Construção

O presente trabalho visa ilustrar a história de Tanabi.
Autor: Terso Marcel Mazza

Sebastião Almeida Oliveira - Poemas

O  Canário

Lindo canário mimoso
               Mavioso
Às horas do sól ardente
            Pousado em espessa folhagem
                 À margem
D’uma límpida corrente.
  
Ao lado quente ninho,
               Com carinho,
Tecido na alta ramada,
  Desfere cantos amenos
               Serenos
À companheira adorada.
 
 
Enquanto a fonte desliza
               E a brisa
Suavemente suspira
O passarinho inspirado
               Namorado
Faz vibrar a sua lira.
 
 
Naquela linda campina
               Pequenina
Alcatifada de flores
Eu gosto de ir lá ouvir
               Repetir
Aquele trenó de amores!
 
                                                Fazenda “Lusitânia”.Ribeirão Claro —Ano de 1925. 

_____________*_____________

“Um Soneto”

É meu fito um soneto arquitetar
Para exprimir os pensamentos meus,
E no escrínio da Musa —camafeus
De rimas mui bizarras vou buscar.

        E fico só, então, a meditar
        Idéias mais díspares... Prometheus
        Da inspiração, pelo tonante Zeus
        Encadeados à rocha milenar...

E qual Phenix, agora rediviva,
Das cinzas peregrinas da memória
Ergue o dolente vôo, onde, cativa,

        Erra minha imperfeita inspiração,
        Que em surtos espontâneos de vitória
        Busca atingir maior elevação!

Tanabi, 14 de março de 1929.

----------------*-----------------

Na passagem do ano 1941—1942

Na voragem do passado,
Nas ondas do esquecimento,
Rola o ano malfadado
Da humanidade tormento.

Virá outro ambicionado
Livre de Dor, Sofrimento?
Ou terá o mesmo fado
Do que expira no momento?

Não, nós temos esperança
Que o novo ano há de vir
Pando de amor e bondade,

Pleno de paz e bonança,
E que um glorioso porvir
Nos leve à felicidade.

                      Tanabi, 28 de dezembro de 1941. 


Velha Estância

Eis a querida fazenda
Agora um velho solar,
Larga, espaçosa vivenda,
Casa Grande! Grande lar!

Vergado de áureos pomos
Há um arvoredo ao lado,
São verdadeiros assomos
Verdes, maduros, dourados.

Curral feito de aroeira,
Paiol, varanda, cercados,
Pasto de grama rasteira
Onde pascem os cevados.

E pelo horizonte vasto
Bela campina se estende,
O gado solto no pasto
Ao bucolismo se rende.

Tem o ar estranhos ritos
Nos domínios desta estância.
Seu bosque azul de eucaliptos
Esparge amena fragrância.

A rodar pelas estradas
Desfilam carros de bois,
Passam tropas e boiadas,
Viageiros, dois a dois.

Mas há uma rodovia
De incessante movimento,
Rodam autos à porfia
A competir com o vento.

Ribeirão de águas turvas
Por ela corre de manso,
Infinitas são as curvas
Que ele faz em seu remanso.

O cafezal no espigão
Domina todo o planalto,
Cereais e algodão
Vingam ramas para o alto.

Colônias em brancas filas
Ornam dos vales a margem,
Onde famílias tranqüilas
Dão vida e cor à paisagem

Quando vem chegando o estio,
Os passarinhos, em bando,
Pressentindo vir o frio
Emigram, tagarelando.

Nada há que se compare
Ao nascer do sol aí,
A flor seu perfume exaure
Voa tonto o colibri

E as abelhas em enxame
Sorvem o mel capitoso,
Ninguém há que não exclame:
Como este quadro é formoso!

Na luz azul das estrelas,
Em noites enluaradas,
Não há quem não queira vê-las,
Parecem contos de fadas

É de se ver a poesia
Que existe neste recanto;
Quando está morrendo o dia,
Poderoso é seu encanto.

