O
Canário
Lindo canário mimoso
Mavioso
Às horas do sól ardente
Pousado em espessa folhagem
À margem
D’uma límpida corrente.
Ao lado quente ninho,
Com carinho,
Tecido na alta ramada,
Desfere cantos amenos
Serenos
À companheira adorada.
Enquanto a fonte desliza
E a brisa
Suavemente suspira
O passarinho inspirado
Namorado
Faz vibrar a sua lira.
Naquela linda campina
Pequenina
Alcatifada de flores
Eu gosto de ir lá ouvir
Repetir
Aquele trenó de amores!
Fazenda “Lusitânia”.Ribeirão Claro —Ano de 1925.
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“Um Soneto”
Erra minha imperfeita inspiração,
Tanabi, 14 de março de 1929.
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Na passagem do ano 1941—1942
Tanabi, 28 de dezembro de 1941.
Velha Estância
Vergado de áureos pomos
Curral feito de aroeira,
E pelo horizonte vasto
Tem o ar estranhos ritos
A rodar pelas estradas
Mas há uma rodovia
Ribeirão de águas turvas
O cafezal no espigão
Colônias em brancas filas
Quando vem chegando o estio,
Nada há que se compare
E as abelhas em enxame
Na luz azul das estrelas,
É de se ver a poesia
Eis um pequeno retrato
Tanabi, 27 de junho de 1943.
Velha Estância II
De gente humilde o solar.
Tem uma agreste vivenda
Casa Grande: grande lar!
Há, ao lado, um arvoredo,
Onde se vê, descuidado,
Saltitar o passaredo.
Paiol, varanda, cercados;
Pasto de grama rasteira
Onde pascem os cevados.
As suas vozes roufenhas,
Bate pancadas certeiras
O monjolo, lá nas brenhas.
Bela campina se estende;
O gado solto no pasto
Ao bucolismo se rende.
Nos domínios desta estância.
O seu bosque de eucaliptos
Esparge amena fragrância.
Desfilam carros de bois,
Passam tropas e boiadas,
Cavaleiros, dois a dois.
Que transpõe esta região,
Rodam autos à porfia
Motorizando o sertão.
Nela desliza, de manso;
Infinitas são as curvas
Que descreve, em seu remanso.
Pelas “colônias”, em filas,
Fruindo dos céus as graças
Vivem famílias tranqüilas.
Nessas terras de aluvião,
Mas delas os homens auferem
Fartas messes: o seu pão!
Domina todo o planalto,
E o milharal, em pendão,
Ergue ramas para o alto.
Os passarinhos, em bando,
Pressentindo vir o frio,
Emigram, tagarelando.
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No álbum de Julinho
Ninguém as lerá com gosto,
Não são mais que rudes provas
Causando, a quem ler, desgosto.
Pra amenizar o meu fado,
Gotas de alma nelas ponho
Tendo as Musas a meu lado.
E versos nobres escreva,
Cante aqui a sua raça,
Quem for poeta se atreva.
Nestes versos desiguais,
Meus votos que sempre sejas
Um artista e... nada mais.
Na trilha das boas sendas,
Sigas sempre, com ardor,
Te chegar onde pretendas.
Arte, fama e nomeada,
Conquistes, impaciente,
Para outras escaladas.
Em suas folhas de ouro,
Triunfante, folha a folha,
De sonhos, rico tesouro.
São as flores —ilusões,
Espargindo, até o fim.
Meu solar de solitário,
Sinto manto da saudade
Envolver-me num sudário.
Tem ela vários matizes,
É sua expressão eterna:
“Gosto amargo de infelizes”.
Trazer lembranças à mente,
Se agruras pode embalar
Ledos prazeres consente.
Que em nosso peito se asila,
Tudo nela se reveste
De nostalgia tranqüila.
Que saudades não sentiu?
Ninguém escapa a seu fado,
Quem isso negar mentiu!
Foi poeta sem sentir,
Inspirou-se na verdade,
Fez um poema eclodir.
Que nos distingue dos brutos,
Viceja no pensamento,
No coração traz os frutos!
Que nossa língua opulenta
Traduz aquilo que encanta,
Que magoa, e fere e alenta!
Mundo Novo
Não conheço essa cidade,
“Garça-branca” —Guiratinga,
Missioneiro da cultura
Quero ver esse mensário
Tanabi, 29 de março de 1947.
Retrato
*
Para Luzia Alves Pereira no dia feliz deseu aniversário natalício.
Tanabi,
17 de janeiro de 1957.
À
Elizabeth
Tanabi, 30 de julho de 1958.
Trovas sem estro
*
Estes versos foram compostos para o álbumda poetisa Dagmar Aparecida Pesciotto.
Tanabi, 30 de novembro de 1958.
