterrâneo, porquanto, afora pequeno trecho de espigão na
divisa de Mirassol e outro na divisa de Pereira Barreto acha-se compreendido e
circunscrito por águas ribeirinhas.
Clima:
É em geral quente e seco, contudo agradável. Só nas proximidades dos grandes
rios como o Dourados e Grande é que a malária predomina, sendo saudável noutros
pontos.
Riquezas
naturais: Há muitas, todas, porém, inexploradas. Contudo há indícios da
existência de jazidas minerais nas margens do rio Grande, tais como, petróleo,
diamantes, breu, etc... Grandes quedas de água pontuam a fronteira municipal
entre elas a cachoeira de São Roberto, a dos Índios, a da Quiçaça e outras. A
principal exploração atual é a agrícola com extração de lenha e madeira, cascas
de tanino etc.
Lavoura
e criação: o cultivo de cereais e algodão é intenso em todo o município
onde centenas de milhares de alqueires de terras são plantados anualmente
tornando-o um dos maiores produtores do Estado.
A
pecuária é, igualmente desenvolvida principalmente nas margens da estrada do
Taboado onde uma verdadeira civilização do gado aí se desenvolve. Entre os
maiores criadores contam-se os Srs. Francisco Antonio Maximiano, Eduardo Alves
Ferreira e outros.
Indústrias:
Não é muito desenvolvida. Há, no entanto, máquinas de benefício de café
e arroz, usinas para benefício de algodão na sede e em Cosmorama, fábricas de
telhas e tijolos, de calçados, cortume, tipografia, fabricação de rapadura e
álcool em pequena escala, marcenarias, carpintarias, etc...
Comunicações
e transportes: As principais vias de comunicação são constituídas de
estradas de auto e de carros de boi. A principal é a que, partindo de Rio Preto
serve à cidade e se dirige para Cosmorama de onde se bifurca indo um ramo para
Monteiro, Cardoso e ainda Pereira e Cachoeira dos Índios; o outro ramo passa
por Votuporanga e vai um galho para Pereira e outros pontos e outro galho para
Piassava e galhando a Boiadeira para porto Presidente Vargas. De Tanabi saem:
uma para a sede da comarca (Monte Aprazível) e outro para ibiporanga e
Mirassolândia e ainda para Américo de Campos e Palestina. Centenas de caminhos
vicinais recortam o município em todas as direções. O principal transporte é
feito por meio de jardineiras e automóveis com intenso tráfego diário para todo
o sertão. Há também o carro de bois e o cavalo que bons serviços prestam e
próximo aos povoados a carroça e pequenos veículos de transporte.
Crédito
e previdência: O município não tem ainda agências sendo-lhes prometido
para breve a instalação aqui do Banco do Estado; todo o seu comércio bancário é
feito pela praça de Mirassol onde contribui com cerca de 90% de seu movimento.
O crédito particular é feito por meio de empréstimos a juros acima da taxa
legal. A caixa econômica anexa à coletoria estadual recolhe as economias dos
particulares com depósitos oscilando entre 200 e 300 contos. Desenvolve-se o
costume capitalizações com várias companhias operando na praça.
Propriedade
territorial: Contando mais de quatro mil propriedades territoriais o
município está bem subdividido principalmente na região de Cosmorama,
Votuporanga, Pedranópolis, Pereira e outras onde as grandes companhias
retalharam em pequenos lotes suas propriedades agrícolas rústicas; há contudo
alguns latifúndios em toda a gleba municipal alguns próximos à sede o que lhe
tem retardado o desenvolvimento.
Comércio:
Cidade-chave do sertão, enfeixando vasta rede de estradas de autos e
carroçáveis seu comércio é bastante ativo superior em movimento às cidades
vizinhas; o comércio nos distritos, principalmente em Cosmorama e Votuporanga é
bem intenso tendendo a progredir mesmo nos pontos mais afastados como Cardoso,
Pereira, Monteiro etc...
Condições
nosológicas e recursos sanitários: A região é, via de regra, saudável;
registram-se, no entanto, casos de malária, principalmente nas cercanias dos
grandes rios limítrofes, de amarelão e bócio, motivado pela incipiente
habitação do roceiro; a mortalidade infantil é bastante acentuada na zona rural
pela predominância de métodos empíricos.
Melhoramentos urbanos: Entre os
principais em vias de conclusão, iniciados ou em projeto destacam-se: a reforma
geral das estradas; abertura da estrada para a Estação de Engº Balduino da qual
distará 7 quilômetros; muro em torno do cemitério e respectivo necrotério;
construção das quadras de tênis, cestobol e futebol; ajardinamento da Praça da
Bandeira; construção do prédio do grupo escolar prometida pelo governo do
Estado para 1942; serviço de água e esgoto de imprescindível necessidade.
Ensino público e particular:
Deixa a muito desejar. O público, constituído por um grupo escolar com 10
classes na sede e escolas urbanas nas sedes de Cosmorama, Votuporanga, Américo
de Campos, Monteiro, Cardoso, Pereira, Gestal, Ibiporanga e isoladas nas
fazendas Nova, Peróbas, Cachoeira dos Felícios, Nova etc... O ensino particular
é quase inexistente. Não há um só edifício público construído pelo Estado
estando o Grupo Escolar a pedir rápida substituição.
Imprensa, bibliotecas, museus,
monumentos históricos e artísticos: Tem um semanário “O Município” órgão
tradicional fundado há muitos anos e atualmente em nova fase sob a direção dos
jornalistas Dr. Valentim Alves da Silva e o autor destas linhas com oficinas
próprias à rua Carlos de Campos.
Teatros e cinematógrafos: Na
sede funciona há quinze anos o cinema “Rio Branco” de propriedade do Sr.
Francisco Vargas, moderna casa de diversões com todos os requisitos necessários
e freqüentados diariamente pela melhor sociedade local. Em Votuporanga foi
inaugurado recentemente outro cinema de instalações modestas.
Assistência pública e privada:
como obras de assistência social há o Hospital “São Vicente de Paulo”
construído pelo povo e que presta assistência gratuita e renumerada à
população, com boas instalações que a coloca entre as melhores da região. Há um
posto de Saúde subsidiado pela prefeitura que também atende aos doentes pobres
da região.
Criminalidades e suicídios: Há
algumas décadas o município constituía forte reduto de criminosos e velhacouto
de bandidos foragidos de outras partes do Estado; com a penetração de milhares
de famílias e aumento da população verificado nos últimos 15 anos, com o
aniquilamento da política que contribuía para esse estado anormal cessou a
grande criminalidade aqui imperante; atualmente poucos casos registram os anais
do crime o que se pode verificar pelo decréscimo de processos a julgar no Júri
da Comarca. Também são raros os casos de suicídios.
Associações: São poucas as
associações locais. Há as associações religiosas e entre as profanas: o “Grêmio
Literário e Recreativo”; o “Tanabi Futebol Clube”, os clubes de Tênis e
Cestobol e nada mais.
Religiões: Impera o catolicismo
com boa matriz em construção nas sede e várias igrejas nos distritos. Existem
diversos adeptos de outras religiões como o espiritismo, o protestantismo
etc...
Governo e administrações municipais:
O município é governado por um prefeito, o Sr. Manuel Garcia de Oliveira
nomeado em agosto de 1941 e que vem exercendo o cargo a contento. No entanto,
não tem sido feliz em administrações posteriores razão pela qual a iniciativa
privada tem em muito superado a pública. Nos distritos o prefeito é
representado por pessoas de sua confiança, agentes municipais e fiscais.
Finanças públicas: A renda da
Prefeitura está orçada em 500:000$000 anual sendo que a arrecadação supera em
muito essa cifra. O Estado arrecada anualmente dois mil contos e a União mais
de duzentos e cinqüenta contos de reis.
Política e repressão: O
município é sede de delegacia de 4º classe sendo delegado atual o Dr.
Francolino Machado Filho e escrivão Oscar Rufino; em todas as sedes distritais
há sub-delegacias funcionado no cartório de paz respectivo; nas fazendas e
bairros a autoridade é o inspetor de quarteirão. Sertão bastante remoto em
alguns pontos serve de abrigo a criminosos e larápios de outros pontos do
Estado motivo pelo qual a escolta de capturas periodicamente lhe visita para
por cobro a essas anomalias.
Justiça: Nas sedes distritais a
Justiça é representada pelo escrivão e juiz de paz. O município pleiteia e com
razão a instalação de sua comarca atendendo-se a enorme área de seu território.
Defesa nacional: para a defesa
nacional concorre anualmente com dezenas de jovens sorteados e alistados no
município onde não há unidades do exército. Com o prolongamento da
Araraquarense em seu território e ainda pelos numerosos portos fluviais e sua
posição fronteiriça torna-se município essencialmente estratégico razão que lhe
assiste de tornar-se sede futura de unidades aquarteladas do Exército onde
poderão ser instalados campos de aviação civil e militar para o centro do país.
Organização trabalhista: Não
havendo indústria bastante desenvolvida seu número de operários é pequeno;
copioso é seu número de trabalhadores rurais constituído de pequenos sitiantes,
camaradas, arrendatários, parceiros, agregados, peões etc. O ordenado médio
diário é de 6 a 10$000 isto é, com e sem alimentos.
Tanabi, 30 de dezembro de 1941.
Tanabi e sua Toponímia
A
toponímia geográfica do município de Tanabi foi ultimamente enriquecida de:
novas denominações expressivas e interessantes, umas, complicadas e estranhas
outras, todas, porém, refletindo o fácies heterogêneo ruhs,
operado em seu território, com a invasão sistemática de milhares de habitantes
novos vindos em ondas sucessivas a tentar fortuna dadivosa faixa pioneira.
Dessa penetração, em grande escala, trazendo o despovoamento a regiões mais
antigas e que tem como fatores precípuos a estrada de ferra e o algodão,
resultou, como conseqüência imediata, a implantação de numerosos povoados e o
avigoramento de localidades existentes, todos eles, hoje, em franco progresso,
alguns aspirando, já, sua autonomia, alforria de vilas e cidades, pretensão que
vem esbarrar na lei qüinqüenal elaborada pelo Conselho Nacional de Geografia.
Para
designar povoações recém fundadas, escolheram os desbravadores topônimos de
origem e composição vária, buscando, cada qual dessas denominações, traduzir o
mais belo pensamento adequado á situação onde fundados os novos arraiais. E, a
maioria desses nomes, buscam expressar a excelência das terras circunjacentes
forradas de magníficos exemplares da flora, fazer a apologia trombeteante do
clima e também da fauna regional e tantos outros fatores emotivos; daí a
multiplicidade de termos indicando a beleza sugestiva do local onde deslizam
rios de águas puras e claras e o céu é sempre benigno. Foi, talvez, por este
motivo, pelo desejo inato de encarecer a paisagem que o homem sertanejo não mais
denomina de Campo Triste, Cerradão e Sapato Queimado o trato de
terras onde pretende erguer um povoado como outrora procediam seus avoengos.
Outro
ponto que desejamos ressaltar é para o costumeiro hábito de nomear localidades
novas com dados extraídos da onomástica; assim, Pereira, Cardoso,
Gestal, Jales e Parizi, abonam nossa
tese por serem nomes de pessoas dados em homenagem ao dono das terras, ao
chantador do cruzeiro, ao fundador do povoado embora venha incidir recente lei
vedando designar povoações e vias públicas com nomes de pessoas vivas.
Assim,
dentre os topônimos que merecem mantidos, citemos: Cosmorama –
panorama cinematográfico do mundo expressa bem uma das mais prósperas regiões
do município; Ibiporanga – terra bonita, povoação em crescente
ascese e que já aspira foros de vila; Votuporanga – terra dos
bons ares, o clima bom; indica talvez beneficamente influência por seu nome, um
dos mais ricos centros da interlândia municipal, sede de zona distrital desde
1940; Américo de Campos – sob o patrocínio de notável político
brasileiro que já não pertence ao número dos vivos; é um dos mais antigos
distritos do município tendendo a progredir; Monteiro – nome dado
em homenagem ao Cel. Militão seu patrono já não ambiciona glórias e vaidades; Mira
Estrela – composto em que o primeiro elemento provém do espanhol
merecendo conservado por sua clareza e expressão.
Discordamos,
no entanto, nas designações das seguintes localidades: Pereira –
importante núcleo improvisado em pleno sertão e que já conta cerca de 300
casas; não poderá substituir pela existência de município homônimo no Estado; Brasilândia
– florescente localidade a dois quilômetros de Pereira exigindo, como corolário
futuro, junção de ambas; trata-se de vocábulo arrevesado, sabendo-se que sufixo
lândia é de composição estranha ao português; além disso,
idênticos nomes existem nomeando localidades de outros Estados e pelo critério
atual deverá ser mudado para evitar-se duplicidade; Indianópolis,
Pedranópolis – duas prósperas povoações cujas denominações híbridas tem
seu primeiro elemento tirado do vernáculo e o último extraído do grego; para
serem mantidos deveriam tomar a forma póle de metrópole
e assim grafados Indianópole, Pedranópole etc...
Bela Vista – bastante expressivo mas inaplicável pelo fato de existirem
centenas de correlatos pelo imenso Brasil; Cachoeira dos Índios –
de signa tipicamente uma das mais lindas quedas de água do pais, jóia natural a
enfeitar nossa fronteira com Minas; seu nome deriva do fato de pertencerem
outrora aos silvícolas os terrenos marginais e seu único defeito reside no fato
de ser denominação longa, quando a tendência é encurta-lo.
Eis,
aí, em rápido escorço, as considerações que ousamos entreter relativamente à
nomenclatura dos novos centros de povoamento do maior e menos explorado
município paulista.
Tanabi, 14 de fevereiro de 1942.
Dicionário Geográfico do
Município de Tanabi.
Nos
primeiros albores do século dezenove poucos aglomerados urbanos pontilhavam o
noroeste paulista a partir de São Bento de Araraquara, Jaboticabal,
Ribeirãozinho (atual Taquaritinga), São José do Rio Preto e outros surgiram
muito mais tarde, assim como Espírito Santo de Barretos, São João Batista de
Bebedouro, São Bom Jesus de Monte Azul e tantos mais.
Além de Rio Preto estendia-se, impenetrável, o
imenso sertão habitado por índios e feras e, como referência geográfica, havia
o incipiente Jataí habitado, desde 1860, pelo tamoio Joaquim Chico e realmente
fundado, em 4 de julho de 1882, pelo esforço conjugado da tríade Polenice
Celeri, o “alferes”, único remanescente vivo, Leonildo Bataglia e João Barbosa
do Amaral, mais conhecido por Amaralzinho.
Com a abertura da estrada do
Taboado, em 1900, teve o povoado, ligeiro sopro de progresso até que, em 1906,
foi elevado a distrito de paz, instalado este ano seguinte com o nome atual:
Tanabi. Prossegue lento, o dealbar do vilarejo quando em 1922, é criada a
paróquia desmembrando-se de Rio Preto em 1924 para se constituir em município
autônomo o qual abrange, além do distrito da sede, as circunscrições
judiciárias de Monteiro (subdividida) em quatro zonas as demais Votuporanga,
Brasilândia e Cardoso, Américo de Campos e Cosmorama.
A sede – Tanabi
A cidade está edificada nas
proximidades da confluência dos córregos Jataí e Bacuri em magnífico chapadão
de terras arenosas cobertas de cerrado; não longe do centro já se percebe
melhoria na constituição do solo atestada por bons padrões vegetais de terras
menos sáfaras; talvez, por esse motivo, é que se nota verdadeiro anel de
população rerefeita constringindo o perímetro urbano onde escasseiam chácaras.
Os terrenos da sede, encravados na fazenda Jataí, foram doados verbalmente por
José Teodoro Ferreira Lemos e sua mulher confirmada, a doação, por escritura
pública lavrada em 08 de março de 1907. possui, atualmente, Prefeitura
Municipal instalada em prédio próprio; Coletorias Federal e Estadual onde são
arrecadados milhares de contos anualmente; Caixa Econômica Estadual; Agência do
Banco do Estado de São Paulo; Paróquia; Cartório de paz, registro civil e
tabelionato funcionando regularmente há trinta e cinco anos; cartório do
Registro Geral da sede da 2º Circunscrição judiciária da Comarca de Monte
aprazível à qual pertence desde 1928. É iluminada a luz elétrica fornecida pela
Usina do Maribondo; as principais ruas são revestidas de pedregulho com
sarjetas e passeios de pedra e tem uma praça ajardinada. É sede de delegacia de
polícia de 3º classe e tem Grupo Escolar funcionado com dezenas de classes e
cemitério murado com necrotério. Grande número de estabelecimentos comerciais
suprem as necessidades sertanejas e entre eles se destacam barbearias,
carpintarias, máquinas de benefício de café, arroz, usina de algodão, serraria,
cortume, torrefação de café sapatarias, hotéis, pensões, seis farmácias, seis
médicos, seis advogados, campos de footbal, tênis, basquetebol, clubes
dançantes, posto telefônico, aeroporto com magnífico hangar e biblioteca
pública municipal.
Conta, a
cidade, duas praças: “24 de outubro” ajardinada e a “Praça das Bandeiras” nos
fundos da Matriz e suas principais artérias são as seguintes: Rua Cel. Militão,
Antonio Prado, a mais movimentada; Cel. Joaquim da Cunha, Barão do Rio Branco,
Carlos de Campos, Rui Barbosa, Benjamim Constant, 7 de setembro, Marechal
Floriano Peixoto, Nilo Peçanha, 9 de julho, 13 de maio, Tiradentes, 15 de
novembro, Lacerda Franco e outras.
População
Segundo os últimos dados
estatísticos a população municipal eleva-se a cerca de 80.000 habitantes, da
qual, cerca de cinco mil habitam o perímetro urbano de Tanabi e os demais o
vasto “hinterland” adensando-se em círculo ao redor das principais sedes
distritais e povoados e rarefazendo-se pelas fazendas e regiões mais agrestes e
distantes, principalmente as situadas nas margens do rio Grande.
Não
obstante a grande infiltração operada nos últimos anos com as enormes
plantações de algodão e cereais o âmago sertanejo não foi ainda seriamente
atingido pelas vagas humanas e a paisagem diminuta mutação sofreu, comparado a
outras zonas do Estado cujo povoamento é mais denso.
Superfície
A área territorial de Tanabi é
calculada presentemente em oito a dez mil quilômetros quadrados muito embora
tenha perdido recentemente, a favor de Pereira Barreto, a quase totalidade das
terras componentes da fazenda Ponte Pensa. Mesmo assim, é ainda o mais dilatado
município de São Paulo.
Limites
Ao
norte, com o Estado de Minas Gerais, confinando com o chamado Triangulo
Mineiro, antigo sertão da “Farinha Podre”; a noroeste com o município de
Pereira Barreto (outrora com o Estado de Mato Grosso pelo rio Paraná); ao Sul
com o município de Monte Aprazível, sendo divisor o rio São José dos Dourados;
a sudeste e a leste com os município de Mirassol, Nova Granada, Palestina e
Paulo de Faria. As suas raias lindeiras são, em sua quase totalidade, banhadas
por caudalosos rios: o Dourados, o Preto, o Turvo, o Grande e ainda pelos
tributários de menor importância como o Grama, o Fortaleza, o Divisa, o Jataí,
e, somente numa extensão que não vai além de trinta quilômetros é que os marcos
divisórios assentam em terra perlongando
o divortium aquarum Jataí – Bálsamo e Jataí – Dourados até ganhar
as nascentes do pequeno córrego da Grama.
Distâncias
Tanabi
dista de sua estação ferroviária Balduino de Almeida cerca de sete quilômetros
por boa estrada de rodagem em ótima forma; da estação de Bálsamo quinze
quilômetros; de Mirassol trinta e de Rio Preto quarenta e cinco quilômetros; da
sede comarcal – Monte Aprazível está separado vinte quilômetros; eqüidista
cerca de vinte e cinco ditos de Cosmorama, trinta de Ibiporanga, atualmente
segunda zona distrital da sede; quarenta e dois de Américo de Campos e
cinqüenta e cinco de Monteiro e Votuporanga respectivamente ao passo que é de
cento e cinqüenta a duzentos quilômetros as distâncias de seus pontos fronteiriços
no rio Grande.