Eis um pequeno retrato
Do que foi o nosso lar,
Um resumido relato
Daquele velho solar!

Tanabi, 27 de junho de 1943.

_________*__________

Velha Estância II

Eis a opulenta fazenda 
De gente humilde o solar.
Tem uma agreste vivenda
Casa Grande: grande lar!

De pomos doces vergado
Há, ao lado, um arvoredo,
Onde se vê, descuidado,
Saltitar o passaredo.

Velho curral de aroeira,
Paiol, varanda, cercados;
Pasto de grama rasteira
Onde pascem os cevados.

Enquanto rangem porteiras
As suas vozes roufenhas,
Bate pancadas certeiras
O monjolo, lá nas brenhas.

E pelo horizonte vasto
Bela campina se estende;
O gado solto no pasto
Ao bucolismo se rende.

Tem o ar estranhos ritos
Nos domínios desta estância.
O seu bosque de eucaliptos
Esparge amena fragrância.

Ao longe, pelas estradas,
 Desfilam carros de bois,
Passam tropas e boiadas,
Cavaleiros, dois a dois.

Na moderna rodovia
 Que transpõe esta região,
Rodam autos à porfia
Motorizando o sertão.

Ribeirão de águas turvas
Nela desliza, de manso;
Infinitas são as curvas
Que descreve, em seu remanso.

Melting-pot de raças
Pelas “colônias”, em filas,
Fruindo dos céus as graças
Vivem famílias tranqüilas.

Cruas jornadas se ferem
Nessas terras de aluvião,
Mas delas os homens auferem
Fartas messes: o seu pão!

O cafezal, no espigão,
Domina todo o planalto,
E o milharal, em pendão,
Ergue ramas para o alto.

Quando vem chegando o estio,
Os passarinhos, em bando,
Pressentindo vir o frio,
Emigram, tagarelando.

Nada no mundo se iguala
Ao nascer do sol aí;
A flor seu perfume exala,
Voa tonto o colibri.

E as abelhas, em enxame,
Sorvem o mel capitoso,
Ninguém há, que não exclame:
Como este quadro é formoso!

É de se ver a poesia
Que existe neste recanto,
Quando está morrendo o dia
Há em tudo mago encanto!

As lanternas das estrelas,
Em noites enluaradas,
Não há quem não queira vê-las,
Semelham contos de fadas!

Quando a lua vem surgindo,
Pelas frinchas das florestas,
Parece um balão subindo
Em noite linda de festa!

Esta mansão é um sonho
De uma noite de verão;
Ninguém se sente tristonho
No seio desta mansão!

Quis celebrar desta herdade,
As maravilhas que tem,
Não pude, porque a saudade
Tem sortilégio também!

                                              Tanabi, 6 de julho de 1943.

                                                                     _________*_________

No álbum de Julinho

As minhas insossas trovas
Ninguém as lerá com gosto,
Não são mais que rudes provas
Causando, a quem ler, desgosto.

Nestas quadras que componho
Pra amenizar o meu fado,
Gotas de alma nelas ponho
Tendo as Musas a meu lado.

Quem for poeta sem jaça
E versos nobres escreva,
Cante aqui a sua raça,
Quem for poeta se atreva.

Julinho, quero que vejas
Nestes versos desiguais,
Meus votos que sempre sejas
Um artista e... nada mais.

Humilde artista amador
Na trilha das boas sendas,
Sigas sempre, com ardor,
Te chegar onde pretendas.

Que os sonhos de adolescente
Arte, fama e nomeada,
Conquistes, impaciente,
Para outras escaladas.

E que este Álbum acolha
Em suas folhas de ouro,
Triunfante, folha a folha,
De sonhos, rico tesouro.

Pois teu Álbum é um jardim,
São as flores —ilusões,
Espargindo, até o fim.

                           Tanabi, 17 de março de 1944.