Sete de Setembro
Dom Pedro, num gesto forte,
Gritou, com voz estentórica:
- “Independência ou Morte!
Linguagem da mocidade,
Conquistou para o Brasil
Os foros de liberdade.
Bonifácio, Clemente, Ledo,
Todos foram sobranceiros,
Na luta enorme, sem medo.
É livre, não mais escrava.
Quer na paz e quer na guerra,
Jamais deixou de ser brava.
Estas novas gerações,
O Brasil, seu destemor,
No concerto das nações.
Redenção dum Brasil novo,
De nobre civismo imanta
Os destinos de seu povo.
José de Anchieta
Foi bom, foi justo, portanto,
Foi um mestre pacifista
Merece as honras de um santo!
O fundador, no planalto,
Um santo herói de batina,
Eleva a Deus, muito alto,
Os corações em surdina.
Tanabi, 9 de junho de 1970.
Jogos Florais —O Amor
Para o alto nos conduz,
As nossas faltas redime
Com seu eflúvios de luz.
Nunca se dá por vencido;
Quem fala que amor não sente
Digo logo: é convencido.
Ao amor pagou tributos,
Nunca jamais esqueceu
O amargar de seus frutos.
Dele só gozou carinhos,
Jamais sentiu os estragos
Causados por seus espinhos.
Por certo tenta enganar;
O amor dura um instante,
Cede ao tédio seu lugar!
Hino da cidade de Cosmorama —SP
Música e Arranjo: Maestro Silvio
Bertoz.
Tens um risonho porvir;
Teu nome já ganhou fama,
Visão de glorioso sorrir.
Cosmorama, fartas messes
Semelham pomos de ouro
Como luzidas quermesses
De teu progresso o tesouro.
Cosmorama, a condestável,
Cheia de glória e encantos,
É uma cidade adorável,
Embalada de acalantos.
Belo rincão varonil,
Cosmorama segue ovante,
Um pedaço do Brasil
Nesta terra bandeirante,
Vencendo renhida luta
O coração a exultar,
Eis a cidade impoluta
Cabe inteira num altar.
E aos antigos fundadores
Desta nesga do sertão,
Rendamos nossos louvores
A essa gente de então.
Que esta terra pioneira
Tenha dias de esplendores,
Merece, a terra faceira,
O hino dos vencedores.
Tanabi, década de 80.
Ode a Cosmorama
Tanabi, 7 de novembro de 1980.
Saudade
Saudade, palavra terna,
Ter saudade é recordar,
A saudade é dom celeste
Qual foi o mortal ousado
Quem inventou a saudade
A saudade é sentimento
Palavra sonora e santa
*
Este poema está inserto no livro “A Nova Poesia Brasileira”,da Shogun Editora e
Artes L.T.D.A de Belém.
O amor
O amor é exigente,
Quem penas de amor sofreu
Quem teve do amor afagos
Tanabi, 31 de agosto de 1938.
Cantigas de vários estilos
11 - São Gonçalo de Amarante
Nunca foi pra brincadeiras,
São todas as moças
chibantes,
Todas as velhas casadeiras.
12 - Garibaldo já morreu,
Foi dar contas para Deus
Da cachaça que bebeu,
Da farinha que comeu.
13 - Briguei com minha
mulher
Por um torresminho frito,
Gritei por Nossa Senhora,
Respondeu São Benedito.
14 - De Lisboa me mandaram
Um presente com seu molho:
As costelas de uma pulga
E o coração de um piolho.
15 - Chique-chique é pau de
espinho
Imburana é pau de abelha,
Calça é roupa de homem
Remédio de negro é peia.
16 - -Baiana, que é do
pandeiro?
-Do pandeiro não sei eu...
-Quero conta do pandeiro,
Pandeiro não era meu.
17 - Mulata, suspende a
saia,
Não deixe a renda arrastar,
Que a renda custou dinheiro,
Dinheiro custou ganhar.
18 - Viva o cravo, viva a
rosa,
Viva a flor da laranjeira;
Viva o dono desta casa
Com sua família inteira.
19 - Quando eu vim da minha
terra,
Muita gente me beijou,
O diabo d’uma velha
Muita praga me rogou.
20 - Contratei meu casamento
Co’uma moça do sertão;
O defeito que ela tinha
Era papo de cordão.
21 - Se teu pai fosse rico
E tivesse um negócio,
Eu me casava contigo
E o negócio era nosso.
22 - Garrafão tem fundo
largo,
Botija não tem pescoço,
Pedaço de telha é caco,
Banana não tem caroço.
23 - Eu mandei para a Bahia
Um presente num canudo;
Uma velha descascada,
Um velho com casca e tudo.
24 - Eu tinha um chapéu de
palha
Que custou mil e quinhentos;
Quando o tenho na cabeça,
Quatro, cinco casamentos.