Bacias fluviais
Para o
rio Grande convergem, além do Turvo e Dourados os seguintes cursos d’água: o
ribeirão das Araras, também conhecido por Ilha Seca; o Santa Rita, o Arrancado,
o Água Vermelha, o Divisa, o Pádua Diniz, o Córrego Novo, o Taquari, o
Marinheiro e seus tributários; o Tomazinho e o Tomazão, afora grande número de
pequenos concurrentes; por sua vez, para a bacia do Turvo correm o rio Preto, o
Guariroba, o Botelhos, o Águas Paradas, o Piedade, o Ribeirão Bonito, o Retiro,
o Vau, o Barra Mansa, o Varginha, o Cachoeira, e, por último, o Jataí e seu
afluente o Divisa ou Barro Preto estes como limites externos com o município de
Mirassol; para o Dourados correm o Fortaleza, o Lageado, o Pulador, o do
Abarracamento, o Carrilho e seu contribuinte o Vertente Comprida, o Prata, o
Juvêncio, o Cpoeira, o Coxo, o Barreiro ou Cachoeira, o Água Amarela, o
Soledade, o Cachoeira Feia, o Espraiado, o Santo Antonio, o Buriti, o são
Pedro, o Jagóra, o Lingüiça, o Ranchão, o ribeirão do Maribondo e seu galho
principal o Pimenta estes marcando as extremas divisórias com Pereira Barreto.
No interior contam-se entre outros como afluentes do Jataí o mangue, o Bacuri,
o Perobas, o Angola, o Cedro, o anil, o Alegria, o Guamirim, o Malhador, o
Ladrão, o Divisa ou Barro Preto; despejam suas águas no Fortaleza o Grama, o
Estiva, o Congo e muitos outros; confluem para o Cachoeira o Belarmino, o
Cambauva, o macaúbas, e outros; para o Ribeirão Bonito vertem o Jambeiro ou
Meio, o Retiro, o Capim, o Pedras, o Cavalinho etc.; convergem para o Piedade o
Sucuri, o Coelho, o Coqueiral, o Cabeceira Comprida, o Adolfo, o Boaventura, o
Pio, o Pontal, o dos Três Irmãos, o Bacuri, o Bonito, o Sumidouro, o Mangue e
outros; engrossam as águas do ribeirão do Marinheiro o Engano, o Gatão, o
Bonito, o Barreiro, o Marinheirinho, o Abelha, o Égua, o Pedras, e outros de
menor importância.
Relevo do solo
O solo
da região tanabiense é ligeiramente ondulado por pequenos espigões e ausência
completa de desfiladeiros e vales profundos; só em alguns pontos como na
fazenda Fortaleza é que se notam ligeiros enrugamentos de superfícies aliás de
formação secundária; o restante é composto de taboleiros, chapadões e extensas
várzeas principalmente nas margens dos rios limítrofes.
Reserva
hidráulica
Entre as
grandes quedas de água que pontilham os rios da região tanabiense podemos
destacar a famosa Cachoeira dos Índios com mais de trezentos mil cavalos e a
secunda entre as maiores do Estado; a da Quiçaça, a da Onça, todas no rio Grande
a de são Roberto e do Paredão no rio Preto.
Vias de
comunicação
É
atualmente ligado ao sistema ferroviário nacional pela estrada de ferro
Araraquara com estações denominadas Engº Balduino (a mais próxima da cidade),
Cosmorama (em vias de inauguração) e Votuporanga além de outras intermediárias
sendo que esta última já está atingida pelos cortes da via permanente.
Das estradas de penetração podemos eleger
três grande eixos: a do Porto Taboado (já agora denominado Getúlio Vargas) uma
das mais antigas e abandonadas pistas de gado, de trânsito dificultado até para
as manadas bovinas; a de Cosmorama – Monteiro – Porto – Militão e Américo de
Campos – Gestal – Porto do Anil; a elas se ligam os caminhos vicinais, galhos
de pequenas e grandes artérias formando cruzamentos e ligando habitantes de
vilas, povoados e bairros com a sede municipal. Exceto a primeira e conhecida
pista de gado, a Boiadeira, onde transitam animais e carros de bois as demais
veiculam autos, caminhões, ônibus ou “jardineiras” repletas de passageiros,
carrinhos de mola e cavaleiros transportando viajantes e gêneros de produção em
que predominam cereais e algodão em rama, além de mercadorias importadas. Nos
últimos decênios foram abertas e conservadas boas estradas ligando a cidade a
Cosmorama, Votuporanga, Monteiro, Pereira, Indianópolis, Cachoeira dos Índios,
Cardoso, Gestal etc., sendo de cerca de mais de um milhar de quilômetros o
sistema viatório tanabiense.
Altitude
Segundo
dados que possuímos não ultrapassa de 550 metros a altitude máxima de Tanabi
porquanto acha-se a cidade a 537 metros acima do nível marítimo; a bacia do rio
Preto está a 316 metros, Porto Taboado a 328 e a barra do Turvo a 360 metros
respectivamente. Como elevação principal destaca-se o divisor das águas dos rios
Turvo e Dourados por onde está concentrada a maior densidade de população e se
desenvolvem os maiores núcleos demográficos. Resta-nos conhecer ainda as
medidas de altitudes feitas pela E.F.A perlongando esse divisor onde altos
índices devem ter sido encontrados. Compõem-se
os demais pontos do município de ondulações mansas que vão dos espigões
às margens ribeirinhas em declives suaves propícios às culturas agrícolas e
criação intensiva.
Cultura do solo
Conta o
município de Tanabi de quinze a vinte mil cafeeiros aliás de produção fraca
dado os modos empíricos de seu cultivo e por se tratar de solo arenoso e seco o
que tem motivado o abandono de extensas áreas cultivadas. No entanto, a cultura
de cereais, e, sobretudo de algodão, dia a dia mais se dilata com a abertura de
roças novas, co derrubadas ciclópicas que atingem centenas e milhares de
alqueires; tudo leva a crer que, dentro em breve, será Tanabi o maior celeiro
agrícola do estado Bandeirante. Em geral, o tratamento do solo é feito por
métodos primitivos consistindo em roçada derrubada, queima, plantação, trato
desta com uma ou duas carpas anuais, colheita manual etc.. Dentro de três ou
quatro anos semeia-se capim para formação de pasto na área cultivada, e novo
trecho de mata virgem é abatido.
Divisão das
propriedades
O
município acha-se dividido em grandes fazendas que conglobam todas as vertentes
e bacias dos ribeirões, de quem, quase todas, herdam o nome contando-se, entre
elas, as seguintes: Perobas, Jataí, Cachoeira dos Felícios, Fortaleza, Prata,
Carrilho, Nova ou Ribeirão Bonito, Piedade, Águas Paradas, Marinheiro,
Guariroba, Cachoeira dos Tomazes, Pádua Diniz ou Cervo, Corredeira Grande,
Ribeirão dos Vianas, Santa Rita, Araras, Água Vermelha, Viradouro, Barrinha,
São João e São Pedro, Jagóra, Ranchão, Maribondo ou Pimenta, Ponte Pensa,
Saltinho da Boa Vista, etc..
Posseiros e
início do povoamento
Os
primeiros posseiros do território hoje constituinte do município foram: a do Campo
Belo (hoje Marinheiro) feita por José da Costa Maldonado; Barra
do Turvo por João e Adão da Costa Maldonado; a do Rio Grande
feita por Luiz Januário de Barros; a da Barra do Rio Turvo feita
por Flávio Alves da Costa; a do Rio Grande devida a João da Costa
Maldonado; a Santa Rita feita por João Tomaz da Costa; a da Barrinha
feita por Manuel Gracia Pires, Pedro Teles, Camilo Militão de Oliveira,
Jerônimo José Pereira; a da Grama feita por Teodoro Mendes da
Costa e Antonio da Costa Lima; a do Turvo feita por Luiz Antonio
da Silveira, um dos fundadores de Rio Preto; Alagoas devida a
José Francisco Pereira: Queiroz a Joaquim Rangel; Águas
Paradas a João Botelho de Vasconcelos, sendo, a mais antiga a de José
Alves Ferreira e João Ramos da Costa na fazenda Viradouro, primitivo núcleo de
povoação.
Os
movimentos dos grupamentos humanos são motivados, sem dúvida, por impulsos de
ordem econômica. É a necessidade que compele tais infiltrações, expanções e
deslocamentos. Eles se fixam onde o trabalho permite tal fixação. Aí se
enraízam, desdobram e são assimilados, escreve Nelson Werneck Sodré em seu
ensaio “Oeste”, página 105, onde fala das primitivas penetrações em solo
matogrocense, aliás, bastante comuns com as processadas em nosso território. No
pontal dos rios Grande Paranaíba as clãs pastoris dos Garcias e Sousas cedo iniciaram
aí sua labuta. Em 1831, Joaquim Francisco Lopes explorou as terras do rio
Grande; mas, do lado direito, o nosso lado, nada foi feito senão muito mais
tarde, embora já houvessem por esse tempo, posses esparsas pelo território
inquinado. Vieram de Minas os primeiros povoadores e mormente da região de
Barretos. Grande parte buscava a região como esconderijo, para fugir á
perseguição das autoridades de outras plagas. Em torno da Boiadeira muitos
deles tem essa origem embora sejam hoje pacatos fazendeiros, que nada mais
desejam do que viver em paz e prosperar. Muitos, também, foram peões que, indo
e vindo de Mato Grosso, aí se fixaram para não mais voltar.
Em 18 de
setembro de 1850 promulgou o Império a lei que proibia aquisições de terras que
não fossem por escritura pública de compra. Existiam, nessa ocasião, aqui,
diversas posses e datam daí as primeiras legalizações por meio de registros em
Rio Preto e Jaboticabal.
Descendentes
dos Lopes, os Queirozes influíram na toponímia tanabiense emprestando seu nome,
por antonomástica, à fazenda “Água Vermelha” onde se acha localizada a
Cachoeira dos Índios, uma das mais lindas e possantes quedas de água do Brasil.
Alimento
comigo a convicção de que o próprio nome do rio fronteiriço São José dos
Dourados deve sua origem, provavelmente, a lembranças da região matogrocensse
onde há o rio Dourados que serviu de teatro à épica resistência de Antonio
João. Igualmente Santo Antonio, ou Piassava, conhecido por “Corrutela” na gíria
da peonada que por aí transita tais origens do Oeste por onde os povoados são
assim conhecidos.
Na
transmissão dos grandes imóveis rústicos contam-se casos interessantes e dignos
de registro: enquanto Luiz Antonio da Silveira adquiria todo o Ribeirão Claro
com onze mil alqueires de terras por um simples carro de bois, um caboclo
nosso, cujo nome ignoramos, vendeu toda a imensa fazenda “Araras” em troca de
uma trela de cachorros caçadores! Sítios e fazendas trocadas por espingardas,
carros de milho cavalo arreado etc., são comuns nos princípios do século e
derradeiros anos do anterior.
Rápida leitura das escrituras lavradas no
cartório local mostram a indigência das vendas efetuadas: dilatadas glebas
cobrindo vastas áreas de terras hoje valorizadas eram despretensiosamente
vendidas por ninharias, algumas centenas de mil reis somente. Além disso, outro
contraste frisante verificamos, a exemplo do que aconteceu e acontece em Mato
Grosso: donos de latifúndios extensos vivem paupérrimos em choças e tugúrios
onde causa acanhamento penetrar e muitas vezes nem sequer dispõem de numerário
para ocorrer ao pagamento dos impostos que sobre essas terras recaem, além de
seu nível de vida ser quase primário.
As casas
de madeira, barreadas com esse barro úmido que se joga nos cruzamentos das
ripas e parrotes e cobertas de telha vã, ou mesmo sapé, são ainda a morada
preferida de quase todos os camponeses. Só os mais abastados fazendeiros e
sitiantes, é que possuem vivendas construídas de tijolos com relativo conforto
disseminados na imensa região q que circunscrevemos este singelo estudo; mesmo
nos povoados tais tipos de construção bastando citar, por exemplo,
Pedranópolis, Pereira, Brasilândia, Votuporanga e ainda Gestal, ibiporanga e
outras; revela frisar que Votuporanga, padrão de rápido desenvolvimento na zona,
em recente estatística de 1940 acusa a existência de 121 casas de madeira al
lado de 122 de tijolos! Numerosos sítios, ainda há pouco desertos de ecúmeno
são agora povoados de casebres de construção recente, arroteado pelo homo viril
e daí surgem lavouras promissivas e emansipadoras.
É em
torno da ossatura do espigão mestre, onde atualmente a Araraquarense cava seu
leito em busca da caixa líquida do Paraná, que se processa a grande penetração
humana dos derradeiros anos. Aí nasceram povoados que hoje são vilas e amanhã
cidades de importância como Cosmorama, Votuporanga, Monteiro, Pereira,
Brasilândia, Pedranópolis, Cardoso, Jales, Indianópolis e outras mais que
surgem como cogumelos e logo atraem atenção; fora dessa diretriz bem poucas
localidades conseguiram impor-se, havendo até casos de involução e
retardamento. Foi aí que as propriedades retalhadas adquiriram valorização
acima do normal, bastando citar a existência em Votuporanga e Pereira de datas
vendidas por oito contos de reis e terrenos marginais ao leito da via férrea
dos povoados valendo de três a cinco contos por alqueire.
Dá-se,
em Tanabi, interessante fenômeno: o afluxo cotidiano de elementos estrangeiros:
sírios, espanhóis, japoneses, italianos, portugueses, alemães, e elementos
nativos a jogar no tabuleiro interno suas tendências, ambições díspares e
complexas, interesses mútuos ou antagônicos; infiltraram-se, eles, pelos
meandros das matas e são os plantadores de algodão, cultivadores de arroz ou
criadores de gado, via de regra as três coisas juntas, ficaram, os demais, na
esquina dos povoados, que ajudaram a improvisar, e são os comerciantes, os
vendedores ambulantes que varam o território sertanejo de um a outro extremo;
parte deles adquiriram lotes de terras e são os sitiantes e muitos tornaram-se
boiadeiros, contando-se, entre estes, nacionais, peninsulares xucros e até
louros alemães.
Com essa
penetração é que se deu a luta do homem com a terra a quem o regime pastoril
não concorre, dado que é de exploração natural seu contato com o solo. Grandes
clareiras nas matas seculares, primeiros rudimentos de maquinismos agrários
secundados por transportes motorizados, tudo isso indica que aqui já se opera a
conquista do meio agreste.
A
existência de imensas matas cobertas de angicos em todo o trato de terras
municipais está provocando o aparecimento de indústrias extrativas. Aliás,
supomos, deve-se à existência de matas fornecedoras de tanino, o fato de Tanabi
significar, na opinião de Urbino Viana “madeira adstringente, que aperta”. Essa
madeira o angico, fornece grande quantidade de cascas que são tiradas em
tamanhos de, um metro, empilhadas na beira da estrada e daí transportadas para
a cidade onde já existe um bom curtume, ou diretamente para a estrada de ferro.
Além disso, essa madeira fornece alto teor de eficiência calorífica, sendo,
bastante procurada para lenha, indústria de carvão agora valorizada como
crescente emprego do gazogênio.
Pequenas
e grandes propriedades instalaram-se ao longo dos cursos de água de maior ou
menor extensão; desse modo, para nomear os bairros, populosos ou não, outra
palavra não temos que aquela designativa do curso de água em cujas margens o
homem fixou sua moradia.
Há,
contudo, aberrações contrárias; elementos nômades, talvez influenciados pelo
exemplo nipônico edificam seus ranchos precários em plena roça, junto ao
algodoal, para melhor aproveitar o serviço de mulheres e crianças, fixando-se
nos espigões altos a regular distância do elemento civilizador, a água, e daí
nascem novos bairros de nomes arrevesados como esse “Waceda” que é o maior
núcleo japonês do município.
Com este
intróito passemos a arrolar os topônimos geográficos do município de Tanabi:
ABELHA: córrego afluente do Pedras, na fazenda
Marinheiro; serve de limite da zona distrital de Monteiro, com sede em
Brasilândia; bairro desse nome.
ÁGUA AMARELA: bairro e
córrego na fazenda Prata; dista poucos quilômetros de Cosmorama e de sua
estação ferroviária.
ÁGUA LIMPA: córrego
tributário do ribeirão do Espraiado, na fazenda Viradouro, vertente do rio são
José. Primitivo nome da cidade de Monte Aprazível outrora pertencente ao
distrito de Tanabi.
ÁGUA VERMELHA, ou QUEIROZES:
grande imóvel rústico confinante com as fazendas Satã Rita, Pádua Diniz e Rio
Grande; em suas proximidades está a Cachoeira dos Índios; pertence ao distrito
de Monteiro, 3º zona distrital denominada Brasilândia; banhada pelo ribeirão
Água Vermelha, que lhe empresta o nome, o qual tem por afluentes o Bonito, o
Araras e outros.
ÁGUAS PARADAS: imóvel
rústico sito à margem do rio Preto e confinante com seus congêneres Piedade e
Guariroba; é banhada pelo ribeirão de igual nome em cuja margem direita está
assentada a vila de Américo de Campos; no espigão divisor ergue-se a povoação
de Gestal, também conhecida por São Roberto, fundada por Manuel Pontes Gestal.
Diversos córregos como o Suspiro, o Irara, o Varjão e outros engrossam suas
águas todos eles constituindo bairros habitados.
ALEGRIA: bairro e
córrego afluente do ribeirão Jataí distante cerca de oito quilômetros da
cidade. Querem alguns que o verdadeiro nome da fazenda geral “Jataí de Baixo”
seja esse de Alegria, dado que é lá que se processou uma das primeiras posses
nas terras de Juca Boiadeiro hoje pertencente a terceiros.
ALTO BACURI: nome do
patrimônio fundado em 1929 por José Baliano no divisor Dourados – Turvo próximo
a Votuporanga. Desapareceu logo após a morte de seu fundador e dele só restam
hoje alguns esteios fincados à beira da estrada.
AMÉRICO DE CAMPOS: sede
de distrito de paz criado pela lei 2180, de 29 de dezembro de 1926 e instalado
no ano seguinte; possui cerca de 150 prédios. Foi fundada à margem do ribeirão
Águas Paradas, sua antiga denominação, em 8 de maio de 1920; nessa data, o
agrimensor João Inocêncio do Amaral cortou os primeiros quarteirões da vila que
esta sob a invocação de São João Batista e Nossa Senhora Aparecida. Joaquim
Manuel Serapião foi o primeiro comerciante que aí se estabeleceu sendo
considerado seu fundador. Teve também o nome de “Vila Botelho”, em seus
pródomos, em homenagem aos primeiros lavradores dessa família que aí se
instalaram.
ANGICOS: antigo povoado
entre Tanabi e Monte Aprazível nas proximidades da estação de Engº Balduino que
serve às duas cidades; segundo a tradição, chegou a rivalizar com Tanabi,
possuindo afinada banda musical que se fazia ouvir ruidosamente nas festas
religiosas do velho Jataí quando este não sonhava ainda possuir sua
filarmônica. Hoje nada mais resta da localidade extinta a não ser alguns
carcomidos esteios fincados na invernada rústica.
ANGOLA: córrego
afluente do Jataí neste desembocando no bairro da Vila Tomaz, córrego esse
também conhecido por José Portinho; designa igualmente o bairro desse nome.
ANHUMAS: regato na
vertente do ribeirão do Marinheiro; serve de linde divisória para á 4º zona
distrital de Monteiro com sede em Cardoso.
ANIL: porto fluvial no
rio Turvo, também conhecido por porto do Isaac, nome este de velho morador do
local e que aí mantém balsa de madeira para a travessia do rio. Nome de
afluente do Jataí e de córrego na fazenda Guariroba.