                                                                                  ___________*______________

Saudade

Quando a solidão invade
Meu solar de solitário,
Sinto manto da saudade
Envolver-me num sudário.

      Saudade, palavra terna,
             Tem ela vários matizes,
             É sua expressão eterna:
            “Gosto amargo de infelizes”.

    Ter saudade é recordar,
                  Trazer lembranças à mente,
                  Se agruras pode embalar
                   Ledos prazeres consente.

   A saudade é dom celeste
                        Que em nosso peito se asila,
                        Tudo nela se reveste
                        De nostalgia tranqüila.

   Qual foi o mortal ousado
                                Que saudades não sentiu?
                                Ninguém escapa a seu fado,
                                Quem isso negar mentiu!

   Quem inventou a saudade
                                        Foi poeta sem sentir,
                                        Inspirou-se na verdade,
                                        Fez um poema eclodir.

  A saudade é sentimento
                                            Que nos distingue dos brutos,
                                            Viceja no pensamento,
                                            No coração traz os frutos!

  Palavra sonora e santa
                                                    Que nossa língua opulenta
                                                    Traduz aquilo que encanta,
                                                    Que magoa, e fere e alenta!
                                                                      Tanabi, 12 de novembro de 1945.


Mundo Novo

Nos sertões de Mato Grosso
Onde o Garças corre manso,
Há uma cidade em esboço
Da civilização avanço.

Não conheço essa cidade,
Mas de longe a quero bem,
Só quero a felicidade
De vê-la grande também.

“Garça-branca” —Guiratinga,
Sua toponímia expressa.
- “Novo-Mundo” nela vinga,
Alentadora promessa.

Missioneiro da cultura
Dos ameríndios fanal,
Quer homens de vida pura,
A serviço do Ideal.

Quero ver esse mensário
Cada vez mais triunfante,
Qual um novo 
lampadárioJorrando luz ofuscante.
                                                                     Tanabi, 29 de março de 1947.

Retrato

Tem dezoito primaveras
Esta morena catita,
 E sabem todos, deveras,
Como é graciosa e bonita.

Normalista estudiosa
Ao trabalho consagrado
Seu futuro é cor-de-rosa
É por todos estimada.

Vivendo alegre a cantar
Radiante mocidade
Nada poderá empanar
Tão grande felicidade.

Parabéns em profusão
Recebe cheia de gozo,
Em festas o coração
Neste dia luminoso.

Que Deus realize teus sonhos
Seja sempre teu fanal
Faça teus dias risonhos
Sempre afastados do mal.

* Para Luzia Alves Pereira no dia feliz deseu aniversário natalício.

Tanabi, 17 de janeiro de 1957.

À  Elizabeth

Deixou de pintar o sete,
Pois ganhou presente régio; 
A menina Elizabeth
Vai agora pro colégio.

“Bugrinha do Paraná”
Subia, rindo, em mangueira
Lá na escola em Maringá,
Vai agora ser ordeira.

O papai está contente,
A mamãe contente está,
Porque a Bete já sente
Saudades de Maringá

Que você seja feliz
E progrida no estudo,
São os votos que eu quis,
Nestes versos, dizer tudo.

                                             Tanabi, 30 de julho de 1958.

Trovas sem estro

Linda pastora de sonhos
Quer em seu álbum meus versos,
Cheios de alma, risonhos,
Com pensamentos dispersos.

Mas o que pedes, menina,
É para mim um dilema.
Como posso —oh! Minha sina!
Fazer, sem estro, um poema?

Quando teu olhar sublime
Nestas estrofes mirar
Quão grande foi o meu crime
Poderás aquilatar.

Como é belo o teu destino
De poetisa, a cantar!
Transforma a vida num hino
De amor, perene, a sonhar!

Rasga estes versos sem brilho
Poetisa Dagmar,
Sem estro, sem estribilho,
Não se deve poetar.