25 - Semeei no meu quintal
Uma semente de repolho,
Nasceu uma velha careca
Com uma pipoca no olho.
26 - Eu vendi minha mulher
A troco de dois porquinhos;
Sem mulher a gente passa,
Mas não passa sem toucinho.
27 - Vou mandar fazer uma
casa
De vinte e cinco janelas,
Para morar moça branca,
Mulata, cor de canela.
28 - Cachorro que engole
osso
Nalguma coisa se fia,
Faz muito bem para a guela
Quando a comida é macia.
29 - Candeeiro de dois
bicos,
Ilumina este salão,
Eu tenho amor escondido
Quero ver que jeito dão.
30 - Lá vem a lua saindo
Redondinha como vintém,
Inda não somos casados
Já nos dão os parabéns.
31 - Quem quiser moça bonita
Bote um laço na vereda,
Inda ontem peguei uma
De olhos de labareda.
32 - Estas meninas de agora
Não sabem senão casar,
Põem a panela no fogo,
”Mamãe, venha temperar” .
33 - Nem tudo que luz é
ouro,
Nem tudo o que é feio é mau,
Quem não tem o que fazer
Vá fazer colher de pau.
34 - Uma cigana me disse,
Confirmo que seja assim:
Quer comigo falar de outro
A outro fala de mim.
35 - Quem parte não se
despede
Quem fica não se visita,
Mas o dever de quem parte
É despedir de quem fica.
36 - Cabelo no queixo é
barba,
Nó na garganta é gogó;
Quem tem dois olhos tropeça,
Que dirá quem tem um só.
37 - Pinheiro, dá-me uma
pinha,
Roseira, dá-me um botão;
Morena, da me um abraço
Que eu te dou meu coração.
38 - Minha pombinha branca,
Gavião quer te comer:
A poder de pólvora e chumbo
Gavião há de morrer.
39 - Já fui galo, já cantei,
Já fui dono do poleiro;
Já tive amores de graça,
Agora nem por dinheiro.
40 - Lenço branco é
casamento,
Eu não me quero casar;
Quero ficar solteirinho
Para as moças namorar.
41 - Tenho aqui uma garrucha
Carregada até no meio
Pra matar moça bonita
Que namora moço feio.
42 - Marinheiro, pé de
chumbo,
Calcanhar de frigideira:
Quem te deu a ousadia
De casar com brasileira?
43 - Choram as árvores do
campo
E as flores de mim tem dó;
Pai e mãe é muito bom,
Barriga cheia é melhor.
44 - Da mulher eu quero o
sim,
Do homem quero o despacho;
Das vacas, bezerras fêmeas,
E, das éguas, poldros
machos.
45 - A galinha e a mulher
São bichos interesseiros,
A galinha pelo milho,
A mulher pelo dinheiro.
46 - Eu sou cabra perigoso
Quando pego a perigar,
Eu mato sem fazer sangue,
Engulo sem mastigar.
47 - Os galos são enredeiros
De quem anda fora de horas;
Galo não anda a cavalo
Mas anda sempre de esporas.
48 - Correr atrás de boi
grande,
Pedir a quem pode dar;
Quem tem dois, pode dar um,
Quem tem um, fica sem par.
49 - Você diz que me quer
bem,
Haveremos de saber;
Onde há fogo tem fumaça,
Quem quer bem logo se vê.
50 - Eu vi um cego
escrevendo
E vi um mudo anotando,
Vi um surdo de abelhudo,
No mato estava escutando.
51 - Quando eu era
pequenino,
Eu era pastor de ovelhas,
Achava ninhos com ovos,
Passarinhos com orelhas.
52 - Quem de meu peito saiu
A ele não mais voltou,
Não venha pois com piedade,
Meu coração se fechou.
53 - Cavalo de gente rica
É de passo e andadura,
E a égua magra do pobre,
Só calombo e pisadura.
54 - O rico, quando quer
peixe,
Vai na cidade à procura,
O pobre pega na vara
E sai de noite às escuras.
55 - De manhã cedo que saio
Sou gente de meus trabalhos,
Em qualquer lugar que fico
É só pra jogar baralhos.
56 - Adeus Crato, adeus
Barbalha,
Adeus Barra-de-Jardim;
Adeus Porteira-de-Fora,
Adeus Quixeramobim.
57 - Moreninha, moreninha,
Você está me tapeando;
Você está “caçando” jeito
De sair daqui chorando.
58 - Você diz que vai
embora,
Tenho pena de você,
Encomendei a São Bento
Pra cobra não te morder.
59 - Tomara que eu não me
case
Com mulher velha e amarela,
Ela vira um lobisomem
Vai me passar na ”moela”.
60 - Menina, dá-me esse lenço
Pela fresta da janela,
Tua mãe é muito brava,
De uma volta, engane ela.