APARECIDA: uma das
sub-denominações da fazenda Pádua Diniz. Propriedade agrícola, na fazenda
Piedade, pertencente à família Arroyo, sendo considerada uma das melhores
fazendas de café do município possuindo máquina de benefício.
ARARAS: grande imóvel
rústico à margem esquerda do rio Grande, limitando-se com este e com as
fazendas Santa Rita, Ponte Pensa e Ranchão. É banhada pelo ribeirão das Araras,
ou Lagoa Seca, o qual serve de limite entre os municípios de Tanabi e Pereira
Barreto. Designa também boa extensão de terras e córregos na fazenda Viradouro
propriedade dos Irmãos Cavalini.
AROEIRA: afluente do
rio Grande, na fazenda Pádua Diniz. Com esse mesmo nome existe outro córrego na
fazenda Jataí provavelmente parte de seus terrenos incorporados ao distrito de Mirassolândia
pela ultima divisão territorial.
ARRANCADO: ribeirão
concorrente ao sistema hidrográfico do rio Grande e sítio na fazenda Santa
Rita; possui diversos afluentes entre os quais o denominado Candinho.
BACURI: córrego situado
ao sul da cidade de Tanabi e que deságua no Jataí logo abaixo da cidade; tem
por afluentes o Mangue e pequenas nascentes.
BALDUINO ou ENGº BALDUINO:
estação da estrada de ferro Araraquara situada nas linhas fronteiriças dos
municípios de Tanabi e Monte Aprazível servindo ambas cidades e a estes ligadas
por moderna rodovia, distando cerca de 7 quilômetros de Tanabi. Esse topônimo
foi dado em homenagem ao antigo diretor da Estrada.
BANDEIRANTES: praça
central na vila de Cosmorama onde se ergue a primitiva igrejola construída quando
da fundação do povoado; nela está sendo edificada atualmente nova matriz e
circunda-a bons prédios, entre os quais sobressaem, a “Casa de Saúde dos Drs.
Nunes”, o cartório de paz e diversos estabelecimentos comerciais.
BANDEIRA: praça
contornada pelas ruas Carlos de Campos, Floriano Peixoto, Nilo Peçanha e Rui
Barbosa nos fundos da Igreja Matriz.
BARÃO DO RIO BRANCO:
rua na cidade de Tanabi tendo por limites externos a transversal “13 de maio” e
terrenos de Flávio Soares de Paula; teve, outrora, o nome de Altino Arantes;
nela estão situadas atualmente a Cadeia Pública, o Cinema Rio Branco, a
Coletoria Federal e a Biblioteca Municipal, além de ótimos prédios
residenciais.
BARRA MANSA: grande imóvel rústico
confinando com as fazendas “Cachoeira dos Felícios”, “Nova” e com o rio Preto;
banhada pelo ribeirão de igual nome com numerosos afluentes entre eles o
Cambão; pertencente nesta data à 2º zona distrital de Tanabi sediada em
Ibiporanga e a estas, ligada por estrada de rodagem. Houve, outrora, nesse local,
rudimentos de um povoado com patrimônio e cemitério, o qual não logrou
subsistir.
BARRETO: córrego na
fazenda “Jataí de Baixo” e que segundo Martius, essa palavra, em tupi tem o
significado de terrenos salitrados e por isso mesmo freqüentados por animais
silvestres.
BARRINHA: também
conhecida por Buriti; fazenda confinante com o rio São José e imóveis Viradouro
e São João e São Pedro. Está situada próximo ao incipiente povoado de Santo
Antonio e é banhada pelo córrego do Buriti.
BARRO PRETO: nome de
córrego à margem direita do Jataí oficialmente conhecido por córrego da Divisa.
Córrego na fazenda Nova, também conhecido por Capim.
BENJAMIN CONSTANT: rua,
outrora conhecida por Anita Garibaldi, tendo, por limites, a rua Capitão Daniel
e terrenos particulares; nela se localizam as máquinas Tabacchi, Vendramini e
Aguilar, boas casas comerciantes, ferrarias e carpintarias além de numerosas
residências.
BOA VISTA: vilarejo
situado na fazenda”Cachoeira dos Tomazes” à margem da rodovia Monteiro Cardoso;
tem a antonomásia popular de “Caba já” como a profetizar-lhe vida efêmera.
BOTELHOS: nome de
primitivos habitantes do distrito de Américo de Campos designando bairro desse
nome; córrego afluente do rio Preto na fazenda “Águas Paradas”. O bairro desse
nome é servido pela estrada de autos Guariroba – Palestina, passando por
Gestal.
BRASILÂNDIA: povoação
fundada em 1937 por Carlos Barrozzi e filhos na fazenda “Marinheiro” distante
dois quilômetros da povoação de Pereira. Em 24 de agosto de 1942 foi elevada a
sede de zona, a 4º do distrito de Monteiro sendo instalada em 24 de janeiro de
1943. É um topônimo de formação irregular híbrida em que entram como
componentes termos de origem anglo e luso.
CABAJÁ: curioso
topônimo aplicado pela irreverência popular aos lugarejos retardados e
incipientes; nada menos de três povoações, neste município, são assim
designadas: Bela Vista, Vila Nova e Gestal e, parece-nos, subsistirá somente
quanto à primeira a quem já é hábito assim nomear.
CACHOEIRA DOS ÍNDIOS: grande
queda de água no rio Grande, na fronteira de Minas; ligada a Tanabi por estrada
de autos com um percurso de mais de cento e cinqüenta quilômetros passando por
Indianipólis e Pereira. Constitui excelente logradouro público para turistas
que ai já encontram acomodações construídas pelo ex prefeito do Município
Vergninaud Mendes Caetano ai residente. Deve sua denominação ao fato de
pertencer aos indígenas os terrenos marginais, segundo a tradição.
CACHOEIRA DOS FELÍCIOS: grande imóvel rústico
assim denominado por ter sido habitada, há mais de meio século, pela família
Felício, tronco dos Macieis; banhada pelo ribeirão da Cachoeira e seus
tributários: o Belarmino, o Cambauva, e outros menores; limita-se com as
fazendas Jataí, Nova, Barra Mansa e com o rio Preto, sendo cortada pela estrada
de autos Tanabi – Américo de Campos; pertence à 2º zona distrital de Ibiporanga
a partir do córrego da Cambauva e o restante à zona da sede.
CAMBAUVA: bairro e
córrego afluente da margem esquerda do ribeirão Cachoeira, servindo de divisa
entre o distrito da sede e sua 2º zona. Seu nome deve ser originário de vegetal
que prolifera junto à sua corrente.
CAMPO SANTO: rua em Tanabi com ponto
terminal no Cemitério Municipal e no ribeirão Jataí. Nela está situado o
“Hospital São Vicente de Paulo”, moderno estabelecimento de caridade dirigido
pelas Irmãs da Divina Providência que aí mantém freiras e pela Irmandade de São
Vicente.
CAMPO DE AVIAÇÃO: construído
nas imediações da cidade há um e meio quilômetro de distância na fazenda Jataí
e onde foi construído moderno hangar denominado “Visconde de Mauá”, tomando o
campo a denominação de “Aeroporto Getúlio Vargas Filho”. Além desse campo de
pouso para aviões outros já existem em terras do município contando-se entre
eles o de Jales, Monteiro e fazendas de particulares.
CANA DO REINO: também
conhecido por Soledade; córrego na fazenda Viradouro servindo de limite entre
os distritos da sede e Monteiro, 2º zona com cartório em Votuporanga. Seu nome
deriva de conhecida gramínea.
CAPIM: córrego que
deságua no ribeirão Bonito.
CAPITUNA: afluente do ribeirão Marinheiro, na
fazenda nome próximo ao rio Grande.
CARDOSO: vila situada
nas proximidades da desembocadura do Turvo, no rio Grande; foi fundada por
Joaquim Cardoso Filho do sertanista Vicente Cardoso da Silva, um dos primeiros
moradores da zona; possui mais de uma centena de prédios, regular comércio
regional. Em 24 de agosto de 1942 foi elevada a sede distrital com cartório já
instalado.
CARLOS DE CAMPOS: rua
na cidade de Tanabi tendo por limites extremos de Victor Della Colecta e
Guilherme Alvim Moore; é uma das únicas vias públicas da cidade cujo nome não
foi alterado desde a instalação da Prefeitura em 1925; nela se localizam o
cartório de paz, redação do jornal “O Município”, o “Aéro Clube” de Tanabi”
campos de esporte etc., além de boas residências.
CARRILHO, ou CARRINHO: grande
imóvel rústico limitado pelas fazendas Fortaleza, Prata e pelo rio Dourados. É
banhada pelo ribeirão de igual nome; pertence ao distrito da sede e é cortada
pela estrada do Taboado com boas propriedades pastoris.
CARVALHO: vilarejo
fundado por Felício José de Carvalho à margem da Boiadeira na fazenda
Viradouro; com a morte de seu fundador decaiu a ponto de constituir atualmente
mera referência geográfica co alguns botequins esparsos e poucas residências.
CEDRO: CÓRREGO AFLUENTE
DO Jataí e bairro do mesmo nome distante cerca de três quilômetros da cidade.
Seu nome é tirado de conhecida madeira de lei.
CEMITÉRIO: pequeno
córrego nas proximidades de Ibiporanga, nome que recebeu em virtude de haver,
em tempos idos, nesse local, um cemitério onde, segundo afirmam, só eram
inhumados gente de cor, dele ainda restando vestígios.
CERVO: cognome do
imóvel “Pádua Diniz” e denomina diversos regatos no município.
COQUEIRAL: córrego no
distrito de Américo de Campos e afluente do Piedade; bairro bastante habitado,
principalmente por ibéricos e descendentes destes.
CORREDEIRA GRANDE: imóvel
rústico à margem do rio Grande.
CÓRREGO NOVO: afluente
direto do rio Grande no imóvel “Pádua Diniz”.
COSMORAMA: vila desde
1927, data da criação do distrito de paz; antiga venda à beira da estrada de
autos Tanabi – Monteiro, nas imediações do córrego Cavalinho; ai, Antonio
Cândido Borges, proprietário dos terrenos, e Júlio Catini, fundador da primeira
máquina de beneficiar café e arroz, ergueram o povoado, o qual, em poucos anos
atingiu foros de vila e conta atualmente mais de duzentos prédios. Seu nome
vernáculo tem o significado de panorama cinematográfico do mundo, tendo sido
escolhido pelo autor destas linhas, tornando-se, em pouco tempo, bastante
conhecido em toda a região. Já se acha ligado ao sistema ferroviário do país
com estação própria que dista de sua sede somente dois quilômetros. Nesse local
ergue-se imponente conjunto industrial da firma Anderson Clayton &Cia.
CÔXO: afluente do
ribeirão Piedade, no distrito de Cosmorama.
DANIEL ou CAPITÃO DANIEL: rua
em Tanabi assim denominada em homenagem ao velho sertanista aqui residente há
meio século; foi seu primeiro escrivão de polícia, em 1902 e exerceu vários
cargos públicos tais como: juiz de paz, prefeito, presidente da Câmara etc... A
rua, de que falamos, limita-se com os córregos jataí e Bacuri em suas
extremidades.
DIVISA: córrego
afluente do rio Grande entre o Pádua Diniz e o Água Vermelha. Com esse nome
existe outro afluente no ribeirão Jataí.
ÉGUA: afluente do
ribeirão Tomaz, no distrito de Américo de Campos, tendo suas nascentes próximo
ao espigão da fazenda Guariroba.
ENGANO: pequeno curso
d’água tributário do Marinheiro.
ENGENHO: nascente que
verte para o rio Preto e fica entre o Piedade e o Bonito no distrito de
Cosmorama.
ESTRADA VELHA: antiga
estrada de carros que, partindo de Rio Preto, passa por Ibiporanga e se dirige
à Barra Mansa e Américo de Campos; é uma das mais antigas linhas de penetração
municipal e por ela, supomos, viajou a cavalo o então Tenente Taunnay vindo de
Mato Grosso para São Paulo com escalas pela então vila de São José do Rio
Preto.
FAZENDA: assim se
denominam as herdades destinadas à cultura de cereais, café, algodão, cana
etc., e às propriedades pastoris onde são invernadas as manadas bovinas de
criação e engorda. Assim, também, são nomeados os grandes imóveis rústicos
compreendidos pelas águas vertentes dos maiores cursos d’água recebendo
denominação distinta por ocasião de sua divisão judicial. O termo “fazenda”, no
sentido de propriedade agrícola, começou a ser empregue nos primórdios do
século XVII, segundo lemos em Alencar.
FLORIANO PEIXOTO: rua
em Tanabi tendo anteriormente os nomes de 16 de julho, Washington Luiz e Miguel
Costa; nesta artéria estão situadas atualmente a Prefeitura Municipal, a “Casa
de Saúde Tanabi”, e a Igreja Matriz tendo por limites nos fundos terras de
Gruilherme Alvim Moore e na outra extremidade de Victor Della Coleta.
FORTALEZA: fazenda
situada entre os municípios de Tanabi e Monte Aprazível tendo por divisor entre
estes o córrego da Grama e ribeirão daquele nome; limita-se co as fazendas
“Nova, Jataí, Carrilho e com o rio Dourados. É atravessada pela estrada de
ferro Araraquara e estrada Boiadeira; possui terrenos acidentados cobertos de
angicais onde se desenvolvem culturas agro-pecuárias de importância.
FUMAÇA: nome de uma das
maravilhosas quedas da famosa Cachoeira dos Índios na fronteira de Minas.
GATO ou GATÃO: córrego
e bairro na fazenda Santa Rita próximo à localidade de Pereira.
GESTAL: patrimônio
fundado por Manuel Pontes Gestal em terras de sua propriedade no distrito de
Américo de Campos a margem da estrada de autos Guariroba – Palestina.
GETÚLIO VARGAS: atual
denominação de Porto Taboado, no rio Paraná e ponto terminal da estrada de
ferro Araraquara. Possui barco a vapor para o transporte de gado que,
arrebanhado em Mato Grosso, é conduzido a pé para os frigoríficos de Barretos.
Pertence, desde 01 de janeiro de 1939, ao município de Pereira Barreto.
GOIABA: córrego
afluente do Jataí e bairro desse nome entre Tanabi e a estrada de ferro
Araraquara no prolongamento para Cosmorama.
GUAMIRIM: córrego
afluente do Jataí na fazenda deste nome. Bairro bastante habitado.
GUARIRÓBAS: pequeno
afluente do córrego das Pedras na fazenda “Marinheiro”; serve de limite da 3º
zona distrital de Monteiro, com sede em Brasilândia.
GUARIRÓBA: imóvel
rústico à margem do rio Turvo tendo este e as fazendas “Cachoeira dos Tomazes”,
“Marinheiro”, “Piedade” e “Águas Paradas” por extremos divisórios; é banhada
pelo ribeirão de igual nome e pertence ao distrito de Américo de Campos e
constitui propriedade única de firma inglesa que ai mantém exclusivamente
criação e engorda de gado. Seu nome deriva de conhecida palmeira.
HILÁRIO: pequeno
córrego que desce no Espraiado, na fazenda “Viradouro”.
IBIPORANGA: povoado, na
fazenda “Cachoeira dos Felícios” fundado por Marciano Maciel da Silva à margem
da estrada velha que se dirige a Rio Preto; dista cerca de 30 quilômetros da
cidade de Tanabi e desta foi desmembrada em 25 de outubro de 1942 passando a
construir sede da 2º zona distrital instalada em 24 de janeiro de 1943; seu
nome, escolhido pelo autor destas linhas, significa, no linguajar tupi guarani,
conforme Plínio Ayrosa, “terra bonita” e substitui a designação primitiva de
“Negrinha” assim batizada pela existência de gente de cor nesse local.
INDIANÓPOLIS: povoado
na fazenda “Água Vermelha” fundado em 1940; é ligado a Tanabi por linha de
jardineiras e em seu início tinha a denominação popular de “Quebra Paus”.
JAGÓRA: imóvel rústico
pastoril confinado com as fazendas “São Pedro”, “Santa Rita”, “Ranchão” e com o
rio Dourados. É banhada pelos córregos da Jagóra, Jagorinha, Duas Pontes ou
Lingüiça e atravessa-o a estrada do Taboado. Segundo supomos seu nome é uma
corruptela de Jaguar, isto é, onça.
JALLES: povoado fundado
pelo Dr. Euphly Jalles no divisor Turvo – Dourados e justamente no
prolongamento da ferrovia Araraquara ao Taboado. Já está bem desenvolvido e
possui o 1º campo de aviação do município inaugurado em 1942 com grandes festas
e Aéro Clube próprio.
JARDIM PÚBLICO: na
praça 24 de outubro em Tanabi construído pelo prefeito Odilon Pacheco logo após
a revolução de 1930 no local onde se erguia a primeira igreja desta cidade demolida
em 1932; nos fundos do Jardim está a Feira Municipal e a praça de esportes do
“Tanabi Tênis Clube”.
JATAÍ: nome primitivo
de Tanabi; grande imóvel rústico abrangendo as fazendas “Jataí de Baixo” e
“Jataí de Cima”; limita-se com as
fazendas “Cachoeira dos Felícios”, “Nova”, e “Fortaleza” e com o município de
Mirassol ao qual pertence parte. O ribeirão desse nome tem por afluentes o
Bacuri, o Veado, o Anil, o Alegria, o Barro Preto, Barreiro, o Aroeira, o
Malhador, o Guamirim, o Angola, o Perobas, o Goiaba e outros pequenos.
JOAQUIM DA CUNHA: rua
da cidade de Tanabi, assim denominada em homenagem ao saudoso político da zona
mogiana. É a principal saída para Rio Preto.
LACERDA FRANCO: avenida
em Tanabi, assim denominada em homenagem ao saudoso paulistano; tem por limites
o córrego Jataí, de um lado, e terrenos de particulares, de outro.
LIMEIRA: córrego
paralelo ao Sant Rita, na fazenda deste nome e pertencente ao sistema
hidrográfico do rio Grande.
MALHADOR: bairro
bastante povoado na fazenda Jataí de Baixo e córrego afluente de Jataí ,
servindo de limite, em confluência, entre a 1º e 2º zona distrital.
MANGUE: um dos galhos
principais dos córrego Bacuri na fazenda Jataí e bairro desse nome servido pela
estrada de rodagem que liga Tanabi a Balduino. Córrego tributário do ribeirão
da Piedade.
MARINHEIRO: cabeceira
principal do ribeirão da Marinheiro na fazenda deste nome próximo a
Votuporanga; bairro populoso.
MARINHEIRO: fazenda com
milhares de alqueires, cerca de setenta mil, conhecida por Anhumas, Barra das
Pedras etc. Dentre seus primitivos posseiros destaca-se Joaquim Pedro de Castro
que ai residiu desde 1841; em 1905 Eduardo Ferreira Guedes promoveu contra Luiz
Januário de Barros sua divisão judicial. Limita-se com as fazendas “Piedade”,
“Prata”, “Viradouro”, “São João e São Pedro”, “Santa Rita” e com o rio Gande.
Nela estão assentes as localidades de Monteiro, Votuporanga, Brasilândia,
Pereira, Pedranópolis, Mira Estrela e outras. É banhada pelo ribeirão de igual
nome o qual tem como tributários o Suspiro, o Mel, ou Santana, o Atoleiro, o
Onça, o Égua, o Arrozeiro, o Três Lagoas, o Barreiro, o Arrelia, o Barracas, o
Barra Grande, o Pedras, o Bonito, o Macaúbas, o Caqueiro, o Jacu, o Angola, o
Fundo, o Japiranga, o Caridade, o Ana, Santa Luiza, o Duas Barras, o
Marinheirinho, o Mineiro, o Carangeuijo, o Alegre, o Vaca, o Estiva, o Abelhas,
o Sapé, o Pantanal, o Capituva, o Anhumas, o José Durante, o Bagre, o Baixada,
o Tamanduá, o Veadinho, o Boi, o Papiassú, o Maravilha, o Flores, o Água Fria,
o Jacu e outros.