E lá na bela Campinas
Ao ler estes versos pobres,
Surjam cravos e boninas
Em teu pensamentos nobres!

* Estes versos foram compostos para o álbumda poetisa Dagmar Aparecida Pesciotto.

                                                                                          Tanabi, 30 de novembro de 1958.


Sete de Setembro

Naquela colina histórica,
Dom Pedro, num gesto forte,
Gritou, com voz estentórica:
- “Independência ou Morte!

”Formosa frase viril,
Linguagem da mocidade,
Conquistou para o Brasil
Os foros de liberdade.

Outros grandes brasileiros
Bonifácio, Clemente, Ledo,
Todos foram sobranceiros,
Na luta enorme, sem medo.

Desde então a nossa terra
É livre, não mais escrava.
Quer na paz e quer na guerra,
Jamais deixou de ser brava.

Glorificam seu valor
Estas novas gerações,
O Brasil, seu destemor,
No concerto das nações.

Salve terra sacrossanta,
Redenção dum Brasil novo,
De nobre civismo imanta
Os destinos de seu povo.

Tanabi, 6 de setembro de 1966.
Música do Prof. Silvio Bertoz

José de Anchieta

É mensageiro capaz
E fala a língua geral.
Do índio celebra a paz
Faz o bem, detesta o mal.

Refém do íncola na praia
Versos à Virgem dedica.
Quando o mar a areia espalha
Seu gesto sagrado fica.

Amado santo paulista
Foi bom, foi justo, portanto,
Foi um mestre pacifista
Merece as honras de um santo!

O fundador, no planalto,
Um santo herói de batina,
Eleva a Deus, muito alto,
Os corações em surdina.

                                                         Tanabi, 9 de junho de 1970.


Jogos Florais —O Amor

Amor —um sonho sublime
Para o alto nos conduz,
As nossas faltas redime
Com seu eflúvios de luz.

O amor é exigente,
Nunca se dá por vencido;
Quem fala que amor não sente
Digo logo: é convencido.

Quem penas de amor sofreu
Ao amor pagou tributos,
Nunca jamais esqueceu
O amargar de seus frutos.

Quem teve do amor afagos
Dele só gozou carinhos,
Jamais sentiu os estragos
Causados por seus espinhos.

Quem jurar amor constante,
Por certo tenta enganar;
O amor dura um instante, 
Cede ao tédio seu lugar!

Tanabi, 5 de setembro de 1971.

Hino da cidade de Cosmorama —SP

Música e Arranjo: Maestro Silvio Bertoz.

Cidade de Cosmorama,
Tens um risonho porvir;
Teu nome já ganhou fama,
Visão de glorioso sorrir.

Cosmorama, fartas messes
Semelham pomos de ouro
Como luzidas quermesses
De teu progresso o tesouro.

Cosmorama, a condestável,
Cheia de glória e encantos,
É uma cidade adorável,
Embalada de acalantos.

Belo rincão varonil,
Cosmorama segue ovante,
Um pedaço do Brasil
Nesta terra bandeirante,

Vencendo renhida luta
O coração a exultar,
Eis a cidade impoluta
Cabe inteira num altar.

E aos antigos fundadores
Desta nesga do sertão,
Rendamos nossos louvores
A essa gente de então.

Que esta terra pioneira
Tenha dias de esplendores,
Merece, a terra faceira,
O hino dos vencedores.

                                         Tanabi, década de 80.

Ode a Cosmorama 

Cosmorama, Cosmorama,
Grandioso é o teu porvir,
Teu nome já ganhou fama
Visão de glória a sorrir!

Cosmorama, fartas messes
Semelham pomos de ouro!
Como luzidas quermesses
De teu progresso, o tesouro.

Belo rincão varonil,
Cosmorama segue ovante,
Um pedaço do Brasil
Nesta terra bandeirante!

Vencendo renhida luta,
O coração a exultar,
Eis a cidade impoluta:
Cabe inteira num altar.