61 - Alecrim deram por
prenda
Por ser da folha miúda,
Foi só pra experimentar
Se meu coração não muda.
62 - Lá no céu tem três
estrelas,
Todas três perto da lua;
Quem chora por seu amor
Não tem vergonha nenhuma.
63 - Eu mandei fazer uma
peia
Pra peiar de pé e mão,
Pra prender homens casados,
Solteiros não quero não.
64 - Abaixa, limão, abaixa,
Quero sentar-me em teus
galhos;
Quando estiver assentado
Contarei os meus trabalhos.
65 - Fita estreita no
cabelo,
Fita larga na cintura,
Espartilho apertado,
Oh! que linda criatura.
66 - Este grão que eu
amassei
Vejo que estais a amassar;
Quando eu chorava,ela ria,
Vejo ela agora a chorar.
67 - Deus te salve, lua
nova,
Deus te salve e São Vicente,
Dêem vista para meus olhos
E saúde pra meus dentes.
68 - Laranjeira da ciência,
Quantas laranjas nos deu;
Umas caíram maduras,
Outras meu amor comeu.
69 - Este amor é o diabo
Em figura de mulher,
Tendo a corda no pescoço
Ele vai onde ela quer.
70 - Com flores de
laranjeira
Eras noiva e fui te ver...
Mas tu julgas que essas
flores
Possam milagres fazer?
71 - Já fui cravo no
craveiro,
Já fui rosa no jardim,
Já fui querida de todos,
Todos gostaram de mim.
72 - Que olhinhos são
aqueles
Que estão na porta do meio?
São olhos de meu benzinho,
Iluminam como espelho.
73 - À noite sonho contigo
E no sonho estou te vendo,
Não te tiro dos sentidos,
Disso nunca me arrependo.
74 - Rosa branca não tem cor
Por isso é tão disfarçada,
Água fria bem corrente
Eu bebi de madrugada.
75 - Rosa branca é criminosa
Da raiz até nos brotos;
Eu não sei o que é que tenho
Sempre tomo amor de outros .
76 - Essas mocinhas de agora
Que usam duas fitinhas,
Quando vão nalgum cinema,
São baú de almofadinhas.
77 - Lá no céu ’tá
trovejando
Não será para chover;
O meu bem está doente
Não quero que vá morrer.
78 - Me chamaram eu de negro
De cabelo pixaim,
Eu sou negro, na verdade,
Fui criado em bom jardim.
79 - Disseram-me as
laranjeiras
Por ti, morena de fama,
Que quando nós nos casarmos,
Enfeitarão nossa cama.
80 - Arreei o meu cavalo,
Fui fazer o meu passeio,
Fui visitar as morenas
Naquela rua do meio.
81 - É a palavra do dia,
Quem cai na rua é borracho,
Não se diz que é bebedor:
Tropeçou n’algum capacho.
82 - Se o casal tem vida boa
A do solteiro melhor é;
Do casado —prata fina,
E do solteiro —ouro em pé.
83 - Lá vem a lua saindo,
Pintando flores na rama,
Mesmo assim pinta a saudade
No coração de quem ama.
84 - O nambu come na baixa,
Juriti no tabuleiro,
Menina, me dá um abraço,
Para o amor eu sou ligeiro.
85 - Meu senhor dono da
casa,
Feche as portas e a luz,
Estamos co’o diabo em casa,
Só rezando o credo-em-cruz.
86 - Senhora dona de casa,
Ponha azeite na candeia,
Mas perdoe o atrevimento
De mandar na casa alheia.
87 - Adeus, centro de
firmeza
Adeus, flor de Alexandria,
Se a fortuna me ajudar,
Nós nos veremos um dia.
88 - As moças lá do Lameiro
Untam de banha o cabelo,
Saem à porta da rua
Namorar os cambiteiros.
89 - Quando eu era galo novo
Comia milho na mão,
Agora sou galo velho,
Bato co’o bico no chão.
90 - Eu queria, ela queria,
Eu pedia, ela negava;
Eu chegava, ela fugia,
Eu fugia, ela chorava.
91 - Tenho aqui minha viola
De tampo de jurubeba,
Todo “cabra” que não dança
Tem os pés de tatu-peba.
92 - Eu fui em Itararé
Beber água - não achei;
As línguas já estão falando
Que fui lá, mas não cheguei.
93 - Retire esta brasa viva
Que ela já está me
queimando,
Retire este amor de perto
Que o de longe está
chegando.
94 - Quando estou no meu
destino,
Não sinto calor nem frio,
Mas fico todo assanhado
Como jandaia no milho.
95 - Quando houver festa por
lá
Convidado também sou
Pra cantar modas sentidas
Que meu amor me ensinou.
Tanabi, 1 de julho de 1947.
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