MATEIRO: pequeno filete
d’água que se lança no Veado e ambos engrossam o Pádua Diniz, servindo, um e
outro, de divisa entre a 4º e 3º zona do distrito de Monteiro.
MILITÃO: porto fluvial
no rio Grande, também conhecido por Porto Monteiro; rua em Tanabi em homenagem
ao Cel. Militão Alves Monteiro que por muitos anos exerceu os cargos de
Prefeito e Presidente do diretório do P.R.P local. É a mais importante artéria
comercial da cidade, onde se concentra seu mais ativo comércio; limita-se com o
córrego Bacuri, por um lado, e com terrenos de Victor Della Coleta, por outro.
Teve, outrora, o nome de Conselheiro Antonio Prado, em homenagem ao ilustre
brasileiro que foi prefeito da Capital.
MIRA ESTRELA: povoado
fundado, em 1941, por Cândido Brasil Estrela, capitalista em Mirassol, em
terras da fazenda “Marinheiro”.
MOINHO: nome de um
córrego concurrente do ribeirão Piedade, na fazenda deste nome entre Cosmorama
e Monteiro; seu nome deriva do fato de existir, na passagem da estrada de autos
que liga aquelas povoações, um velho moinho de fubá, movido por roda de água e
que foi instalado pelo Cel. Militão junto à sede de seu latifúndio.
MONTEIRO: distrito de
paz atualmente dividido em 4 zonas; foi elevado a vila em 29 de dezembro de
1926 por decreto nº 2179, e instalado no ano seguinte no povoado já existente.
É ligado a Tanabi e à região sertaneja por boas estradas de autos e tem regular
comércio.
MORCEGO: afluente do
ribeirão Marinheiro.
NILO PEÇANHA: rua em
Tanabi assim nomeada em honra do ex ministro do Exterior brasileiro. Limita-se
com o córrego Bacuri e terrenos de particulares.
NOVA ESPANHA: patrimônio
fundado pelo Dr. Arlindo Carneiro, advogado, em terras de sua propriedade na
fazenda Santa Rita. Não prosperou até hoje.
NOVA ou RIBEIRÃO BONITO: fazenda
atravessada pelo ribeirão bonito, de quem herda o nome; tem por limites as
fazendas “Cachoeira dos Felícios”, “Fortaleza”, “Prata”, “Piedade” e com o rio
Preto; em seu território estão situadas: a) uma estação ou chave da EFA; b) a
vila de Cosmorama entre os córregos Cavalinho e Retiro; c) a pequena povoação
de Nova na estrada de Tanabi a Américo de Campos esta com escola, igreja e
casas de negócio; não tem prosperado talvez por estar assente em terrenos pouco
férteis.
NOVE DE JULHO: rua em
Tanabi assim denominada em homenagem à revolução Paulista de 1932; tem por
limites a rua Tiradentes e terrenos de particulares.
PÁDUA DINIZ ou CERVO: grande
imóvel rústico à margem do Rio Grande com o qual confina e ainda com as
fazendas “Santa Rita” e “Marinheiro”; foi dividida judicialmente em 1918 e ai
se desenvolvem grandes propriedades, agro-pecuárias.
PAU ROXO: córrego e
bairro na fazenda Marinheiro próximo a Brasilândia.
PEDRAS: curso d’água afluente do
ribeirão Marinheiro; banha a povoação de Pedranópolis. Córrego na fazenda Nova.
PEDRANÓPOLIS: povoado
fundado por João Gonçalves Leite em suas terras na fazenda “Marinheiro” no dia
13 de junho de 1938; topônimo de formação híbrida pouco recomendável pelos
lingüistas. Tende a desenvolver-se com o afluxo de compradores de terras
próprias para algodão ai existentes.
PERDIDO: córrego
próximo ao Arrancado na bacia do rio Grande.
PEREIRA: povoação
fundada em 1938 por Joaquim Antonio Pereira em terrenos de sua propriedade na
fazenda “Santa Rita”; dista cerca de dois quilômetros de Brasilândia e igual
distância do traçado ferroviário do traçado da Araraquarense em seu
prolongamento em demanda do Paraná; é ligada a Monteiro, Cachoeira dos Índios e
Votuporanga por boas estradas. Possui mais de 300 prédios em tem regular comércio.
Está fadada a tornar-se uma das mais populosas vilas de hinterlândia
tanabiense. Os moradores da vila estão pleiteando mudar sua denominação para
Alcântara Machado, homenagem ao saudoso escritor paulista.
PERÓBAS: fazenda
agrícola banhada pelo córrego que lhe empresta o nome confinando-se a fazenda
Jataí e com o distrito de Bálsamo; é uma das mais povoadas do município sendo
servida pela estrada de autos Tanabi – Rio Preto e cortada pelos trilhos da
Araraquarense. Seu nome origina-se da abundância, outrora, em suas matas da
conhecida madeira de lei que tem o nome genérico de Aspidorperma. O córrego
Perobas tem como afluentes o Sapo, o Sapinho e deságua no Jataí seis
quilômetros abaixo de Tanabi.
PEROBINHA: bairro rural
sito na fazenda Perobas; possui escola estadual com prédio próprio.
PIÇARRÃO: afluente do
ribeirão Tomazes, na fazenda deste nome; serve de linde divisória entre a 1º e
a 4º zona de Monteiro.
PIEDADE: grande imóvel
rústico que tem com limites as fazendas “Águas Paradas”, “Guarirobas”, “Marinheiro”,
“Nova” e com a rio Preto; é banhada pelo ribeirão Piedade divisor entre os
distritos de Monteiro, Américo de Campos e Cosmorama tendo com afluentes o
Mococa, o Cachoeira, o Mangue, o Geraldo, o Sumidouro, ou Moinho, o anta, o
Pio, o Corvo e outros menores.
PONTAL: porto fluvial
na confluência dos rios Preto e Turvo ligando os municípios de Tanabi e Paulo
de faria.
PRATA: fazenda limitada
por suas congêneres “Marinheiro”, “Viradouro”, “Carrilho”, “Nova”, “Piedade” e
rio Dourados. É banhada pelo ribeirão da Prata formando pelo Cachoeira, Água
Amarela e outros menores. Pertence ao distrito de pás da sede e é atravessada
pela estrada Boiadeira e, no espigão, pelos trilhos da EFA de Cosmorama a
Votuporanga.
QUIÇAÇA: porto fluvial
no rio Grande abaixo da famosa Cachoeira dos Índios.
RANCHÃO: fazenda sita
na vertente do Dourados e constituída de pastagens e matas; tem como
confinantes as fazendas da “Ponte Pensa”, ou Boa Vista, “Araras”, “Santa Rita”,
“Jagóra” e rio Dourados; é banhada pelo ribeirão do Ranchão e servida pela
estrada Boiadeira pertencendo à 2º zona distrital de Monteiro com sede em
Votuporanga. Nas cabeceiras desse imóvel ergue-se a povoação de Jalles
destinada a grande incremento por estar situada nas raias do prolongamento da
Araraquarense.
RELÓGIO: córrego
tributário do rio Grande entre o Lagoa Seca e o Arrancado.
RIBEIRÃO BONITO: afluente
do rio Preto; banha a fazenda “Nova” e serve de divisor entre os distritos da
sede e Cosmorama; são seus divisores o Meio ou Jambeiro; o Palmeira, o Retiro,
o Fundo, o Barro Preto, o Porteira, o Monjolo, o Olaria, o Bagaço e outros. Há
outro córrego, desse nome, nas imediações de Monteiro e deságua no Marinheiro.
Bairro desse nome habitado por nipônicos onde há escola estadual.
RUI BARBOSA: rua assim
denominada em honra do grande brasileiro que tão alto elevou o nome de nosso
país nas convenções de Haya e Buenos Aires; confina-se ao fundo com a rua 13 de
maio e ao sul com terras de Flávio Soares de Paula.
SALTINHO DA BOA VISTA: fazenda
sita à margem do Dourados e abrange terras do imóvel Ponte Pensa.
SANTA RITA: ribeirão
tributário do rio Grande e nome do grande imóvel rústico banhado por suas
águas; são seus afluentes o córrego do Lauro, o Taboca, o Galo, o Jacaré, o
Manhoso, o Dispensa, o Fim, o Baía, o Tacão, o Macaco, o Paisagem, o Mara
Caída, o Desengano, o Volta para trás, o Feijão, o Porto, o Estiva, o Barro, o
Pedras, o Emerenciana, o Arroio, o Cotia etc... A fazenda desse nome limita-se
com a “Água Vermelha”, “Pádua Diniz”, “Marinheiro”, “São João e São Pedro”, “Jagora”, “Ranchão”, “Araras”,
e com o rio Grande; nelas se desenvolvem diversos povoados sobressaindo, em
suas cabeceiras, o de Pereira.
SANTO ANTONIO ou PIASSAVA: também
conhecido por “Corrutela” na gíria boiadeira; antigo povoado à margem do
ribeirão de Santo Antonio na Fazenda “Viradouro” e servido pela estrada do
Taboado; constitui-se de pequena igrejola e largo circundado de casebres; é o
centro da peonada que transita rumo a Mato Grosso.
SÃO FRANCISCO: propriedade
pastoril à margem do rio Dourados e pertence a uma firma inglesa.
SÃO JOÃO E SÃO PEDRO: fazenda
na vertente do rio Dourados confinando-se com as fazendas “Barrinha”,
“Viradouro”, “Marinheiro”, “Santa Rita” e “Jagora”; é banhada pelos córregos
São Pedro, São João e São Domingos; constitui um dos mais antigos bairros do
município.
SÃO JOSÉ DOS DOURADOS: rio
eminentemente paulista servindo de divisor entre os municípios de Tanabi e
Monte Aprazível e, do Maribondo abaixo entre Tanabi e Pereira Barreto
desaguando no Paraná. Tem, entre outros, os seguintes tributários na parte
confinante com Tanabi: o Fortaleza com os sub-afluentes: Boa Esperança, Grama,
Manuel Alves, Congo, Divisa, Varginha, Lageado, Arroz, Cachoeirinha e Estiva; o
Carvalho ou Vargem Comprida; o Água quente, o Cachoeira, o Prata e seus
coletores: Juvêncio, Égua, Barreiro e Perua; o Soledade inclusive o Juca Barão
e o Tamanduá; o Cachoeirinha, o Espraiado, o Viradouro, o Santo Antonio, o
Buriti, o São João, o São Domingos, o São Pedro, o Jagóra, o Lingüiça, o Duas
Pontes, o Jagorinha, o Ranchão o Açoita Cavalo, o Lageado e o Maribondo com
seus afluentes da margem esquerda: Mandacaru, Talhadinho, Quebra Cabeça e
Pimenta sendo este e o Maribondo limites de Tanabi e Pereira Barreto até o
espigão divisor.
SÃO ROBERTO: cachoeira
à margem do rio Preto e cognome da povoação de Gestal.
SAPO: afluente do
Peróbas, na fazenda deste nome.
SETE DE SETEMBRO: rua
em Tanabi limitando-se com o Córrego Jataí e com o Bacuri.
SUMIDOURO: córrego que
deságua no Piedade vivendo em suas margens laboriosa população.
SUSPIRO: córrego
tributário do Águas Paradas na bacia do rio Preto.
TAQUARI: afluente
direto do rio Grande na fazenda “Pádua Diniz”.
TANQUE: lago natural
formado na passagem da rodovia que liga Tanabi a Rio Preto, no córrego Bacuri.
TIRADENTES: rua em
Tanabi em homenagem ao proto martir da independência nacional; limita-se com a
rua 13 de maio e córrego Bacuri.
TOMAZ: bairro nos
arredores de Tanabi, na estrada de Américo de Campos; ribeirão na bacia do
Turvo tendo como afluentes o Viana, o Aldeiamento, o Piçarrão, o Joaquim José e
o Barro Preto.
TREZE DE MAIO: rua em
Tanabi homenagem à Abolição; tem lindes extremas em terras de particulares e aí
se localizam estabelecimentos industriais e algumas boas residências.
VARJÃO: afluente do rio
Preto no distrito de Cosmorama. Idem, do ribeirão Marinheiro.
VEADO: córrego na
vertente do Jataí com sua foz há poucos quilômetros da cidade. Afluente da
Santa Rita na fazenda de igual nome e ainda do pádua Diniz na bacia do rio
Grande.
VIANA: ribeirão e suposta
fazenda à margem do rio Grande.
VICENTE ALBINO: córrego
concorrente ao ribeirão Bonito, sub-denominado Pedras. É atravessado pela
estrada que vai a Américo de Campos.
VIRADOURO: fazenda à
margem do ribeirão São José dos Dourados limitando-se com as congêneres:
“Barrinha”, “São João” “Marinheiro”, “Prata” e em seu interior correm os
córregos de Santo Antonio, Cachoeira Feia, Cana do Reino, (ou Soledade),
Espraiado, Viradouro e pequenos regatos. É atravessado pela estrada do Taboado
e nela se erguem as povoações de Carvalho e Santo Antonio, sendo um dos mais
antigos núcleos povoados do município; suas terras estão todas ocupadas em
grandes invernadas rústicas e criação intensiva de gado.
VOTUPORANGA:
povoação fundada sob os auspícios da firma Theodor Wille &Cia. LTDA. Em
terrenos desta na fazenda “Marinehriro”; conta cerca de 500 prédios e é
atualmente uma das mais prósperas vilas do interior tanabiense; foi elevada a
sede de distrito no governo Ademar de Barros, em 24 de abril de 1940 e já aspira,
por sua importância, foros de cidade. Brevemente será ligada ao sistema
ferroviário nacional mediante os trilhos da Araraquarense cujo leito já se
encontra construído.
Tanabi, dezembro de 1942.
Discurso proferido no ato inaugural da Organização
Imobiliária “Flama” aos 31 de maio de 1956.
Obrigado
pelas circunstâncias a dizer-vos, caros ouvintes, algumas palavras à cerca do
evento que hoje comemoramos, eis me aqui pouco afeito ao desempenho de meu
papel, por quanto, bem o sabeis, sempre fui infenso a falar em público, embora
admirador incondicional dos bons oradores que, aliás, em todos os tempos foram
sempre recebidos com palmas e louvores.
A Organização Imobiliária “Flama”,
que neste momento inauguramos, tem por escopo ser a mediadora dos bons negócios
nesta região, quer os de natureza imobiliária; propriamente ditos, quer aqueles
que se relacionam com o ramo de representações comerciais em geral. Nuns e
noutros, abstração feita ao lucro colimado, alma de todos os negócios, é
propósito fixo de seus componentes servir à coletividade tanabiense como bons
tanabienses que são e que pretendem ser no futuro se Deus quiser.
A ninguém é dado ignorar, e todos
vós o sabeis, estou certo, o papel preponderante de organizações como esta que
aqui estamos improvisando, ao pretender merecer a confiança do povo com o fito
de incrementar transações, em todos os setores das atividades agro pecuárias,
base da propriedade econômica que habitamos. E o que pedimos a todos, ao fundar
esta casa, é confiança, apoio e interesse para que todos nós e o público,
possamos usufruir em conjunto as vantagens recíprocas dessa cooperação e desse
esforço. Mandatários da confiança pública, deste bom povo tanabiense, é o que
pretendemos ser, nada mais.
Confiantes, pois, que dareis vosso
apoio a nossa Organização, aqui estamos irmanados no são propósito de prestar
serviços. Aqui estamos, formando uma equipe disposta a lutar e a criar
elementos de progresso no movimentar incessante de nossa economia interna.
Queremos progredir porque, força é confessa-lo, representa esse progresso como
um espelho fiel, o progresso de toda a comunidade que servimos. E desse
intercâmbio de valores, num mutualismo incessante, colheremos todos os frutos
de nossos esforços e, de nossos labores.
No interregno de nossas
considerações cabe aqui um apelo: temos que elevar nossa mentalidade canhestra
e bisonha de meros caudatários dos grandes centros e criar, aqui mesmo, em
nosso meio, empreendimentos novos que nos capacitem a ombrear com outros
centros mais adiantados. É preciso vencer o marasmo que nos debilita e
procurar, através de idéias novas, valorizar o que é nosso, estimular a
circulação de nossa riqueza própria e gerar novas fontes de aplicação de
capital alienígena nos intra-muros das fronteiras municipais. Muita gente
caminha pelo mundo afora sem descobrir a força que dorme na sua própria mente.
Descubramos a que nos compete e dela façam,os a alavanca locomotora de nossas
sonhos de conquista.
Contamos, por isso mesmo, caros
ouvintes, obter o beneplácito quer das autoridades constituídas, a quem
externamos nosso cordial agradecimento pela honra de sua presença, neste
recinto, quer da população inteira desta gloriosa cívitas, a quem, de
antemão, endereçamos também o nosso muito obrigado pela acolhida da Imobiliária
“Flama”, um pequenino elo na cadeia infinita de realizações que marcam o
progresso ascensional de Tanabi, e que tem por finalidade, como seu propósito
nome indica, manter bem alto e sempre acesa, a chama bendita do ideal que a
anima e impulsiona.
Ata lavrada por Sebastião A.
Oliveira, do lançamento da pedra fundamental da Indústria de Óleos Vegetais
LTDA.
Aos quatro dias do mês de julho do
ano de um mil novecentos e cincoenta e oito; do Nascimento de Nosso Senhor
Jesus Cristo, as onze horas da manhã, nesta cidade de Tanabi, Estado de São
Paulo, em local adrede escolhido á margem da rodovia Mirassol- Presidente
Vargas, presentes os senhores José Siriani eVenizelos Papacosta,
respectivamente prefeito e vice prefeito municipal, Cônego Victor, Vigário da
Paróquia, autoridade locais e numerosas pessoas gradas, procedeu-se à cerimônia
do lançamento da pedra fundamental do edifício onde funcionará a Indústria
Tanabiense de Óleos Vegetais LTDA., firma constituída dos sócios também
presentes senhores: Dr. Renato Catini, Miguel Tomé, Osvaldo João Elias, Mário
Mattos, Sebastião Arroyo, Cristovam dos Santos Munhos, José Chain e Rafael
Chain. Após a benção da urna, na qual foram colocadas cópia desta ata, moedas e
jornais do dia, fizeram-se ouvir alguns oradores que discorreram sobre o evento
que vem marcar mais uma etapa no desenvolvimento de Tanabi, sendo vivamente
felicitados por sua iniciativa os jovens capitães da indústria local. Em
seguida lavrou-se a presente ata que vai assinada por todos os presentes. Eu,
Sebastião Almeida Oliveira, escrivão ad-hoc, a escrevi e assino: Sebastião
Almeida Oliveira, Olavo Lima Guimarães (desembargador do Tribunal de Justiça),
Emilio Mallet (Juiz de Direito), Everson Soares Pinto (Promotor de Justiça),
Cônego Victor (Pároco local), José Siriani (Prefeito Municipal), Eduardo
Ferreira Fontes (Delegado de Polícia), Waldemar Alves da Costa, A. M. Moraes
Dias, J. Lambert, João de Mello Macedo, Venizelos Papacosta, Pedro Luz,
Maximiano de Oliveira, Renato Catini, Sebastião Arroyo, Cristovam Santos
Munhoz, Nuiguel Tomé, Rafael Chain, Antonio dos Santos, Milton José Fontes,
Diniz Fracaro, José Francisco de Paulo, Mário de Mattos, Antonio Primo Mazza,
Aníbal Menegasso, Manoel Torres, Divino D. Silva, S.A. Fernandes, Flávio Celso
Contatore, Irineu Pedro Perez, João Caberlin, José de Mattos, Edmur Rodrigues
Alves, José Liebana Torres, Braz Sauro e Jorge Marão.
Instalação solene do 1º Lar
Regional do Consórcio Inter-Municipal da Alta Araraquarense no dia 05 de julho
de 1959.
Senhor Presidente, e dignos diretores do Consórcio
Inter-Municipal da Alta Araraquarense,
Senhor Prefeito Municipal de Tanabi,
Digníssimas autoridades e ilustres visitantes,
Meus Senhores, Minhas Senhoras.