E aos antigos fundadores
Desta nesga do sertão,
Rendamos nossos louvores
Por sua dedicação.

Que esta terra pioneira
Tenha dias de esplendores.
Merece, esta clã faceira,
O hino dos vencedores.

E os que chantaram a cruz
Nesta gleba sertaneja
São luminares da luz,
São os santos desta igreja!

                                                          Tanabi, 7 de novembro de 1980.


Saudade

Quando a solidão invade
Meu solar de solitário,
Sinto o manto da saudade
Envolver-me num sudário.

Saudade, palavra terna,
Tem ela vários matizes,
É sua expressão eterna
“Gosto amargo de infelizes”.

Ter saudade é recordar,
Trazer lembranças à mente,
Se agruras pode embalar,
Ledos prazeres consente.

A saudade é dom celeste
Que em nosso peito se asila,
Tudo nela se reveste
De nostalgia tranquila.

Qual foi o mortal ousado
Que saudades não sentiu?
Ninguém escapa a seu fado,
Quem isso negar mentiu!

Quem inventou a saudade
Foi poeta sem sentir;
Inspirou-se na verdade,
Fez um poema eclodir.

A saudade é sentimento
Que nos distingue dos brutos,
Viceja no pensamento,
No coração traz os frutos!

Palavra sonora e santa
Que nossa língua opulenta
Traduz aquilo que encanta,
Que magoa, e fere, e alenta!

* Este poema está inserto no livro “A Nova Poesia Brasileira”,da Shogun Editora e Artes L.T.D.A de Belém. 

O amor

Amor, um sonho sublime
Para o alto nos conduz.
As nossas faltas redime...
Com seus eflúvios de luz.

O amor é exigente,
Nunca se dá por vencido;
Quem fala que amor não sente
Eu digo que é convencido.

Quem penas de amor sofreu
Ao amor pagou tributos,
Nunca jamais esqueceu
O amargor de seus frutos.

Quem teve do amor afagos
Dele só gozou carinhos,
Jamais sentiu os estragos
Causados por seus espinhos.

                                      Tanabi, 31 de agosto de 1938.

Cantigas de vários estilos

1 - Marmelo é  fruta gostosa
Que dá na ponta da vara;
Mulher que chora por homem
Não tem vergonha na cara.

2 - A perdiz anda no campo,
O tatu no formigueiro;
Quem ama mulher casada,
Olho vivo, pé ligeiro.

3 - No tempo que eu te amava,
Rompia cerca de espinho,
Mas hoje pago dinheiro
Pra não ver o teu focinho.

4 - Eu agora vou cantar
Esta minha poesia;
Quem é da terra não morre,
Quem é do céu não se cria.

5 - Cana verde, cana verde,
Foi o diabo que inventou;
O diabo foi pro inferno,
Cana verde aqui ficou.

6 - O papo, para ser papo,
Há de ser de três caroço;
Assim mesmo não é papo,
É enfeite de pescoço.

7 - Amanhã é dia santo,
Dia de Nossa Senhora;
Quem tem roupa vai à missa,
Quem não tem toca viola.

8 - Ribeirão que corre, corre,
No meio faz um remanso;
Só a mão de quem tem sarna
Nunca pode ter descanso.

9 - Quero bem minha mulher
Que não tem comparação;
Faz comida sem gordura,
Lava roupa sem sabão.

10 - Moça bonita é donzela,
Mulher de rei é rainha,
Bacia. de pau, gamela,
Mulher de galo, galinha.

11 - São Gonçalo de Amarante
Nunca foi pra brincadeiras,
São todas as moças chibantes,
Todas as velhas casadeiras.


12 - Garibaldo já morreu,
Foi dar contas para Deus
Da cachaça que bebeu,
Da farinha que comeu.


13 - Briguei com minha mulher
Por um torresminho frito,
Gritei por Nossa Senhora,
Respondeu São Benedito.


14 - De Lisboa me mandaram
Um presente com seu molho:
As costelas de uma pulga
E o coração de um piolho.


15 - Chique-chique é pau de espinho
Imburana é pau de abelha,
Calça é roupa de homem
Remédio de negro é peia.


16 - -Baiana, que é do pandeiro?
 -Do pandeiro não sei eu...
 -Quero conta do pandeiro,
Pandeiro não era meu.


17 - Mulata, suspende a saia,
Não deixe a renda arrastar,
Que a renda custou dinheiro,
Dinheiro custou ganhar.


18 - Viva o cravo, viva a rosa,
Viva a flor da laranjeira;
Viva o dono desta casa
Com sua família inteira.


19 - Quando eu vim da minha terra,
Muita gente me beijou,
O diabo d’uma velha
Muita praga me rogou.


20 - Contratei meu casamento
Co’uma moça do sertão;
O defeito que ela tinha
Era papo de cordão.


21 - Se teu pai fosse rico
E tivesse um negócio,
Eu me casava contigo
E o negócio era nosso.


22 - Garrafão tem fundo largo,
Botija não tem pescoço,
Pedaço de telha é caco,
Banana não tem caroço.


23 - Eu mandei para a Bahia
Um presente num canudo;
Uma velha descascada,
Um velho com casca e tudo.


24 - Eu tinha um chapéu de palha
Que custou mil e quinhentos;
Quando o tenho na cabeça,
Quatro, cinco casamentos.


25 - Semeei no meu quintal
Uma semente de repolho,
Nasceu uma velha careca
Com uma pipoca no olho.


26 - Eu vendi minha mulher
A troco de dois porquinhos;
Sem mulher a gente passa,
Mas não passa sem toucinho.


27 - Vou mandar fazer uma casa
De vinte e cinco janelas,
Para morar moça branca,
Mulata, cor de canela.


28 - Cachorro que engole osso
Nalguma coisa se fia,
Faz muito bem para a guela
Quando a comida é macia.


29 - Candeeiro de dois bicos,
Ilumina este salão,
Eu tenho amor escondido
Quero ver que jeito dão.


30 - Lá vem a lua saindo
Redondinha como vintém,
Inda não somos casados
Já nos dão os parabéns.


31 - Quem quiser moça bonita
Bote um laço na vereda,
Inda ontem peguei uma
De olhos de labareda.


32 - Estas meninas de agora
Não sabem senão casar,
Põem a panela no fogo,
”Mamãe, venha temperar” .


33 - Nem tudo que luz é ouro,
Nem tudo o que é feio é mau,
Quem não tem o que fazer
Vá fazer colher de pau.


34 - Uma cigana me disse,
Confirmo que seja assim:
Quer comigo falar de outro
A outro fala de mim.


35 - Quem parte não se despede
Quem fica não se visita,
Mas o dever de quem parte
É despedir de quem fica.


36 - Cabelo no queixo é barba,
Nó na garganta é gogó;
Quem tem dois olhos tropeça,
Que dirá quem tem um só.


37 - Pinheiro, dá-me uma pinha,
Roseira, dá-me um botão;
Morena, da me um abraço
Que eu te dou meu coração.


38 - Minha pombinha branca,
Gavião quer te comer:
A poder de pólvora e chumbo
Gavião há de morrer.


39 - Já fui galo, já cantei,
Já fui dono do poleiro;
Já tive amores de graça,
Agora nem por dinheiro.


40 - Lenço branco é casamento,
Eu não me quero casar;
Quero ficar solteirinho
Para as moças namorar.


41 - Tenho aqui uma garrucha
Carregada até no meio
Pra matar moça bonita
Que namora moço feio.


42 - Marinheiro, pé de chumbo,
Calcanhar de frigideira:
Quem te deu a ousadia
De casar com brasileira?