Na qualidade de sócio fundador e
membro da primeira diretoria do “Lar da Criança de Tanabi”, que mais tarde se
transformou neste opulento Primeiro Lar Regional, ponto alto das realizações do
Consórcio Inter-Municipal da Alta Araraquarense, erguemos nossa humilde voz
para congratular-me com a população de Tanabi, e de toda a região
circunvizinha, pelo auspicioso evento que hoje se registra, qual a instalação
solene desta casa, abrigo e educandário a um só tempo, cuja direção interna foi
confiada a dona Maria Bustos Moreno e que já acolhe, nos intra muros de seus
edifícios, nada mais, nada menos, que cincoenta meninas, que aí recebem amparo
e educação, tornando-se, ipso-fato, no futuro, novas e risonhas esperanças de
pátria.
Olhos volvidos à um passado ainda
recente, recordamos e recordar é viver, na linguagem expressiva de Júlio
Dantas, aquela manhã radiosa de 04 de julho de 1953, quando vimos aqui, Doutor
Argemiro Acayaba de Toledo, aquela figura impoluta de magistrado e de cidadão,
que todos admiramos, acolitado pelo não menos abnegado servidor que foi o
saudoso José Luz de Freitas e ainda Mário Mendes Ferreira, que tão grande
lacuna deixou em nossa terra, além de outros vultos de prol da clã tanabiense,
lançar, neste local, a primeira pedra deste edifício, naquela ocasião ainda com
a designação modesta de “Lar da Criança de Tanabi”. Nesse momento histórico,
que evocamos com saudade, um pensamento fugaz perpassou nossa mente e
indagamos, então, se aquela simples cerimônia da colocação de uma inaugural
representaria, de verdade, uma realização efetiva, ou teria sua concretização
postergada para tempos remotos, ou para as calendas gregas como soe acontecer a
empreendimentos tais? O tempo, porém, se encarregou de desmentir prognósticos
assim sombrios, porquanto, mudados os timoneiros, outros denodados
trabalhadores, já agora comandados por Waldemar Alves da Costa, que dignamente
preside esta casa, Venizelos Papacosta, e outros, levaram a bom termo sua
tarefa, até que um dia, e já la vão seis longos anos o espírito filosófico de
Cândido Brasil Estrela, vulto plutarqueano de boa cepa, com seu dinamismo
contagiante, abrigou a luminosa idéia, deu-lhe âmbito regional, e fez nascer o
consórcio Inter-Municipal da Alta Araraquarense, idéia luminosa que encontrou
guarida, e obteve aprovação irrestrita, de todos os juízes de direito,
prefeitos e vereadores da região riopretana, tornando-se, atualmente, a maior e
mais completa obra social do país.
O milagre que aqui vedes
concretizados, nas paredes de cal e pedra que compões estas edificações, no
conforto que aqui desfrutam as internadas, possibilitado foi só pelo esforço
pertinaz da população local, já de si digno de nota por seu caráter pioneiro,
como, também, pelo concurso de todas as prefeituras da região, vale dizer com a
contribuição de todos os municípios que integram as populações da Alta
Araraquarense, esforço de cooperação digno de imitado por todas as comunas de
São Paulo e do Brasil.
Glória, pois, aos idealizadores e
continuadores de tão belo tentamen, que já conseguiu, em tão curto lapso de
tampo, amparar e conduzir para um sentido de vida mais nobre, milhares de
crianças que, sem esse amparo, e sem essa educação, todos o sabem, poderiam
tornar-se, amanhã, verdadeiros marginais a povoar prostíbulos e prisões. E que
Deus ampare e ilumine esses denodados empreendedores afim de que realizações de
caráter assistencial, como esta de Tanabi, da Sede-Triagem de Rio Preto, e o
futuro 2º Lar que se projeta em Nhandeára, sejam sementes fecundas a espalhar
por toda a parte os frutos da benemerência, o evangelho do amor e as rosas da
caridade!
Palestra gravada e irradiada pelos estúdios da ZYM-4 –
Rádio Clube de Tanabi aos 9 de julho de 1959.
Prezados ouvintes da ZYM-4 o meu cordial; boa tarde!
A população de Tanabi recebeu com
justificado júbilo a alvissareira notícia da transação recém efetuada entre o
Banco do Estado de São Paulo e a ZYM –4 relativamente à venda do prédio onde
até há poucos meses funcionou aquele renomado estabelecimento de crédito e que
a emissora local vem de adquirir para nele serem instalados escritórios e
estúdio. Situado que está no centro da cidade, sua aquisição pela Rádio Clube
de Tanabi representa alto senso de visão de seus diretores e é por isso mesmo
que aqui estamos, atendendo gentil convite, para externarmos nossa opinião
frente ao microfone desta querida emissora.
Há trinta e dois anos, quando aqui
aportamos pela primeira vez, jovem ainda, Tanabi não passava de vilarejo em
formação com sua igrejola de arraial, a decantada cadeinha velha, o
tanque, um largo quadrado, com algumas casinholas esparsas, casas comerciais e
de residência ao longo da Cel. Militão e outras perlongando ruas transversais.
A velha Boiadeira ao lado e alguns “caminhos de cabra”, que estradas não eram,
ligando nos á Rio Preto e ao sertão e pelas quais rodavam jardineiras do
Feliciano e raros Fordes de bigode. Tudo muito incipiente ainda, e muito
retrogrado. Houve quem denominasse Tanabi de “cidade caipira” e, aliás, com
muita razão.
Veio depois às duas revoluções: a de
30 e a de 32. Tanabi despertou de seu letargo; novas edificações foram
aparecendo e com elas iniciativas de maior fôlego; administradores mais
capacitados surgiram e nos três últimos quatriênios, principalmente, seu
progresso se acentuou de maneira notável não obstante haver perdido a hegemonia
de capital do sertão quer com o advento de novas comunas como: Votuporanga,
Fernandópolis e Jales, quer ainda, por ter a EFA tangenciar seus trilhos pelo
divisor das águas dos rios Turvo e Dourados afastando-se, assim, de seu
primitivo traçado. Houve, por essa ocasião, Cassandras de mau agouro, que lhe
vaticinaram decadência e derrocada, o que, graças a Deus, não se realizou. Nada
obstante óbices dessa natureza, e o grande “rush” operado com o deslocamento
de sua população, que em grande parte acompanhou as paralelas de aço até Santa
Fé do Sul e adjacências, Tanabi cresceu e se adensou e crescendo adquiriu
melhoramentos de várias espécies: grupos escolares, escola de comércio,
ginásio, escola normal e colégio estadual com milhares de alunos a adquirir
instrução eficiente e completa e também ostenta, entre as suas realizações:
aeroporto, bancos, hospital, mercado, luz elétrica, água e esgotos, magníficas
residências, ruas modernas e bem traçadas, além de modernas rodovias ligando-a
às cidades vizinhas e à Capital do Estado. Para se aquilatar o progresso que
alcançou basta recordar sua imponente Matriz Santuário, suas belas praças
ajardinadas, magnífica estação rodoviária e os últimos edifícios inaugurados
como o do Fórum, da Associação Rural, do Banco do Estado, do 1º Lar Regional e
da estação ferroviária: Tanabi, além de outras conquistas materiais e
espirituais que aos poucos transformam a fisionomia da cidade.
Na região rural onde se desenvolve a exploração agro
pecuária, base de sua economia, assinalamos a existência de cerca de dez
milhões de cafeeiros, novos fatores que lhe condicionam futuro estável e
lisonjeiro.
Palestra
proferida ao microfone da ZYM-4, Rádio Clube de Tanabi, ás 12 horas do dia 6 de
setembro de 1966, em comemoração á Semana da Pátria, promoção do Lions Clube de
Tanabi.
Caros ouvintes da ZYN-4:
Convidados que fomos pela Comissão
Promotora desta Semana Comemorativa da emancipação nacional, promoção do Lions
Clube de Tanabi, aquém agradecemos a generosidade deste convite, para dizer
algumas palavras a cerca desse memorável evento, desculpas solicitamos ao nobre
auditório pela indigência desta mensagem que sabemos despida de idéias novas ou
de novos conceitos que lograssem empolgar, ou mesmo edificar, aqueles que nos
honram com sua atenção. Nils novem facies terrae, lá diz o
prolóquio latino.
No pressuposto de que rios de tinta
já se consumiram, no lento evolver dos tempos, para descrever, com a roupagem
de novas palavras, tudo aquilo que já foi dito sobre os fastos de nossa
independência, ocorrida, como sabeis, a sete de setembro de 1822, vale dizer há
cento e quarenta e quatro anos precisamente. Nada obstante isso, cremos não ser
descabido tecer alguns comentários em torno dessa ocorrência, data lendária que
seu substância ao sentido de pátria, caracterizando-a, como ela é, como herança
e tradição do passado.
Não fossem essas comemorações de
alto sentido cívico, a serviço da brasilidade e do patriotismo, e nada mais se
faria mister falar ou escrever em torno desse tema exuberante que para todos
nós tem sentido de perene eternidade. Mas, por isso mesmo, para que se perpetue
nas gerações coévas e porvindouras, é que devemos manter sempre acesa a lâmpada
votiva de nosso ideal, ao recordar comovidos a passagem de mais uma data que
todos nós brasileiros jubilosamente comemoramos.
Decorridos, portanto, quase século e
meio da epopíea emancipadora, que teve Piratininga por cenário, eis-nos a
recordar maravilhados o gesto imortal de um príncipe impetuoso e intimorato a
derribar, com seu grito eloqüente: “Independência o Morte!”, grito que até hoje
reboa pelos quadrantes da pátria, as muralhas opressoras que régulos de além
mar teimavam edificar e manter nesta jovem nação fadada a grandes destinos no concerto
dos povos livres. E foi esse gesto redentor de Pedro I que legou ao Brasil a
predestinação de pátria no caminho da liberdade e da soberania que até hoje
persiste uma e indissolúvel.
Ao evocarmos a passagem gloriosa
dessa fecunda etapa de nossa história, que fez o colosso sul americano gravitar
confiante na órbita das maiores constelações políticas do mundo atual, saudemos
efusivamente os heróis imortais da independência: José Bonifácio, Clemente
Pereira, Gonçalves Ledo e tantos outros, vultos exponenciais que nos legaram o
Brasil uno e monolítico, fadado, por isso mesmo, a grandes cometimentos no
futuro. E agora, quando o povo brasileiro.
Cancioneiro Tanabiense
É bem
provável que as quadras populares, adiante expostas, não sejam privativas da
área geográfica tanabiense, dado que, muitas delas, são encontradiças em vários
pontos do território nacional e nesse caráter já se acham incorporadas ao nosso
folclore; nada impede até que alhures figurem em livros, escritas por algum
porta consagrado ou anônimo, portanto sem cunho algum de originalidade, mas o
que podemos afirmar, sem receio de contestação, é que todas elas foram por nós
colhidas no município paulista de Tanabi, na região da Alta Araraquarense,
bebidas na tradição oral num convívio freqüente de vinte anos. Flores agrestes
de nossa literatura, não tem elas as lantejoulas brilhantes das canções
estilizadas que andam, repetidas de boca em boca, em povos de cultura milenar,
provenham, embora, bastas vezes, de remotas origens lusitanas, mas não,
contudo, lídimos cantares da gente humilde, compondo, em sua ingenuidade, um
dos mais perfeitos mosaicos de nossa mitografia e é nesse caráter, como poesia
espontânea e fonte de sentimento popular que vão aqui arroladas.
A primeira parte do Cancioneiro traduz
expressões de cunho romântico e amoroso, ao passo que, na segunda, registramos
cantigas de escârneo e burla, eivadas de sadio humorismo e pandas de malícia;
canções a um tempo jogralescas e sensatas ressumbram desabafos de quem sofreu
ingratidões ou desenganos e, através de comparações e cotejos, que vão até ao
insulto, entremostram estados de alma diversos por meio de imagens raras e
perfeitas.
Tem o folclore, palavra inventada
pelo insulano William John Thoms, por escopo e finalidade estudar os mitos,
lendas e canções populares, ou, melhor, no original inglês: Folklore, in
fact, is the traditional culture of the folh, whether it is to be seen in the
fields of philosophy, religion, science, and medicine, in social organization
and cerimonial, in the more strictly intelectual regions of unwritten history,
poetry, and literature, or in the tradicional arts and crafs handen on fron one
generation to another. O material mais comum, e quiça mais agradável
ao pesquisador é constituído por versos e cantigas repassadas de ternura e
ingenuidade que são como o substractum anímico do povo e contém recordações da
infância sendo, por outro lado, elementos fixadores da tradição.
Dizem,
os escritores, que os poetas da Provença se inspiravam outrora nas cantilenas
do povo. Vamos, pois, beber inspiração na ternura lírica e romântica de nossos
bardos e menestréis anônimos. Pois são elas, no dizer de Olegário Mariano,
Trovadores
que o mesmo gênio inspira,
Ao luar
amoroso dos sertões,
Tangem, num
ritmo igual à mesma lira,
Cantam na
mesma voz iguais canções.
Cancioneiro
Tanabiense
1- Quando ela pisa na areia
A areia muda de cor,
Fica o terreiro cheiroso
Todo coberto de flor.
2- Quando a morena se deita
Na mata para dormir,
Todos os galhos se curvam
Para seu cheiro sentir.
3- A pombinha com o pé n’água
Pode estar quarenta dias,
Um amor longe do outro
Não pode estar nem um dia.
4- Alecrim verde arrancado
Dura só quarenta dias,
Um amor longe do outro
Não pode estar nem um dia.
5- Água apanhada no jarro
Joga-se ao chão mas não corre,
Este amor que já foi meu
Passa trabalho e não morre.
6- Atirei um limão verde
Lá no fundo de Belém,
Deu n cravo, deu na rosa,
Deu no peito de meu bem.
7- Cravo branco na janela
É sinal de casamento,
Menina tira esse cravo
Que não chegou o teu tempo.
8- Se vires a garça branca
Por cima do mar voando,
Serão as minhas saudades
Que aos poucos me vão deixando.
9- Dizem que a viola chora,
Esse é um falar errado:
A viola anda cantando
Eu é que tenho chorado.
10- Vou mandar fazer
uma casa
De vinte e cinco janelas,
Para prender a saudade
Que já não posso com ela.
11- Meu galhinho de
alecrim
Rouxinol de laranjeira,
Não há dinheiro que pague
Beijo de moça solteira.
12- Da laranja eu
quero um gomo
Quero da lima um pedaço,
Da tua boca, um beijo,
De teu corpo, um abraço.
13- Dentro de meu
peito trago
Um cravo chita dourado,
Por ninguém inda chorei,
Por você tenho chorado.
14- Lá vai a garça
voando
Co’as penas que Deus lhe deu,
Contando pena por pena
Mais penas padeço eu.
15- O anel que tu me
destes
Era de vidro e se quebrou,
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou.
16- Eu não durmo a
noite inteira
Até cantar a cauan,
Quando penso em ti morena
Julgo que a noite é manhã.
17- Viola, minha
viola,
Vamos no campo chorar,
Você sabe e não me conta
Onde meu amor está.
18- Sonhei que o fogo
gelava
E que a branca neve ardia,
E por sonhar impossíveis
Sonhei que tu me querias.
19- Os teus olhos são de fogo
Ardem mais do que um tição,
Devoram como um roçado
O meu pobre coração
20- Tenho um lencinho branco
Bordado nas quatro pontas,
Foi dado por meu benzinho
Que de mim já não faz conta.
21- Si esta rua fosse minha
Eu mandava ladrilhar,
Com pedrinhas de diamante
Para meu bem passear.
22- No alto daquele morro
Tem uma fita voando;
Não é fita, não é nada,
É meu bem que anda penando.
23- Menina, minha menina,
Minha flor de melancia;
Um beijo da tua boca
Me sustenta todo o dia.
24- Palavra fora da boca
É pedra fora da mão,
Tu tens me dito palavras
De cortar o coração.
25- Laranjeira pequenina
Carregadinha de flor,
Eu também sou pequenina
Carregadinha de amor.
26- Quero bem o pé de rosa
Por ter as folhas embaixo;
Quanto mais eu te namoro
Mais bonitinha te acho.
27- A folha da malva é doce
Mas amarga na raiz,
Você diz que não me quer
Isso me torna infeliz.
28- No alto daquele morro
Passam bois, passam boiadas;
Também passam moreninhas
De cabelos cacheados.
29- Quem quiser moça bonita
Vai na casa de capim,
Casa de tijolos tem
Mas não é bonita assim.
30- A folha da bananeira
De tão verde amarelou,
A boca de meu benzinho
De tão doce açucarou.
31- Pássaro de peito largo
Na escura moita cantou,
Moça solteira que casa
Tempo bom já se acabou
32- Cavei a terra na leira
Para plantar alecrim,
Alecrim nasce pra moças
Teu amor nasceu pra mim.
33- Lá do céu caiu um cravo
De tão alto desfolhou
Si quiser casar comigo
Fale com quem me criou.
34- Nesta rua tem um bosque
Que se chama solidão,
Dentro dele mora um anjo
Que roubou meu coração.
35- Que quer dizer ramos verdes
Brotando numa queimada?
–Significa olhos pretos
De sobrancelhas cerradas.
36- Canta, canta canarinho,
Não cantes fora de hora;
Vem aí a luz do dia
Coitado de quem namora.
37- Os galos já estão cantando
Vem o dia amanhecendo,
Já está chegando a hora
De quem ama ir padecendo.
38- Em cima daquele morro
Vejo perdizes piando,
Uma por me ver tão triste
Outra por me ver chorando.
39- Trem de ferro quando passa
Vai rebocando vagões,
Só não há trem que reboque
As cargas dos corações.
40- As estrelas do céu correm
Eu também quero correr,
Vão elas atrás da lua
Eu atrás do bem querer.
41- O meu amor não é esse
Nem aquele que aí vem,
Meu amor anda de branco
Não parece com ninguém
42- As folhas do mato caem
Procurando seu assento,
Eu também estou procurando
Em teu amor o contento.
43- Eu bati em tua porta
Correstes logo ao batente,
Quando quer o coração
Cabe nele muita gente.
44- Quem ama não pensa em nada
Quem quer bem
não considera;
Amar é coisa
medonha,
Querer bem é uma
miséria.
45- Trago assim a minha vida
A carregar minha cruz,
Ando atrás de ti morena
Como a sombra atrás da luz.
46- Cresce tanto a trepadeira
Que a janela já alcançou,
Cresceu tanto nosso amor
Que o juízo me tomou.
47- Atirei um limão verde
Na porta da
sacristia,
Deu no cravo,
deu na rosa,
Deu naquela que
eu queria.
48- Eu não canto por cantar
Nem por ser bom cantador,
Canto é só para espalhar
Minhas penas, minha dor.
49- Eu de cá, você de lá,
Ribeirão passa no meio;
Quando aqui dou um suspiro
Você dá suspiro e meio.
50- Moreninha tu és bela
Tens a beleza das flores,
Por isso é que te dedico,
Moreninha, meus amores.
51- Quando vem o sol saindo
Vai deixando luz atrás,
Deixando moça bonita
Para mim que sou rapaz.
52- Eu queria, ela queria
Eu pedia, ela negava;
Eu chegava, ela fugia,
Eu fugia, ela chorava
53- A rolinha quando voa
Deixa as penas pelo ninho,
Sinhazinha quando dorme
Tem sono de passarinho.
54- Cada vez
que eu considero
Que você vai
me deixar,
Foge-me o
sangue das veias
E o coração do
lugar.
55- Açucena quando nasce
Deita rama
pelo chão,
Assim cresce
meu amor
Dentro de meu
coração.
56- Menina, minha menina,
Minha flor de
Cananéa;
Menina, vives
no mundo
Para ser minha
“tetéia”.
57- Vou me embora para o mar
Fazer vida com
os peixinhos,
Já que no
mundo não acho
Quem goze dos
meus carinhos.
58- Você diz que bala mata
Bala não mata
ninguém,
Mata quem Deus
é servido
Nos braços de
quem quer bem.