43 - Choram as árvores do campo
E as flores de mim tem dó;
Pai e mãe é muito bom,
Barriga cheia é melhor.


44 - Da mulher eu quero o sim,
Do homem quero o despacho;
Das vacas, bezerras fêmeas,
E, das éguas, poldros machos.


45 - A galinha e a mulher
São bichos interesseiros,
A galinha pelo milho,
A mulher pelo dinheiro.


46 - Eu sou cabra perigoso
Quando pego a perigar,
Eu mato sem fazer sangue,
Engulo sem mastigar.


47 - Os galos são enredeiros
De quem anda fora de horas;
Galo não anda a cavalo
Mas anda sempre de esporas.


48 - Correr atrás de boi grande,
Pedir a quem pode dar;
Quem tem dois, pode dar um,
Quem tem um, fica sem par.


49 - Você diz que me quer bem,
Haveremos de saber;
Onde há fogo tem fumaça,
Quem quer bem logo se vê.


50 - Eu vi um cego escrevendo
E vi um mudo anotando,
Vi um surdo de abelhudo,
No mato estava escutando.


51 - Quando eu era pequenino,
Eu era pastor de ovelhas,
Achava ninhos com ovos,
Passarinhos com orelhas.


52 - Quem de meu peito saiu
A ele não mais voltou,
Não venha pois com piedade,
Meu coração se fechou.


53 - Cavalo de gente rica
É de passo e andadura,
E a égua magra do pobre,
Só calombo e pisadura.


54 - O rico, quando quer peixe,
Vai na cidade à procura,
O pobre pega na vara
E sai de noite às escuras.


55 - De manhã cedo que saio
Sou gente de meus trabalhos,
Em qualquer lugar que fico
É só pra jogar baralhos.


56 - Adeus Crato, adeus Barbalha,
Adeus Barra-de-Jardim;
Adeus Porteira-de-Fora,
Adeus Quixeramobim.


57 - Moreninha, moreninha,
Você está me tapeando;
Você está “caçando” jeito
De sair daqui chorando.


58 - Você diz que vai embora,
Tenho pena de você,
Encomendei a São Bento
Pra cobra não te morder.


59 - Tomara que eu não me case
Com mulher velha e amarela,
Ela vira um lobisomem
Vai me passar na ”moela”.


60 - Menina, dá-me esse lenço
Pela fresta da janela,
Tua mãe é muito brava,
De uma volta, engane ela.


61 - Alecrim deram por prenda
Por ser da folha miúda,
Foi só pra experimentar
Se meu coração não muda.


62 - Lá no céu tem três estrelas,
Todas três perto da lua;
Quem chora por seu amor
Não tem vergonha nenhuma.


63 - Eu mandei fazer uma peia
Pra peiar de pé e mão,
Pra prender homens casados,
Solteiros não quero não.


64 - Abaixa, limão, abaixa,
Quero sentar-me em teus galhos;
Quando estiver assentado
Contarei os meus trabalhos.


65 - Fita estreita no cabelo,
Fita larga na cintura,
Espartilho apertado,
Oh! que linda criatura.


66 - Este grão que eu amassei
Vejo que estais a amassar;
Quando eu chorava,ela ria,
Vejo ela agora a chorar.


67 - Deus te salve, lua nova,
Deus te salve e São Vicente,
Dêem vista para meus olhos
E saúde pra meus dentes.


68 - Laranjeira da ciência,
Quantas laranjas nos deu;
Umas caíram maduras,
Outras meu amor comeu.


69 - Este amor é o diabo
Em figura de mulher,
Tendo a corda no pescoço
Ele vai onde ela quer.


70 - Com flores de laranjeira
Eras noiva e fui te ver...
Mas tu julgas que essas flores
Possam milagres fazer?


71 - Já fui cravo no craveiro,
Já fui rosa no jardim,
Já fui querida de todos,
Todos gostaram de mim.