59- Tanta laranja madura
Tanta lima
pelo chão,
Tantos
espinhos de agulha
Dentro de meu
coração.
60- Machado que corta páu
Não pode
cortar raiz,
Coração que
ama dois
Nunca pode ser
fe1iz.
61- Meu amor me deu um lenço
Com desdem
peguei na ponta,
Para que
fiquem sabendo
Que de amor
não faço conta.
62- Os olhos de meu amor
Parecem céu
estrelado,
Na boca: um
botão de rosa;
No peito: um
botão fechado.
63- Lá vai a garça voando
Leva uma folha
no bico;
E quando fores
embora,
Meu amor, aqui
não fico.
64- O céu coberto de nuvens
Enche tudo de
tristeza,
Eu já perdi a
esperança
Onde tinha
mais firmeza.
65- Rosa branca é criminosa
Da raiz até na
ponta,
Eu não sei o
que te fiz
Que de mim não
fazes conta.
66- Vai cartinha venturosa
Por esse mundo
sem fim,
Vai dizer a
meu amor
Que não se
esqueça de mim .
67- Açucena quando nasce
Toma conta do
jardim,
Também estou
procurando
Quem tome
conta de mim.
68- Água que corre na lage
Garça não pode
beber,
Quem tem amor
como eu
Outro nunca
pode ter.
69- Galho de limão abaixa
Quero apanhar
um limão,
Para tirar uma
nódoa
Que trago no
coração.
70- De que serve um pingo d'água
Quando rola na
corrente?
De que serve
ter amor,
Querer bem,
viver ausente?
71- Alecrim tem vinte folhas
E a roseira
dezesseis,
Ou me ames com
firmeza
Ou desprezes
de uma vez.
72- Você diz que não me quer
Mas um dia hás
de querer,
Que a água
bate na pedra
Te que a faz
embrandecer.
73- Há no alto daquela serra
Dois
pilõezinhos de prata,
Pisa um, outro
responde,
Teu semblante
é que me mata.
74- Só depois que a chuva cai
É que a terra
se amolece,
Só depois que
o amor se acaba
É que o
remorso aparece.
75- Adeus - eu digo chorando,
Adeus
- eu torno a dizer;
Quem
quer bem nunca se esquece
Em
cem anos de viver.
76- Minha viola de pinho
Tem dois
canarinhos dentro,
Não pode ter bom
juízo
Quem tem
vários pensamentos.
77- Lá vem a lua saindo
Com uma santa
cruz de prata;
Tua chegada me
alegra,
Tua partida me
mata.
78- Quem disser que amor não dói
Na
cara digo que mente,
Amor
deixado por outro
Quem
suas dores não sente?
79- Quem disser que bala mata
Bala não mata
ninguém,
As balas que
mais me mata
São os teus
olhos meu bem.
80- As estrelas miudinhas
São
companheiras do vento,
Em calado
venço tudo
Falarei quando
for tempo.
81- Quem quiser moça bonita
Ponha um laço
na jurema;
Inda ontem
peguei uma
Na carreira,
como ema.
82- Chapéu preto, capa branca,
Fita verde,
fivelão;
Menina de cor
morena
Foi a minha
perdição.
83- Eu tenho rosas no peito
Roseiral no
coração,
Quando te vejo
morena
Tudo se torna
em botão.
84- Quem tiver o seu segredo
Não conte a
mulher casada,
A mulher conta
ao marido
E o marido à
namorada.
85- Árvore do amor se planta
No centro do
coração,
Só pode
derrubar
O golpe da
ingratidão.
86- A laranja de madura
Caiu
n’água, foi ao fundo;
Triste
da moça solteira
Que
cai na boca do mundo.
87- Arruda também se muda
Do jardim para
o deserto,
Também pode
amar de longe
Quem não pode
amar de perto.
88- Nadador que vai nadando
Nas águas do
mar sagrado;
Nada com Deus,
nada é muito;
Nada sem Deus,
não e nada.
89- O coração e os olhos
São dois
amantes leais,
Quando o
coração tem penas
Os olhos
deitam sinais.
90- O papel em que te escrevo
Saiu da palma
da mão,
A tinta veio
dos olhos
A pena do
coração.
91- Nunca vi carrapateira
Botar cacho na
raiz,
Nunca vi mulher
solteira
Ter palavra no
que diz.
92- A laranja quando nasce
Faz-se logo
redondinha,
Assim tu
quando nascestes
Deus te fez
para ser minha.
95- As pedras desta calçada
Hei
de manda-las vidras,
De
pedrinha em pedrinha
Para
meu amor passear.
94-Cravo branco na janela
É sinal de
casamento,
Menina recolha
o cravo
Para casar
inda há tempo.
95- Eu não tenho pai nem mãe
Nem quem de
mim se condoa,
Eu sou como a
seriema
Que tem asas e
não voa.
96- Laranjeira pequenina
Carregada de
botão,
Eu também sou
pequenina
Carregada de
paixão.
97- Alecrim verde arrancado
Na tua mão
reverdece;
Quem eu quero,
não me quer,
Quem me quer,
não me merece.
98- As estrelas miudinhas
Eu
conto de uma em uma,
Sou
dizimeiro de moças
Quem
tiver três me dá uma.
99- O sol prometeu à lua
Uma fita de
mil cores,
Quando o sol
promete à lua
Que fará quem
tem amores.
Termos e
vocábulos de uso correntio em Tanabi:
Abancar - gozar algo.
Abracar - o mesmo que abraçar.
Ademão ou adjutório - ajuntamento de
pessoas trabalhando gratuitamente para outra.
Amarrar-se - o mesmo que contrair
casamento.
Arear caçamba - adular, agradar.
Arteiro - fazedor de artes, brincalhão.
Atarantado – confuso, atrapalhado.
Bacuri - filhote de porco.
Baita - agigantado, desmesurado.
Bibóca - grota, barroca; o mesmo que
pirambeira.
Bolo - confusão, grupo de coisas.
Boquinha - beijo; bocota, idem.
Bronha - engano.
Bucha- logro, tapeação.
Caçamba - estribo de sola; balde de
cisterna.
Cair no mangue - fugir, evadir-se.
Carrascal - quiçassa. Existem outros
correlatos: malva, saróba, samambaia, gravenha etc...
Chatear - aborrecer a outrem.
Chuchar - intrometer, empurrar.
Chué - coisa desemxabida, que não tem
graça.
Coleado - unido, combinado, mancomunado.
Curioso - pessoa que sabe fazer pequenos
trabalhos que demandam inteligência e paciência.
Desengonçado - desageitado; que não tem
aprumo.
Descabeçado - desajuizado, doudivanas.
Embicar- encaminhar, encarreirar negócio
etc...
Entuchar - encher, abarrotar.
Esbodegado – esbaforido, estropeado.
Escachado - relaxado no traje.
Estropeado - cansado; o mesmo que
esbodegado.
Estrumela - traste sem valor, ninharia.
Fusquinha - desafio, incitamento.
Giráu - prateleira rústica.
Gramar - suportar, arcar com as
despesas.
Gravenha - espinhadeiro, quiçassa.
Grude - alimentos; pegar o grude -
almoçar.
Lacear - ceder aos poucos, desistir.
Ladrão - rêgo que tira água do veio
principal.
Lambança - vagabundagem.
Latir atôa - falar a esmo, palrar.
Mal-feito - feitiço.
Matar defunto - contar novidade já
conhecida.
Negacear - ação do animal que se volta
inopinadamente.
Osso - coisa que não dá lucro; pinóia.
Pintaiva - excacez de dinheiro; pessoa
sem eira nem beira.
Querência - lugar habitual onde o gado
repousa.
Relance - na expressão: “Aguentar o relance”
isto é, resistir, suportar etc...
Samóra - pessoa sem expediente,
abobalhada.
Saparia - gente que vai a festas sem
convite.
Selente - vagaroso, silencioso.
Sepurtar - aturar conversa enfadonha;
suportar.
Sururú - briga, chinfrim, conflito.
Táca - nome que dão ao rabo-de-tatu;
rebenque.
Tapera - individuo bronco.
Tiquinho - coisa de nonada; um quase
nada.
Tirar linha - namorar.
Tirázio - extensão longa.
Toupeira - individuo atrasado, de poucas
noções.
Tráia - móveis, trem de cozinha.
Tramela – taramela.
Trebuzana - tempestade, rumor forte.
Varado de fome - esfomeado, faminto.
Ver o russo - passar trabalhos, sofrer
algo.
Zanzar - andar atôa, vadiar. Correlatos:
sambar, descontar cheque.
Provérbios correntios em Tanabi:
01. É mais fácil chegar um burro ao
moirão, que um homem à razão.
02. Barco parado não ganha frete.
03. Macaco velho não põe a mão em
cumbuca que tem formiga.
04.. Urubu campeiro não tem morada.
05. Cabaça quebrada não dá cuia.
06. Papagaio velho não aprende a falar.
07. Onça não come lobo.
08. O que desabusa angú é quiabo.
09 .Não é preciso madrugar para
encontrar o diabo.
10. Em terra de cegos quem tem um olho é
rei.
11. Em terra de papudos, que não tem
papo é defeituoso.
12. Antes pingar do que secar.
13. Conversa sem proveito, dóe no peito.
14. O que é pouco não se regra, quando
acabar sossega.
15. Quanto mais rico, mais ridico.
Termos e vocábulos usuais em Tanabi.
Abrir o pala - fugir.
Assustado - festinha improvisada.
Afocinhar - cair no solo bruscamente.
Água-que-gato não bebe - aguardente.
Assuan -ou suan, espinha dorsal do
suino, de Schwein, além.
Bolada - dinheiro em pacote, muito
dinheiro.
Burrada - empresa mal sucedida; negócio
mal feito.
Bufar - ameaçar.
Bucho - estômago.
Bucal - cabresto destinado à doma.
Calote - tapeação, logro, fraude.
Chaleira - adulador.
Chupado - magro, cadavérico.
Chorão - lamuriento, choramingas.
Canja - problema de solução fácil,
trivial.
Descunhambado - resolvido, destorcido,
desempenado.
Derrear - amolecer, ceder.
Dar corda - entretar namoro ou outra
pretensão, alimentar
Dar na mala - embravecer, dar o cavaco.
Doce - o mesmo que açúcar.
Escrofunchar - remecher, virar.
Empachado - cheio, empanzinado.
Enrabixado - amante, apaixonado.
Emprazar - dar prazo.
Engatar - o mesmo que ligar, prender.
Fintar - lograr.
F'ilar - tirar, furtar.
Frege - casa mal frequentada, briga.
Ferrado - cavalo com ferraduras.
Fecha - aperto.
Gamela - bacia de madeira; agrimensor.
Garranchos - escrita desconexa,mal
alinhavada.
Gramar - suportar.
Impio - ímpeto, resolução brusca.
Inverno -estação chuvosa.
Intrometido - intruso.
Instumar - arremeter, instigar.
Ingruvinhado - resequido, crestado.
Jagunço - guarda-costas, matador
profissional.
Jóssa - coisa sem valor, sem préstimo.
Judeu - sujeito mau, avarento.
Jururú - triste, nostálgico.
Lambada - chibatada.
Lambido - sem graça.
Lorotas - histórias, invencionices.
Maludo -valente, destemido.
Mal inclinado - de má catadura.
Náfego - animal com uma das pernas
encolhidas.
Nagão - revolver de cavalaria.
Nêgo - tratamento afetivo.
Pinchar - jorgar, atirar fóra.
Pagode - sinônimo de festa.
Pachóla - ótimo, vistoso.
Perrengue - adoentado.
Purunga - igabaça.
Quiréras - dinheiro miudo.
Babeira - retaguarda; pegar rabeira:
entrar pela traseira de um veículo.
Ressabiado - desconfiado.
Revêsso - torto, empenado.
Remelêcho - coleio, volteio.
Sanfonear - aborrecer, conversa chula
sem proveito.
Sabedença - sabedoria em sentido
deprimente.
Sabichão - sabido.
Subir na serra - alterar a voz,
encolerizar-se.
Sapéca - incorrigivel, irriquleto, brincalhão.
Sabão - reprovação, exprobação,
advertência.
Tranca - pessoa desprezivel.
Treta - briga, altercação.
Tortura - cousa torta.
Tempo das zagaias- das calendas gregas,
antigo.
Velheira - o mesmo que velharia.
Voação - dissimulação, furto.
Xuputú - disforme, horrendo.
Zanga - aborrecimento, muchocho.
Zebra - parvo, abobado.
Zebroide - o mesmo que zebra.
Tanabi, 15 de junho de 1932.
SUPERSTIÇÕES
DE TANABÍ
1.
Para que as plantações de cereais não criem ferrugem, a qual emperra o
crescimento vegetativo, costumam os roceiros colocar à altura de um metro
ferramentas velhas e bastante enferrujadas, as quais atraem para si toda a
ferrugem que atrasa as plantações. Também é usual colocar esqueletos e cabeças
de reses espetadas nas cercas afim de imunisar - criações e plantas - das
maléficas influências do máu-olhado e são ainda usados trapos e judas de pano
esparsos pelas roças afim de afastar pássaros danminhos que atacam as searas.
2. Contra
quebranto e mau olhado ajuntar aos rosários e berloques das crianças figas
bentas e amuletos.
3.
Crêem os caboclos que casal com sete filhos de um só sexo preserva-os de se
transformarem em lobis-homem convidando um deles para padrinho do último
rebento.
4. Mulher
grávida não deve olhar cavalo malhado –pampa, porque, fazendo-o, seu filho
nascerá com manchas no corpo; e aquela que, em estado interessante, comer
frutas duplas isto é, inconhas, fatalmente terá filhos gêmeos.
5. Deve-se
evitar que as crianças andem para trás, porque isso provoca a morte de seu pai.
6. Para se
conhecer o segredo de uma pessoa, basta beber-se o resto que a mesma deixou no
copo.
7. Para
incontinência de urina usam pendurar guiso de cascavel na perna do paciente e
quando se trata de retenção aconselha-se chá de cabelo de milho.
8. Sinal de
morte próxima são as melhoras súbitas do moribundo.
9. Acreditam
os roceiros que o gato possui sete fô1egos, equivalente a sete vidas, razão
pela qual custa a morrer. De onde a frase: “Tem fôlego de gato”.
10. Para curar
lombrigas nas crianças usam dar raspagem de chifre de boi, torrada e posta em
infusão ou chá; também dão sementes de abóbora ou, então, uma colher de óleo
de Santa Maria, três sexta-feiras
seguidas.
11. Quando cai
uma estrela deve-se pensar três vezes a cousa que se deseja ver realizada e
isso acontecerá.
12 .Moça
solteira, que se veste de freira, jamais se casara.
13. Quantas
malhas contiver o pelo de onça que se tem em casa, tantas serão as
infelicidades de seu possuidor.
14. Dizem os
caboclos que: “carro que não canta, os bois não puxam com gosto”, isto é, com
força.
15. Entre os
roceiros o Diabo é conhecido por “Capeta”, “Demo”, “Tinhoso”, “Cabuloso” e
“Coisa-Ruim”.
16. Não se
deve atirar ao cisco pedaços de pão, visto que com isso se perde a graça divjna
e se dá um pontapé na fortuna.
17. Crêem os
caboclos que nos terrenos onde ao amanhecer aparecem fumaças, existem minas de
ouro; assim também aparentemente poisam fogos de Santelmo, fogo-fátuo que o
vulgo apelidou de “Mãe douro” ou “Mãe D’água” em lugares onde existem minéreos,
lugares esses que são assombrados.
18. Cortar
unhas de recém nascidos pagãos é indício de que estes se transformarão, mais
tarde, em lobis-homens.
19. Destruir
caixas de marimbondo, de nossa habitação, é destruir nossa felicidade; por
isso, não devemos destruir teias de aranha que estão tecendo nossa ventura.
20. Possuir
mesa de três pés, em nossa casa, provoca a vinda e manifestação de maus
espíritos.
21. Perde-se o
medo de defuntos beijando-lhes os pés; ao conduzir um corpo ao cemitério os pés
devem ir à frente e não presta atirar mais do que três punhados de terra na
sepultura.
22. Não e bom
ter ou criar pombos em casa; quanto mais estes aumentam, maior é a ruína do
possuidor.
23. Não presta
mudar de casa no mês de agosto, dá azar; por esse mesmo motivo não se deve
viajar em sexta-feira.
24. Gafanhoto
verde, conheci do por “Louva-Deus” pousando em nós trás felicidade e ninho de
beija-flôr, construindo em casa, igualmente é bom prenuncio.
25. Para
salvar pessoa engasgada, bater três vezes com a mão nas costas do paciente,
invocando o nome de São Braz
26. Por
ocasião da lua nova, quando o trovão ribomba tronicamente e solene, nossos
roceiros proferem seu vaticínio:
“Lua nova
trovejada,
trinta dias na molhada”.
27. E, como
medida defensiva contra um ataque inesperado das cobras, a invocação:
“São
Bento, São Bento,
livrai -nos de todo o bicho peçonhento”.
28. É, também,
muito popular o seguinte terceto:
“Não
há sábado sem sól,
Nem domingo sem missa,
Ou segunda sem preguiça”.
29. Bregeiros
e gratêscos gostam de recitar o:
“Santa
Bárbara, São Jerónimo,
Quem não tem barba não é homem”.
30. Bons
observadores da natureza, predizem o tempo verificando o círculo que se forma
em torno ao satélite da Terra e dizem:
“Círculo
perto, chuva longe;
Círculo longe, chuva perto”.
31. Misto de
supersticioso e atemorisado, nosso caboclo cultiva presságios e maus agouros
afirmando que “nao presta”:
1. Varrer a
casa após o ocaso do s61;
2. Encruzar as
mãos com outrem ao cumprimenta-la;
3. Andar para
trás, isto é, às recuadas;
4. Contar
estrelas, apontando-as com os dedos;
5. Cruzar as
mãos sobre a nuca;
6. Matar urubu
ou pomba; esta é imagem do Divino;
7. Aparar
unhas na sexta-feira santa porque o diabo leva as aparas para o inferno onde
estas aguardarão seu possuidor;
8. Mirar-se ao
espelho à noite ou ter espelhos partidos em casa.
32. Em
compensação, a almejada felicidade entra em sua habitação nas azas vo1úveis do
beija-flor, mormente quando este entretece seu ninho dentro de casa.
33. Uivo
prolongado de cão significa mau agouro, principa1mente quando este escava o
solo: está abrindo a sepultura do dono.
34.
Maus prenúncios: Galo cantar fora-de-hora ou galinha cantar imitando seu
companheiro.
35. Para se
ter um dia feliz deve-se pisar com o pé direito ao descer do leito.
36. Avisos de
visita iminente em nossa casa: a) O
crepitar da chama no fogão; b) zumbido enfadonho de mosca voejando em torno de
nossa pessoa; c) encontrar sabugo em pé no terreiro.
37. Visitas
cacetes, que entediam, são afastadas abrindo-se as lâminas de tesoura atrás da
porta.
38. Obtém
salvação aquele que, ao expirar, cinge entre os dedos uma vela acesa.
39. Sinal
seguro de que o paciente ganhou o prêmio eterno é o aparecimento de nuvens pandas
e negras, ou mesmo chuva pesada, no momento em que alguém expira.
40. Antes de
baixar o corpo à sepultura deve-se desatar qualquer ligadura que o prende,
porque isso é impecilho para o vôo de sua alma às alturas.
41. Somente os
"anjos" - esses adoráveis entes que ainda não atingiram sete anos de
idade - somente eles poderão lobrigar as almas dos eleitos, que demandam o céu,
quando o seu corpo é entregue à terra-mãe.
42. É defeso
atirar mais de três punhados de terra na cova quando se procede à inhumação de
alguém.
43. Quantos
enterros se acompanhar em vida tantos serão aqueles que nos acompanharão à
última morada.
44.
Diagnóstico para descobrir moribundos: um copo com água junto ao paciente;
agitando-se a água é sinal de morte iminente.
45. Recen-nascido
que morre pagão não vai direito o céu, mas faz escala forçada pelo Limbo.
46. Objetos
perdidos podem ser encontrados atando-se palha de milho e atirando o nó atrás
de qualquer móvel.
47. Muitos
recorrem a São Longuinho, patrono dos objetos perdidos, chamando-o três vezes
consecutivas.
48. Cometa ou
“estrela-de-rabo” tocando a superfície da Terra esta se desfará em escombros
imediatamente.
49.
Os eclípses também se tornam malignos emperrando e atrasando as plantações,
principalmente as de feijão.
50. Os anos bi
sextos são os causadores de grandes cataclismos entre os quais se enumeram:
guerras, pestes, desastres e infortúnios.
Ibiporanga
Trinta
quilômetros a nordeste da cidade de Tanabi, no grande imóvel rústico denominado
“Cachoeira do Felícios”, sob os auspícios do lavrador Marciano Maciel da Silva,
fundou-se, em 1934, o novo patrimônio de Ibiporanga, e levado, por força do
decreto 13010, de 24 de outubro de 1942, a foros de distrito de paz com a
criação da 2º zona distrital da sede e solenemente instalada, três meses após,
isto é, a 24 de janeiro do ano em curso.
Descendente
de João Berto da Companhia, um dos povoadores da fazenda citada, Marciano
Maciel da Silva de há muito acalentava o sonho de fundar um povoado em terrenos
de sua propriedade, motivado pela distância que a separava de Mirassolândia,
Tanabi e Américo de Campos e, principalmente pela circunstância de ser o imóvel
atravessado por antiga pista de carros de bois, conhecida por “estrada velha de
Rio Preto”, artéria essa que, supomos, ter sido a utilizada pelo então Tenente
Taunay em sua memorável jornada dos confins matogrocenses à capital do Império
passando por São Francisco de Sales e São José do Rio Preto então simples
aldeiota composta de ranchos de sapé e, assim, varando “estrada coberta de
densa mataria”. Pela direção tomada, outra não poderia ter sido a rota
percorrida pelo ilustra relator da guerra do Paraguai, dado que, em suas
“Viagens de outrora”, faz menção de haver transposto o rio Turvo.
Escolhido
o ponto propício á instalação da localidade e incumbido o agrimensor Germano de
Robach, a quem fora cometida igual empresa com referência a Cosmorama, de
proceder ao levantamento e traçado de ruas e praças, deu este cumprimento ao
seu mandado com a entrega do respectivo mapa em 10 de março de 1934. fomos
então consulados sobre a escolha de um topônimo condizente à natureza do solo,
suas condições de altitude, salubridade e sobretudo à visão panorâmica que lhe
era própria. Foi assim que, após havermos submetido o termo composto,
Ibiporanga, à autoridade de Plínio Ayrosa, abalizado catedrático de tupi
guarani na Universidade de São Paulo, dele obtivemos aprovação plena, por
quanto compondo-se, o vocábulo das raízes ibi – terra e poranga – bonita,
traduzida, à maravilha, a beleza da paisagem circunjacente, a excelência de seu
clima bafejado de virações suaves, a fertilidade de seu solo onde medram
culturas variegadas, esse conjunto, em súmula, de fatores estimulantes que,
reunidos, determinam a prosperidade de um lugar, mormente sabendo-se que
Ibiporanga fora edificada num cômodo de ligeira elevação formado pelo divisor
das águas do Varginha e do Cachoeira de onde se descortinam sítios agrestes e
modificados pela mão humana.
Houve, a
princípio, alguns recalcitrantes que tentaram aplicar ao lugarejo nescente
nomes galhofeiros como Negrinha motejo aos coloured men, seus primeiros
habitantes, ou ainda Varginha, recordando o pequeno regato de que falamos e que,
a breve distância daí, conduz suas águas em direitura ao rio Preto. Nenhum
desses ápodos geográficos logrou vencer o batismo típico de nossa escolha e
assim veiu a denominar-se a nova sede vilarenga.
As ruas
do aldeiamento assim formado lembram nomes das nações sul americanas; ruas
cortadas em xadrez, tal qual a maioria das localidades brasileiras, tendo ao
centro , modesto templo católico feito de tijolos e telhas comuns com o
concurso de todos os moradores da zona e sob a invocação da padroeira Nossa Senhora
da Aparecida e que recebeu, em 1940, a primeira visita pastoral na pessoa do
Bispo Dom Lafayete Libânio. De igual modo foi construído o prédio onde
funciona, com boas instalações, uma escola mista urbana regida por professora
estadual. Casas comerciais e particulares, cartório, farmácia, máquina de
benefício e outros rudimentares requisitos inerentes aos povoados em formação
aí se encontram e novos prédios estão sendo construídos ao redigirmos estas
nótulas.
Á nova
sede distrital pertencem integralmente a fazenda “Barra Mansa” e parte de suas
congêneres Nova, Cachoeira e Jataí tendo as seguintes divisas: “Começam no
ribeirão Bonito, na confluência do córrego Jambeiro ou Meio; sobem pelo
ribeirão Bonito até a barra do córrego Barro Preto ou Capim pelo qual sobem até
sua cabeceira; vão daí em reta à cabeceira do córrego Cambauva, pelo qual
descem até sua barra, no ribeirão Cachoeira, donde vão em reta à barra do
córrego Malhador, no ribeirão Jataí; por este abaixo até sua barra no rio Preto
e pelo veio desde a foz do ribeirão Bonito pelo qual sobem até o ponto de
partida”.
Sua
população compõe-se de diferentes etnias predominando, nas cercanias da vila, o
elemento italiano e seus descendentes; pelas margens do Malhador e Cachoeira,
com infiltrações pela fazenda Nova, habitam ibéricos e sua prole nativa, e nos
demais setores, vive o caboclo brasileiro, quase sem mescla, mormente na região
da Barra Mansa onde há antigas fazendas abertas pelos primeiros povoadores do
sertão tanabiense. Cumpre lembrar aqui que, em 18 de março de 1918, foi doada
uma área de dez alqueires de terras naquele local destinada à instalação de um
patrimônio do que são atestados vivo, pequena capelinha e cemitério ai
construídos.
Ibiporanga
tem ainda rude aspecto, se o encararmos pelo prisma de progresso que vem
avassalando as regiões pioneiras do planalto paulista. Embora de evolução
lenta, a fertilidade de seu solo e o ânimo empreendedor de sua gente,
certamente farão da localidade um núcleo pando de possibilidades cada qual mais
favorável aos seus desígnos de prosperidade.
Tanabi,
29 de janeiro de 1943.
Inauguração das novas instalações dos Correios e Telégrafos, em Tanabi,
no dia 7 de setembro de 1970
Exmo. Sr. Dr. Olegário Dantas, D.D Diretor da Regional dos Correios e
Telégrafos de São
José do Rio
Preto.
Exmas. Autoridades
presentes, meus Senhores, minhas Senhoras:
Aos 28 de fevereiro de
1904, uma comissão de riopretenses composta dos senhores Porfírio, Adolfo
Guimarães Corrêa e Frutuoso José de Figueiredo, em representação dirigida ao
Administrador dos Correios de São Paulo, pedira a instalação de linhas postais
para o Jataí, que a esse tempo não tinha ainda a designação atual – Tanabi.
Três anos depois, a 5 de novembro de 1907, a mesma
comissão insistia no pedido, alegando que a localidade já possuía cerca
de seis mil habitantes e fazia jus ao melhoramento pretendido. Entretanto, há
precisamente meio século, na década de 20, Tanabi viu instalar-se aqui, pela
primeira vez, uma agência de correio. Nesses recuados tempos, a correspondência
era transportada por estafetas a
cavalo pelas ínvias
trilhas da velha
estrada Boiadeira.
Anos mais tarde, esse
transporte de malas passou a ser feito pelas jardineiras do intrépido Feliciano
Sales Cunha, sonhador e pioneiro, o pioneiro que nos ligou à cidade-mater São
José do Rio Preto, às localidades sertanejas e ao Estado de Mato Grosso, via
Porto do Taboado. Com seus ônibus ronceiros, verdadeiras traquitanas
desconjuntadas, pois nem estradas possuíamos, o transporte de malas e
passageiros convertia-se num milagre a repetir-se diuturnamente. E assim
se amansou o
sertão...
De
conquista em conquista, chegamos à comunicação telefônica e telegráfica que nos
pôs em contato imediato com os grandes centros comunitários do país. E assim
veio o correio servindo à cidade que lentamente crescia. Antes da atual
distribuição de jornais pelas empresas editoras dos grandes matutinos da
Capital, nas primeiras horas da manhã, a principal meta do tanabiense era ir ao
correio, a repartição mais concorrida da cidade, e era comum ver-se conspícuos
fazerem fila para receber correspondência, como, também, como nota pitoresca,
era comum vê-los, jornal distendido, pelas ruas centrais da cidade, ainda não
invadidas pelo automóvel, a deglutir as últimas notícias que o correio lhe
trazia, com 24 horas e, a
mais das vezes,
com semanas de
atraso. O interessante,
porém, é que naquele tempo se lia mais do que na época atual e a importância do
sujeito se media pelo número de cartas e jornais que recebia diariamente. Hoje,
na era dos televisores, da eletrônica, já ninguém mais lê, ninguém mais cultiva
a arte de se corresponder por meio de cartas e a comunicação entre os homens é
feita visualmente por aparelhos de transmissão. Infelizmente, o correio de
hoje quase só
nos entrega avisos
de vencimento...
Entretanto Tanabi se
ressentia, nos dias atuais, de correio à altura de seu adiantamento, nada
obstante os insistentes apelos da Regional de Rio Preto. Nossa agência postal
telegráfica funcionava num pardieiro e tinha o aspecto deprimente de uma
dessas agências de
ínfima classe de
uma corruptela qualquer.
Diante disso, a
Prefeitura de Tanabi, tendo à frente o Sr. Pedro Ovídio e uma equipe de homens
esforçados a assessorá-lo, tomou a iniciativa de construir um prédio funcional,
de linhas simples, como este que ora se inaugura. Tanabi agora se orgulha de
possuir uma agência à altura de seus
foros de cidade
que se projeta
para o futuro.
Resta-nos agora a
esperança de que a Regional da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, sob
a eficiente direção de Olegário Dantas, que tem dotado outros centros iguais a
Tanabi de melhoramentos e equipamentos condignos, reserve, também, para esta
cidade, melhoramentos condizentes e à altura de seu progresso. É preciso
lembrar àqueles que disso conhecimento não tiveram que Tanabi foi a terra-mãe
de todo esse rosário de cidades que hoje formam a Alta Araraquarense. Daqui se
irradiou o progresso sertão adentro, mas é de justiça também relembrar ter sido
ela esquecida na partilha dos benefícios que o Governo distribui para outras
comunas, e é para esse ponto que, neste momento, chamo a atenção de todos os
que dispõem de uma parcela de poder, quer na região, no Estado ou no País, este
país maravilhoso que todos estamos ajudando a construir e a tornar
vanguardeiro nas Américas!
Tanabi,
7 de setembro de 1970.
Folclore Tanabiense
Desejo de gestante
merece o máximo respeito, ordinariamente é satisfeito; por isso, estando uma
senhora em estado interessante, manifestou ao marido desejos de comer carne de
peixe. Palavras não haviam sido proferidas e já o solícito marido, de vara em
punho, acha-se à beira do riacho no santo propósito de obter o desejado. Aí,
sabendo ser difícil obter o pescado pelas vias ordinárias, prometeu rezar vinte
padre-nossos em louvor de São Benedito, caso conseguisse boa pescaria. Minutos
decorridos, enorme traíra fisga-se ao anzol e sua fé no santo milagroso ganha
alento, não é que ele estava sendo atendido?... A seguir, dois ou três
peixinhos seguem o mesmo caminho, até que, em dado momento, é abalado por forte
emoção: a linha retesada transmite ao anzol vigoroso puxão, denunciando caça
grossa ou, por outra, magnífico dourado debatia-se, em furiosa luta,
espadanando água por todos os lados, na ânsia incontida de livrar-se da armadilha
em que caíra. Com sofreguidão de profissional, o pescador recolhe a linha
lentamente e já havia mesmo agarrado o belíssimo espécime pelas guelras quando
este, numa incrível rabanada, consegue desvencilhar-se de suas mãos e,
mergulhando, desaparece, furioso, no pélago revolto. O pescador, desolado,
exclama: “não é
à toa que
eu não tenho
fé em negro!...”
* * *
Frente à repartição
pública, a mulher coberta de andrajos, um filho a tiracolo e, ao redor,
crianças maltrapilhas, exangues e aparvalhadas, oferece, indecisa e tímida, a
mercadoria que trazia consigo, acrescentando: “É pr'a comprá remédio, na
farmácia, mode tratá
dos fio...”
Instado pelo anúncio, o
chefe, grave e circunspecto, lançou um olhar de comiseração ao grupo e
respondeu com o clássico monossílabo de negativa. Diante da resposta, talvez já
esperada, o pequeno cortejo, a inspirar comiseração, põe-se novamente em
marcha, preparando-se para novas oferendas e, quiçá, para novas recusas.
Cenas da vida que
passa...
Tanabi,
21 de janeiro de 1960.
Nova Associação Beneficente em Tanabi
Sob os auspícios da
Comissão Organizadora da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, tendo à
frente a figura dinâmica de Francisco Duarte Azadinho, que sempre se dedicou a
fundar e manter obras assistenciais em Tanabi, sendo atual Presidente do Lar
das Crianças, realizou-se, a 29 do corrente, no salão nobre do Colégio Estadual
e Escola Normal “PE. Fidélis”, concorrida reunião que foi presidida pelo Dr.
Nelson de Carvalho Seixas, médico especializado e Delegado da APAE na
região centro-sul do
Brasil.
Compareceram e tomaram
parte na mesa o Dr. Odilon de Almeida Moraes filho, M.M. Juiz de Direito da
Comarca; Dr. Marino Passaglini Filho; D.D. Promotor de Justiça; Sr. Sebastião
Almeida Oliveira, chefe de Gabinete e representando o Sr. Prefeito Municipal e
o Dr. Venizelos Papacosta, Vice Prefeito Municipal, por si e representando Cônego
Victor de Jesus
Herrero, Vigário da
Paróquia.
Abrindo os trabalhos,
fez uso da palavra o Sr. Francisco Duarte Azadinho, que expôs aos presentes as
finalidades da APAE. A seguir, apresentou os nomes componentes da diretoria
provisória da entidade, que foi eleita por aclamação dos presentes, ficando
assim constituída: Presidente de Honra, Sr. Pedro Ovídio, Prefeito Municipal;
Presidente: Dr. Manoel Torres; Vice-Presidente: Dr. Devair Gigante; 1º
Secretário: Sta. Neula Zuanazzi; 2º Secretário: Nelson Aguera Garcia; 1º Tesoureiro:
Akila Nissida e
2º Tesoureiro: Sebastião
Meneguetti.
Empossada a nova
diretoria, e ainda com a palavra, o Sr. Azadinho apresentou o conferencista Dr.
Nelson de Carvalho Seixas que, em palavras repassadas de entusiasmo e fé,
empolgou o auditório numa exposição clara e fluente das novas teorias sobre o
excepcional, a educação e o trato do retardo que, por sua natureza perante a
sociedade, maior assistência desta reclama, tendo sido o orador insistentemente
aparteado pelos estudantes, sequiosos de informes científicos, apartes que o
Dr. Seixas suscitava e respondia com clareza meridiana.
Ao finalizar, concitou
a população tanabiense a vencer mais este desafio: cerrar fileiras em torno da
novel associação beneficiente, que reclama o concurso de todos para se
implantar em nosso meio. Para encerrar, foram exibidos magníficos slides da
APAE regional e um belo filme italiano que sobremodo sensibilizou os
presentes por seu
fundo social e
educativo.
Tanabi,
01 de maio de 1970.
Marciano Maciel da Silva – O patriarca de Ibiporanga
Descendente direto do tronco dos Felícios e dos
Maciéis, ligados ao posseiro João Berto da Companhia que, em conjunto, povoaram
o grande imóvel rústico Cachoeira dos Felícios, Marciano Maciel da Silva,
cidadão exemplar e progressista, tornou-se, mercê de seu trabalho profícuo,
abastado fazendeiro, possuindo, por herança e aquisição, uma propriedade rural
que abrangia cem alqueires de terras onde atualmente se acha ereta a localidade
de Ibiporanga, imóvel esse que era servido pela velha pista de gado que
provinha da Barra Mansa e Águas Paradas e se dirigia para o então único centro
civilizatório e povoado: José do Rio Preto.
Foi aí, num cômodo de
ligeira elevação, que separa as águas do córrego Varginha e do Ribeirão
Cachoeira, que Marciano Maciel da Silva decidiu fundar um povoado, idéia que se
concretizou aos 10 de março de 1934 com o auxílio de moradores do local, sendo
o patrimônio batizado com o expressivo topônimo “Ibiporanga”, a significar
“terra bonita” e que, no decorrer do tempo, aos poucos se urbanizou com a
construção de uma centena de casas de alvenaria, belo templo católico, jardim
público, grupo escolar, com suas ruas e praças iluminadas e lâmpadas de
mercúrio, tudo a
indicar uma localidade
em franco progresso.
Além de fundador da
povoação, Marciano Maciel da Silva doou espontaneamente áreas para edificação
de uma Capela sob a invocação de Nossa Senhora da Aparecida, que se tornou
padroeira do lugar, e ainda para a ereção do cemitério local e do prédio onde
hoje se assenta o atual Grupo Escolar; foi, sem nenhum favor,
um batalhador incansável
para o progresso
de Ibiporanga.
Seus progenitores foram
Felício Batista de Almeida e Emília Eduarda da Conceição, naturais de Ribeirão
Preto, onde residiam e onde também nasceu nosso perfilado. Estes, com o decurso
do tempo, venderam suas posses ao Cel. Francisco Schimitd e se transferiram,
com armas e bagagens, para o sertão de Rio Preto, mais precisamente para a
fazenda Cachoeira que, então, ficou conhecida por “Cachoeira dos Felícios”,
tornando-se, ipso facto, pioneiros da região da gleba municipal tanabiense. Com
o falecimento de seus pais, Marciano Maciel da Silva tornou-se proprietário de
extensas glebas no ribeirão Cachoeira, tendo por limites o rio Preto e a Barra
Mansa, local onde hoje se encontra a localidade de Ibiporanga. Casou-se
em Monte Aprazível, com dona Juliana Maria de Jesus, sendo esta filha de
Francisco de Paula Ribeiro e Maria das Dores de Jesus. Marciano Maciel da Silva
faleceu em 19 de março de 1953 e sua esposa no ano de 1971, ambos no município de
Floreal, SP.
Desse consórcio teve o
casal 13 filhos, que vão aqui relacionados: Emilia Marciano Barreto, casada com
José Alves Barreto e ambos já falecidos; João Marciano Filho, casado com Maria
Sebastiana de Jesus, também já falecidos; Francisco Marciano da Silva e
Gertudes Juliana da Silveira, residentes em Cosmorama; Euflozina Marciano
Barreto, casada com José Marciano Barreto, residentes em Valentim Gentil; Maria
Marciano Barreto, casada com Jorge Marciano Barreto, ele já falecido e ela
residente em Monte Aprazível; Jerónima Marciana da Costa, casada com Otílio
Vieira da Costa, residentes em Tanabi; Benedita Marciana Biscassi, já falecida,
casada que foi com Guerino Biscassi e residente em Santa Clara do Sul; Ana
Marcelina Faustino, casada com Urias Bernardo Faustino, residentes em Santa Fé
do Sul; Maria Aparecida da Silveira, casada com Simão José da Silveira,
residentes em Tanabi, Helena Marciano, casada com Benedito Maciel da Silva,
residentes em Santa Clara do Sul; Felício Marciano da Silva, casado com Lourdes
Teodoro da Silva, residentes em Santa Fé do Sul; Antonio Marciano da Silva,
casado com Mariana Cecília da Silveira, residentes em Tanabi, e Cassiano
Marciano da Silva, casado com Juselina de Paula e Silva,
residentes na Capital.