72 - Que olhinhos são aqueles
Que estão na porta do meio?
São olhos de meu benzinho,
Iluminam como espelho.


73 - À noite sonho contigo
E no sonho estou te vendo,
Não te tiro dos sentidos,
Disso nunca me arrependo.


74 - Rosa branca não tem cor
Por isso é tão disfarçada,
Água fria bem corrente
Eu bebi de madrugada.


75 - Rosa branca é criminosa
Da raiz até nos brotos;
Eu não sei o que é que tenho
Sempre tomo amor de outros .


76 - Essas mocinhas de agora
Que usam duas fitinhas,
Quando vão nalgum cinema,
São baú de almofadinhas.


77 - Lá no céu ’tá trovejando
Não será para chover;
O meu bem está doente
Não quero que vá morrer.


78 - Me chamaram eu de negro
De cabelo pixaim,
Eu sou negro, na verdade,
Fui criado em bom jardim.


79 - Disseram-me as laranjeiras
Por ti, morena de fama,
Que quando nós nos casarmos,
Enfeitarão nossa cama.


80 - Arreei o meu cavalo,
Fui fazer o meu passeio,
Fui visitar as morenas
Naquela rua do meio.


81 - É a palavra do dia,
Quem cai na rua é borracho,
Não se diz que é bebedor:
Tropeçou n’algum capacho.


82 - Se o casal tem vida boa
A do solteiro melhor é;
Do casado —prata fina,
E do solteiro —ouro em pé.


83 - Lá vem a lua saindo,
Pintando flores na rama,
Mesmo assim pinta a saudade
No coração de quem ama.


84 - O nambu come na baixa,
Juriti no tabuleiro,
Menina, me dá um abraço,
Para o amor eu sou ligeiro.


85 - Meu senhor dono da casa,
Feche as portas e a luz,
Estamos co’o diabo em casa,
Só rezando o credo-em-cruz.


86 - Senhora dona de casa,
Ponha azeite na candeia,
Mas perdoe o atrevimento
De mandar na casa alheia.


87 - Adeus, centro de firmeza
Adeus, flor de Alexandria,
Se a fortuna me ajudar,
Nós nos veremos um dia.


88 - As moças lá do Lameiro
Untam de banha o cabelo,
Saem à porta da rua
Namorar os cambiteiros.


89 - Quando eu era galo novo
Comia milho na mão,
Agora sou galo velho,
Bato co’o bico no chão.


90 - Eu queria, ela queria,
Eu pedia, ela negava;
Eu chegava, ela fugia,
Eu fugia, ela chorava.


91 - Tenho aqui minha viola
De tampo de jurubeba,
Todo “cabra” que não dança
Tem os pés de tatu-peba.


92 - Eu fui em Itararé
Beber água - não achei;
As línguas já estão falando
Que fui lá, mas não cheguei.


93 - Retire esta brasa viva
Que ela já está me queimando,
Retire este amor de perto
Que o de longe está chegando.


94 - Quando estou no meu destino,
Não sinto calor nem frio,
Mas fico todo assanhado
Como jandaia no milho.


95 - Quando houver festa por lá
Convidado também sou
Pra cantar modas sentidas
Que meu amor me ensinou.


96 - Descobrir o meu segredo
E desvendar meu amor,
Descobrir o meu segredo
Não é fácil, não senhor.

97 - Mandei fazer uma casa
Bem feita, por fora não;
Por dentro, cravos e rosas,
Por fora, manjericão.

98 - Lá vem a lua saindo
Por detrás do cemitério;
Se não me deres um beijo,
Teu amor também não quero.

99 - As folhas do pessegueiro
De tão verde amarelaram,
Os beijos de meu amor
De tão doce açucararam.

100 - Quero cantar, ser alegre,
Que a tristeza não faz bem;
Inda não vi a tristeza
Dar de comer a ninguém.

  Tanabi, 1 de julho de 1947.







 

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