Tanabi,
20 de outubro de 1977.
* A Escola Estadual de 1º Grau de Ibiporanga passou a denominar-se
“Marciano Maciel da Silva” através do Projeto de Lei 528, de 1977,
na data de, 22 de novembro de 1977. Dep. Wadih Helú (Dep. Estadual).
Frederico Rincão Álvares – Bairro Rincão
Natural de Jaboticabal,
Estado de São Paulo, Frederico Rincão Álvares, fundador da localidade de
Rincão, na interlândia municipal tanabiense, filho de João Rincão e de dona
Maria Álvares, casou-se, em Tabapuã, SP, com dona Manuela Navarro Flores, tendo
o casal seis filhos: Giné (falecido), Antônia, Lourdes, Antônio, Erasmo e
Jaime.
Faleceu nesta cidade
aos 29 de junho de 1960, com a idade de 60 anos.
Em 1947, seu pai, João
Rincão, adquiriu uma gleba de 158 alqueires de terras na fazenda Nova ou
Ribeirão Bonito, município de Tanabi, no espigão divisor do grande imóvel
rústico Cachoeira dos Felícios, por onde passava uma linha de ônibus em direção
à sede do município de Américo de Campos, terras que doou a seus filhos; neste
local, Frederico Rincão Álvares, auxiliado por seus familiares e ainda pelos
moradores das cercanias, fundou o povoado de Rincão, sob a invocação de São
Sebastião, aos 20 de janeiro de 1948. Atualmente, Rincão é florescente
localidade do oeste paulista, possuindo: igreja matriz, escola de 1º grau,
vários estabelecimentos comerciais e magnífica praça ajardinada na
administração Alberto Víctolo.
Homem honesto e
trabalhador, ainda que de apoucada instrução, Frederico Rincão Álvares merece,
sob todos os pontos de vista, ter seu nome perpetuado na escola estadual de 1º
grau que há vários decênios aí funcionava a ministrar instrução primária a
centenas de alunos da localidade e cercanias.
Tanabi,
30 de janeiro de 1978
Atualmente
a escola do bairro denomina-se Frederico Rincão.
Santa Casa de Misericórdia de Tanabi
A Santa Casa de
Misericórdia de Tanabi foi idealizada e fundada sob os auspícios do Dr. Newton
José Cucolichio e um grupo de aderentes que deram cobertura à idéia, aos 10 de
agosto de 1975, com aprovação de seus Estatutos próprios devidamente inscritos
no Cartório do Registro Civil da comarca de Tanabi.
A Mesa Administrativa
da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Tanabi, eleita em 13 de agosto de
1975, é assim composta: Provedora – Dra. Elta Lily de Cerqueira Lima e Santana;
Vice Provedor – José Alves de Magalhães; 1º Secretário – Sebastião Almeida
Oliveira; 2º Secretário – João Batista Furquim Lambert; 1º Tesoureiro –
Henrique Alves; 2º Tesoureiro – Diego Carmona Garcia;
Conselho Consultivo: Presidente – Dr. Waldemar Alves da Costa;
Secretário
Dr. Odilon de Almeida Morais Filho; Membros: Dr. João Batista de Toledo
Leme,
Dr. Arnaldo de Carvalho Machado, Dra. Verônica Cesar Saraiva. Diretor
Clínico
Dr. Newton José Cucolichio.
A Santa Casa de
Misericórdia de Tanabi já está em pleno funcionamento, em prédio próprio, na
Praça da Bandeira, 128, com modernas instalações hospitalares, tendo já
celebrado convênio com o IAMSPE e, em andamento, convênios com
o FUNRURAL, INPS
etc.
Pela Lei Municipal nº
679/77, de 08 de setembro de 1977, a Prefeitura Municipal de Tanabi declarou de
utilidade pública a Santa Casa de Misericórdia de Tanabi, em virtude dos
relevantes serviços médico – hospitalares que esta vem prestando à
população da cidade
e do município,
desde a sua
fundação.
Tanabi,
24 de outubro de 1977
Dados
Biográficos da Escola de Comércio
(Atual Escola de
1º e 2º graus “João de Mello Macedo”)
“Parece-nos que foi
ontem... E, no entanto, cerca de nove anos alígeros passaram, voando nas asas
subtis do tempo”, palavras do erudito Ariovaldo Corrêa em seu opúsculo “A
Caminhada é melhor do que o pouso,” conferência proferida ao ser homenageado
pelo corpo docente e discente do estabelecimento, nove anos depois de fundado.
E as palavras que intitulam essa conferência, colheu-as o autor relendo a
imortal obra de Miguel de Cervantes, em sua obra mundialmente famosa - “Don
Quixote de La Mancha”. E prossegue o orador: “Um jovem contador, José de
Oliveira Rosa, em fins de 1950, procurou-nos, em Mirassol, na sede da
Inspetoria de Ensino Comercial. Era portador de uma carta de apresentação de
João de Mello Macedo, que desejava fundar uma escola de comércio em Tanabi.
Convidava-nos, Mello Macedo, a colaborar, no sentido de que pudesse alcançar o
seu objetivo e a poética cidade, banhada pelo pitoresco “rio das borboletas,”
viesse a ter um estabelecimento de ensino especializado para a formação de
técnicos em contabilidade. Os deveres do cargo impeliam-nos a auxiliar a
iniciativa, mas, ao nível dos deveres do cargo, empurrava-nos a encarar com
especial carinho a idéia venturada, a afeição que a tantos e tão longos anos
já, na época, nos ligava a Mello Macedo, que nos ensinou a admirar esta terra e
admirar esta gente, por qual ele tem vivido,
tem lutado, e
tem sonhado os
seus mais belos
sonhos”.
E prosseguiu linhas
adiante: “Em 1954, formavam-se os primeiros auxiliares de escritório. Três anos
depois, Tanabi aplaudia a formação de seus primeiros técnicos em contabilidade.
Releva notar que este curso foi autorizado pela
Lei nº 1076 , de
1950”.
Em carta firmada aos 27
de outubro de 1986, o educador José de Oliveira Rosa afirmou-nos
categoricamente que a verificação prévia da Escola, foi pedida em 24 de agosto
de 1950, mas o reconhecimento oficial só se operou aos 05 de novembro de 1980,
pela Portaria CEI publicada do Diário Oficial, sendo nomeado Inspetor Federal o
mesmo Ariovaldo Corrêa, advogado residente em Mirassol.
É o seguinte, o quadro de diretores da Escola
a partir de sua fundação: 1º - Prof.
José de Oliveira Rosa, educador, hoje aposentado, residente em São José
do Rio Preto,
à rua São
Paulo, nº 1988;
2º - D. Maria de
Lourdes Veiga Contatore, esposa do Sr. José Contatore, atualmente aposentada,
residente na Praça João de Mello Macedo, 38, em Tanabi;
3º - Manoel Liebana
Torres, advogado, residente em São José do Rio Preto, rua
Del. Pinto de
Toledo, 2573.
4º - Agnaldo Peixoto
dos Santos, educador, atualmente residente em São José do
Rio Preto; período
de 11/8/1970 a
05/08/86.
5º - A Sra. Regina
Célia Elias Colombo exerce o cargo de secretária da Escola a partir de 17 de
dezembro de 1972, permanecendo atualmente no exercício do referido
cargo.
6º - A Professora
Waldira Antonia de Jesus, educadora residente à rua Cel. Militão, nº 972,
em Tanabi, a partir de
05/8/1986 e em
exercício.
Inspetores Federais que
supervisionaram a Escola desde sua fundação:
1º - Dr. Ariovaldo
Corrêa, advogado e educador, residente em Mirassol, SP, à rua
Barão do Rio
Branco, 495, período
até 06/11/1960.
2º - João Carbelin,
Inspetor Federal, no período de 07/11/1960 a 01/3/1962.
3º - Antônio Laprano ,
Inspetor Federal, de 02/3/1962 a 25/3/1973.
4º - Sérgio Pires de
Andrade, Inspetor Federal do Ensino Médio, de 26/3/1973 a
14/11/1975.
5º - Professor Jair de
Campos, Supervisor de Ensino no período de 15/11/1975 a
21/3/1977.
6º - Esmeralda de Góis
Homa, Supervisora Pedagógica, período de 22/3/1977 a
26/5/1981.
7º - Eliseu Musko,
Supervisor Pedagógico, período de 27/5/1981 a 18/12/1982.
8º - Professora Odete
C. Pinhati, Supervisora Pedagógica Substituta, 19/12/1982 a 21/11/1983.
9º - Professora Waldira
Antônia de Jesus, Supervisora de Ensino em Tanabi, no
período de 22/11/1983
a 04/8/1986.
A partir do início, a
Escola funcionou no prédio adrede construído pela Cia. de Melhoramentos de
Tanabi; cujo prédio mais tarde foram destacados salão nobre e, mais anexos,
destinados à Câmara Municipal de Tanabi, onde, desde então, até os dias em
curso funciona.
Por lei Municipal nº
921, referendada pela Câmara Municipal, em data de 09/6/1986, conforme ata que
a seguir vai transcrita, foi criada, com elementos destacados da comunidade, a
Fundação Educacional de Tanabi, que entreoutras finalidades se propõe a manter
e difundir o ensino comercial e criar cursos de computação e outros, cuja
diretoria, eleita aos 22 de abril de 1986, está assim composta:
Diretoria Executiva:
Presidente: Petronilho Corrêa; Vice Presidente: Prof. Nivaldo Lúcio Mazza; 1º
Secretário: Bel. Godofredo Froner; 2º Secretário: Antônio de Paula Inácio; 1º
Tesoureiro: Dr. Miguel Ernandes Filho; 2º Tesoureiro: Aristides Fabri e
Vogal: Prof. João
Mazza.
Conselho Fiscal: Dr.
João Soler Haro; Engº Jorge Nassar Frange Filho e Antônio Francisco
Colin.
Conselho de Curadores:
Representantes do Poder Executivo: Professora Magaly Garcia de Carvalho e Bel.
Godofredo Froner. Representantes do Poder Legislativo: Engº
Jorge Nassar Frange
Filho e Samuel
Garcia Salomão.
Representantes do
Magistério Público: Waldira Antonia de Jesus e Prof. João Mazza.
Pela Associação
Comercial e Industrial de Tanabi: João Massis Tomé e Aristides Fabri.
Pelo Lions Clube de
Tanabi: Prof. Nivaldo Lúcio Mazza e Dr. João Soler Haro.
Pelo Sindicato Rural
dos Trabalhadores Rurais de Tanabi: Antônio de Paula Inácio
e Dorvalino Pontes.
Pela Loja Maçônica “Fé
e Amor,” nº 42, de Tanabi: Dr. Miguel Ernandes Filho e
Petronilho Corrêa.
Pelo Sindicato Rural de
Tanabi: Antônio Francisco Colin e Adauto da Silva Pinhel.
Transcrição de Ata: Ata
da 16º sessão extraordinária da Câmara Municipal de Tanabi, em 09 de junho de
1986:- Aos nove dias do mês de junho de
1986, às 9 horas, no prédio da Câmara Municipal de Tanabi, por convocação do
Sr. Presidente deu-se a 16a sessão extraordinária da edilidade, tendo o Sr.
Presidente e vereador Samuel Garcia Salomão, como 1º Secretário o vereador
Antônio Cáprio e como 2º Secretário o Vereador Florindo Galvani. Iniciando-se a
chamada dos senhores vereadores, foi verificada à ausência dos vereadores
Moacir Martins Vasconcelos e Atílio Zanetoni, diante do que o Sr. Presidente
declarou aberta a sessão, informando a todos que a mesma seria para
referendação do Estatuto da Fundação Educacional de Tanabi, e franqueou a
palavra ao plenário, que entrou em discussão. O vereador Jomir Maximiano fez
uso da palavra parabenizando a Comissão que elaborou o estatuto, na pessoa do
Sr. Petronilho Corrêa, e fazendo alguns
comentários sobre o Estatuto em artigo por artigo, desejando sucesso na
Fundação. Os demais vereadores parabenizaram também todos os integrantes da
Comissão pelo bom desempenho com que vem trabalhando para esta Fundação. Ato
contínuo o Presidente coloca em discussão o Estatuto da Fundação Educacional de
Tanabi, em votação, foram aprovados todos os seus 35 artigos por unanimidade,
sendo referendado nesta data. Nada mais havendo a ser tratado.
Transcrição da Ata:
(Armas da República) – Ministério da Educação, tratado o Sr. Presidente
agradeceu a presença de todos, declarando encerrada a sessão da qual foi
lavrada a ata devida que, após lida, aprovada vai assinada em sua forma legal.
Sala das Sessões, em 09 de junho de 1986. (seguem-se três assinaturas ilegíveis)
Transcrição de Ata:
(Armas da República) – Ministério da Educação e Saúde – Diretoria do Ensino
Comercial – Certidão. Em cumprimento ao despacho exarado no requerimento de
JOSÉ DE OLIVEIRA ROSA, protocolado neste Ministério sob o número quinhentos e
quarenta e oito, de dois de janeiro de mil novecentos e cinqüenta, em que o
peticionário solicita seja passado por certidão: a) quem foi o fundador da
Escola Técnica de Comércio Visconde de Mauá, de Tanabi, Estado de São Paulo; b)
quem é seu proprietário e seu atual diretor, CERTIFICO: a) que a Escola Técnica
de Comércio Visconde de Mauá, de Tanabi, foi fundada por JOSÉ DE OLIVEIRA ROSA,
continua sendo diretor daquela Escola, da qual é também o proprietário,
conforme comprova um atestado passado pela Prefeitura Municipal de Tanabi, em
catorze de setembro de cinqüenta e um, e assinado pelo então Prefeito Municipal
Ary Terra Sóssio. E, por ser verdade, eu Eunina de Mattos Amaral, Oficial
administrativo, cl. “h”, do Ministério da Educação e Saúde, passei e assinei a
presente certidão, aos doze de fevereiro de mil novecentos e cinqüenta e três.
(sobre estampilhas federais de dez cruzados, 050,300 e 1,50 cruzados, a data:
Rio de Janeiro, 12 de fevereiro de 1953 a) Eunina de Mattos Amaral; VISTO Daisy
Faria Rocha Costa a) Daizy de Faria Rocha Costa, Chefe de Seção de Prédios e
Aparelhamento Escolar. Rasa Cr$ 5,80; Busca Cr$ 4,00; Folha Cr$ 1,00 Educação
Cr$ 1,50
Total Cr$ 12,00.
História do “Pe. Fidélis”
Acompanhando, passo a
passo, o desenvolvimento da cidade de Tanabi reivindica-se a criação de um
ginásio estadual onde centenas de jovens, portadores de um diploma do curso
primário, pudessem, aqui mesmo, continuar seus estudos. E foi assim que, sob os
auspícios do então Prefeito Manuel Garcia de Oliveira, de João de Mello Macedo,
Jorge Tabachi, Alberto Vendramini, Valentim Alves da Silva, Emílio Arroyo
Hernandes e outros abnegados batalhadores pelo progresso local, organizou-se a
Cia. Melhoramentos e Educacional de Tanabi, sociedade anônima, a qual encontrou
plena ressonância entre os interessados. Como medida preliminar, foi fundado o
Ginásio Municipal, sendo logo iniciada a construção do prédio próprio,
onde hoje instalado
o Colégio Comercial.
Assim, em 1944 já
funcionava o novo estabelecimento de ensino secundário que abrigava, em seu
seio, centenas de alunos, com inspeção prévia e reconhecimento federal para seu
funcionamento regular. Tamanha foi a abnegação dos tanabienses, que os próprios
professores lecionavam gratuitamente todas as matérias exigidas.
Graças aos esforços de
seus diretores, o Ginásio foi equiparado pelo Estado passando
a denominar-se Ginásio
“Fernando Costa”.
Projeto de autoria dos
deputados Sólon da Silva Varginha e Marcílio Murano obteve sanção da Câmara e
do Governador Macedo Soares no ano de 1948.
Transformado em Colégio
e já com a denominação de “Padre Fidélis” aos 24 de dezembro de 1957, pela lei
nº 4495, foi elevado a Instituto de Educação, pela lei 6876, de 23 de janeiro
de 1962. Entretanto, pela lei nº 619, de 4 de janeiro de 1950, era criada a
Escola Normal com a designação de Ginásio Estadual e Escola Normal “Fernando
Costa”, que viria complementar a educação dos jovens tanabienses. Abstração
feita de nomes locais, pois todos contribuíram com seu quinhão de esforços,
merece destaque o trabalho desenvolvido pelo deputado Waldyr Rodrigues, autor
do projeto, acolitado por Moura Andrade, Conceição Santa Maria, Pe. João
Batista de Carvalho, Rubens do Amaral, Sidney Delcides de Ávila e Sólon Varginha
cujo projeto; acolhido
com encômios e
ápodos, foi aprovado.
Entretanto, a lei 5692,
de 11 de agosto de 1971, autoria de Jarbas Passarinho, derrubou por terra todas
as conquistas anteriores e fez prevalecer o 1º e 2º
grau para todos
os níveis primário
e secundário.
Tanabi,
13 de maio de 1983
ALEGRIA: bairro e córrego afluente do ribeirão Jataí distante cerca de oito quilômetros da cidade. Querem alguns que o verdadeiro nome da fazenda geral “Jataí de Baixo” seja esse de Alegria, dado que é lá que se processou uma das primeiras posses nas terras de Juca Boiadeiro hoje pertencente a terceiros. Gostaria de acrescentar que, Juca Boiadeiro era meu avô e seu nome era José Alves Garcia. Permutou sua propriedade em Tanabi com outra em Aparecida do Taboado MS (MT naquela época) onde residiu até falecer, acredito que no início de 1941 pois meu irmão, que é de 17/06/1941 tem o seu nome mas não tem Neto no nome pois o avô havia falecido. Juca Boiadeiro trouxe consigo toda a família, filhos, noras e netos.
ResponderExcluirALEGRIA: bairro e córrego afluente do ribeirão Jataí distante cerca de oito quilômetros da cidade. Querem alguns que o verdadeiro nome da fazenda geral “Jataí de Baixo” seja esse de Alegria, dado que é lá que se processou uma das primeiras posses nas terras de Juca Boiadeiro hoje pertencente a terceiros. Gostaria de acrescentar que, Juca Boiadeiro era meu avô e seu nome era José Alves Garcia. Permutou sua propriedade em Tanabi com outra em Aparecida do Taboado MS (MT naquela época) onde residiu até falecer, acredito que no início de 1941 pois meu irmão, que é de 17/06/1941 tem o seu nome mas não tem Neto no nome pois o avô havia falecido. Juca Boiadeiro trouxe consigo toda a família, filhos, noras e netos.
ResponderExcluirPara ser mais exato, se assim posso dizer pois é o que ouvi pois sou mais novo e nem conheci meu avô, Juca Boiadeiro permutou sua propriedade de Tanabi SP com uma outra que era de propriedade de Joaquim Lucas em Aparecida do Taboado MT (Naquela época) e parte dessa "fazenda" de Aparecida do Taboado, meu avô doou para a Igreja onde foi formado o Patrimônio Bom Jesus e que ficou mais conhecido como Cabajá.
ResponderExcluire ainda mais, meus irmãos mais velhos referiam-se a Jerônimo Fortunato como Tio, não sei realmente qual o grau de parentesco.
Recentemente conversando com meu irmão mais velho, fez 92 anos em
ResponderExcluir28 de junho deste ano, ele disse que Jerônimo Fortunato era genro
de Juca Boiadeiro, meu avô, casado com Maria Alves Garcia, apelidade de Maria Juca, faleceu em Araçatuba SP.
Juca Boiadeiro é avô do meu falecido sogro, Antônio Martins Garcia (Tortéia). Estou fazendo a árvore genealógica da família no site https://www.familysearch.org/ , se puder acrescentar dados lá, vamos aumentando as informações. Qualquer dúvida, me chame no email deboralfg@hotmail.com
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